A peleja de Dom Quixote e Lampião
Composto no estilo Galope à beira mar
D. Q
Eu sou o cavaleiro da triste figura
que contra os moinhos ergue a sua espada
que ataca sem dó alguma boiada
e em Dulcineia meu olhar fulgura.
Posso não existir mas tenho a pura
certeza de a muitos poder inspirar
Eu sou o poeta que vive a sonhar
e o louco que habita aqui dentro da gente
Supero em mil ao meu oponente
Cantando galope na beira do mar.
L
Eu sou o sertanejo que viveu a vida
buscando justiça na base da bala.
Lá no nordeste o povo é que fala
que eu tenho a braveza da gente sofrida
E a minha existência foi toda medida
Pelos meus feitos em todo o lugar
Apois, se você ousar desafiar
Com sua lorota esse cabra da peste
Vai ver com que sol se faz o nordeste
Cantando galope na beira do mar
D Q
Também em Castela o sol é ardido
e as plantações demoram nascer
os rios são poucos, dá pena de ver
E o povo de lá também é sofrido.
Debaixo do sol também fui curtido
e o peso das armas eu sei carregar
Portanto seus gritos não vão me assustar
que eu tenho por mim minha Dulcineia
que mandou eu dar-lhe um monte de pêia
Cantando galope na beira do mar.
L
Não temo suas armas pois são muito antigas
e o seu cavalo parece um estrupicio
Melhor lhe seria parar num hospício
ou ir se limpar com um monte de urtiga.
E já que me fala dessa sua amiga
Se quiser, disponha de me apresentar
que Maria Bonita não vai se importar
que aqui no meu bando tem mulher rendeira
enquanto as daí são tudo fuleira
Cantando galope na beira do mar.
D. Q
Já vi que enviado és do Satanás!
De um mago inimigo a me aborrecer.
Só pode ser doido ou querer morrer
agora perdido eu sei que estás.
Que tudo que eu quero é viver em paz
Mas o meu descanso é o pelejar
E o meu cavalo não vai me deixar
E trago aqui meu fiel escudeiro
O Sancho me segue assim companheiro
Cantando galope na beira do mar
L
Eu tenho meu bando pra mais de trinta
São cabras de fibra, são fibras de morte.
Não erre seu verso, não perca seu mote
Que você apanha de percata e de cinta
A pisa que eu dou, tu lembra até quinta
e minha espingarda tu vai ver brilhar
Eu sou Lampião, mas pode chamar
o clarão do pipoca, o som do trovão,
não tenho medo e ainda assusto o cão
Cantando Galope na beira do mar.
D.Q
O meu escudeiro é muito medroso
já tá se tremendo e pedindo arrego
o home não mas nenhum sossego
só come e dorme e é preguiçoso.
Eu tenho a ousadia de bicho teimoso
Nenhum inimigo vai me afugentar
que o bálsamo mágico trago no borná
que ele me cura todas as ferida
ainda que dê uma dor de barriga
cantando galope na beira do mar.
L
Eu tenho bornal de fita enfeitado
fui eu que fiz mais Maria Bonita
é todo de cores e elas se agita
parece arco-iris recém formado
sou rei do cangaço e rei do bordado
Ninguém nessas duas me ousa enfrentar
eu ando o sertão e sou desse lugar
no mais tu me escuta no clarão da bala
e aqui no demais minha viola se cala
cantando galope na beira do mar.