Terrível Banquete

(sextilhas – esquema variado)

I

Conheci um cachorrinho

Lá pertinho do condado

Jogado pelas calçadas

Pobrezinho, abandonado

Se ninguém lhe dava nada

Não latia, era calado.

II

Pobre, esganido de fome

Um sibito mirradinho

Mais fraco que borboleta

Tão carente de carinho...

Foi parar numa bodega:

Uma barraca de vinho.

III

O nome dele era Jole

- Que bichinho inteligente! –

Esperava no terreiro

Os restos daquela gente

Que frequentava a bodega

Alheia ao pobre indigente.

IV

Um certo dia, cansado

De esperar, talvez, um osso

Jole viu sair da casa

Um cambaleante moço

Que parecia estar grogue

Lascado até o pescoço.

V

O rapaz não se aguentava

De pé, por tanta bebida

A roupa suja e mijada

Cobria um traço de vida

E o Jole se aproximou

Daquela imagem sofrida.

VI

O bêbado começou

A passar mal na calçada

O Jole lhe pastorando

Não podia fazer nada

Só protegia o coitado

De perigos e cilada.

VII

Logo o rapaz vomitou

Desmaiou com forte cheiro

A calçada ficou suja...

O Jole, bom companheiro

Começou a lamber tudo

Como um maná verdadeiro.

VIII

O bêbado ali dormiu

O Jole dormiu também

Parecendo companheiros

Que muito se querem bem

Não era o melhor da vida

Mas era cuidar de alguém.

IX

E assim, o Jole aprendeu

Que ficar ali por perto

Era a chance de comer

Um petisco nobre e certo

E ele até mesmo engordou

E tinha um latido aberto.

X

Mas no dia que ninguém

Bebia, corria o risco

De urrar de fome e de sede

Porém não fuçava o cisco

Esperava na calçada

Aparecer um petisco.

XI

Devagar outro problema

Foi surgindo para o Jole:

Não era fome de nada

Mas dentro fazia fole

O vício que se instalava

Deixava o bichinho mole.

XII

A fama de bebedor

De cachorro vagabundo

Que adotou porta de bar

Como seu perfeito mundo

Se espalhou pela cidade

E foi ficando mais fundo.

XIII

Tempos depois ficou mal

Não apareceu no bar

Foi encontrado num canto

Bem magrinho a vomitar

A bebida lhe afetou

Não pode mais caminhar.

XIV

Os bêbados da cidade

Nada puderam fazer

Por aquele companheiro

Que logo iria morrer

Cada qual com sua sina

E seu modo de viver.

XV

E foi assim que se deu...

- A saga não me escapole –

O vômito foi cilada

Que depois provoca fole:

Quando alguém chamava o juca,

Dava de comer ao Jole.

(02.2.2012)

Jarrê
Enviado por Jarrê em 04/09/2022
Código do texto: T7598044
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