ARIANO SUASSUNA, ESCRITOR DE TANTA VIDA
Resolvi sempre falar
Deste gentil Ariano
Um cabra de baita força
De talento paraibano
Que se foi no mês agosto
Trazendo tanto desgosto
Naquele terrível ano.
Vamos contar este causo
Do chão que nos dá comida
Paraíba tem o filho
Vivente dessa guarida
Sempre tem quem lhe carregue
Leitura que nunca negue
Escritor de tanta vida.
Palácio da Redenção
Num bom discurso plausível
Ariano Suassuna
Tem espírito sensível
Um sonho de ver o mundo
No fugir mais que profundo
Do seu papel invencível.
Para tentar ser sabido
Expando meus movimentos
Ariano Suassuna
Perde pai nos pavimentos
Foi no Rio de Janeiro
Assassinato traiçoeiro
Desditas dos sofrimentos.
Vai morar numa fazenda
Escreve dramaturgias
Taperoá foi refúgio
Olhos em melancolias
Sertanejo é valente
Tão forte no seu batente
Entre Josés e Marias.
Quem dará água pro povo?
Taperoá perguntou
Mataram sede da terra
Cariri todo gostou
Naquele lar tem passeio
Nesse semblante do seio
Ariano conquistou.
Fostes habitar tão perto
Nas terras de coronéis
És luz pras eternidades
O menino dos papéis
Em torno de tantas obras
Aproveitastes das sobras
Pra crescer teus carretéis.
Essa língua é do povo
Que quer fazer a viagem
Andar de cavalo brabo
Olhando bem a paisagem
Vendo seu bode berrando
Soube lutar enfrentando
Comendo flor da coragem.
Temos que correr depressa
Tomar leite de cabrita
No terreiro desse Mestre
Daquela fiel escrita
Tem galinha no poleiro
E cinto de cangaceiro
Deitado na longa fita.
Chegar naquele Recife
Dessa terra Paraíba
De noite na madrugada
Recordando macaíba
Soltar bondades nas rimas
No sinal que lhes animas
Nos viés daqui de riba.
Auto da Compadecida
Nas velas da tal ciência
Feitos nessa gentil arte
Haja dele paciência
Tanto faz nesta cidade
Terra de prosperidade
Pra fazer independência.
Nosso grande dramaturgo
A peça lhe traz sucesso
Não desafore, meu Mestre
Naquele papel impresso
Senhor não topa mentira
Tremendo cordel inspira
Gabinete do progresso.
João Grilo presepada
É bom logo dar o fora
Escrever mais uma peça
No cavalo sem espora
Nordeste todo lamenta
Amarguras da pimenta
Nos rastros duma caipora.
Monte neste seu cavalo
Vendo bodes na fazenda
Tão somente desta vez
Se tropeçar nem ofenda
Paraíba sempre tua
Nesta vasta linda rua
Mulheres fazendo renda.
O cheiro das tuas letras
É hálito nordestino
Leiam as obras do Mestre
É nosso grande destino
Arte é ter atitude
Este senhor tem virtude
É padre tocando sino.
Nosso forte menestrel
Tudo tem recriação
Falo com toda certeza
Do Mestre desta Nação
Numa rima decifrada
É mote que dá pitada
Nas terras deste sertão.
Voltando do seu Nordeste
Nos ranchos que dão regaço
Tem gastronomia forte
Paga sem ter embaraço
Faça sol na nossa terra
Na chuva que vem da serra
Cabe no fértil espaço.
Da semente tabajara
Flechas das revoluções
Artesanato das rendas
Vendidas pelas nações
Fique na paz, Grande Mestre
No cheiro que jaz campestre
Ariano das paixões.
Só tem loucura no mundo
Por haver os escritores
Há como vir escapar
Ariano dos doutores
Arte numa simples prosa
Das faces da linda Rosa
Pros ensinos dos senhores.
Seu lugar de cavaleiro
São falas em Itabuna
Não sabemos de quem é
Ariano Suassuna
Se falo vem calafrio
O calor faz arrepio
Numa gruta do Pavuna.
Neste caminho que passa
Não quebra jacarandá
Um mar numa calmaria
Aplausos vão te chamar
Um imortal gente fina
Saber ler nos determina
Escritos do recriar.
Precisamos refletir
Num lugar de Cabrobó
Façam lucro, sertanejo
Escrevam sobre mocó
Pro guerreiro cuidar
Depressa pra caminhar
Por dentro daquele nó.
Os céus vivem nos escuros
É cedo pra guarani
Entre na Pedra do Reino
Pra mente desentupir
Fique com a nossa gente
Não fuja tão de repente
Com texto pra consumir.
O cordel cresce de fato
Nas cidades do Nordeste
Um riso de cordelista
Tal qual um cabra da peste
Por tudo que não se queira
Nortista vira parteira
Não teremos quem conteste.
Lá longe nós avistamos
Nesse tronco sertanejo
Tem alma do grande Mestre
E tudo que te desejo
Passe por lá na cidade
Pois, plante toda bondade
Nessas estradas que vejo.
Está distante daqui
Relembrando temporais
Toda matéria é vida
Vivente dos ancestrais
Vais pescar numa canoa
Tem peixe vindo na proa
Com seus sons celestiais.
Que desgosto literário
Se fez o grande dilema
Imortal dos imortais
Artista desse sistema
Um escritor respeitável
De mente bem memorável
A leitura do problema.
Só peço com precisão
Nesse livro da memória
Respeitem com o fervor
Autor de tanta glória
Que também tem elogios
Trazidos nesses navios
Vindos pela fiel história.
Já viajastes por tudo
Não queres lembrar da morte
Nesta rima grande Mestre
Tu tens é bastante sorte
Escrever és de primeira
Por detrás dessa porteira
Nos versos que te conforte.
2014 fica
Sendo dito tenebroso
E tão tristonho fiquei
Tal qual o Mané Gostoso
Ariano tantas vidas
Das palavras refletidas
No teatro tenebroso.
O verso da tua pena
Dar enredo pra colheita
Não se ligue nas estrofes
No recital és receita
Paulista tem sepultura
Dentro dela tem cultura
Taperoá lá se deita.
Findamos este folheto
Feito para menestrel
Na devoção deste povo
Ariano faz plantel
Nos discursos da tribuna
Ler nos desponta fortuna
Dando valor pro cordel.
FIM
João Pessoa-PB, 20 de setembro de 2014.