A DESGRAÇA QUE O JABUTI SE METEU 

JOEL MARINHO

A floresta estava calma

A cobra estava enrolada

Jacaré pegando sol

A onça estava deitada

Jabuti olhou ao céu

E pensou andar ao léu,

Mas caiu numa cilada.

 

Com aquele andar esquisito

Sem prestar muita atenção

Foi de cabeça abaixada

Passando o bucho no chão

Se entreteve com um sapo

Caiu dentro de um buraco

Começou sua aflição.

 

Rolando ladeira abaixo

Caiu no fundo do poço 

P'ra completar a desgraça

Já não era muito moço

Ficou com as pernas p'ro ar

E sem saber se virar

Pensou: vou morrer no fosso!

 

Gritar nunca aprendeu

Como a pintava fazia

Com apenas um esturro

Toda a mata estremecia

Quem mal aprendeu andar

Só lhe restava fungar

E esperar o seu dia.

 

Passou o dia inteiro

Preso naquela agonia

As perninhas balançando

Rezou a virgem Maria

Clamou a oxum e Alá

Orou, aprendeu rezar

A pobre alma vazia.

 

Clamou por todos os santos

Até alguns inventou

Pediu perdão a Tupã

Pensava ele, Senhor!

Qual foi o mal que eu fiz?

Salvai a esse infeliz!

Dessa desgraça que entrou.

 

Três dias já se passavam

Fome e sede aumentando

A garra já indo embora

Ele baixinho chorando

Dos olhos lágrimas caindo

Suas forças se exaurindo

E o tempo foi fechando.

 

Pensou ele, ó deus Tupã!

Clamei pela salvação

Pelo jeito se zangou

Meu pedido foi em vão

Perdoe a minha insistência

Porém lhe peço clemência!

Não me mate por inundação.

 

Faça a mim cair um raio

Me tire desse calvário

Não faça que esse poço

Se torne um imenso aquário

Porque para completar

Eu não aprendi nadar

Nem cantar como o canário.

 

Foi quando nesse momento

Um raio cortou o céu

Em seguida enorme trovão

Fazendo um grande escarcéu

Uma chuva monstra arriou

O coitado se acomodou

Esperando o fim cruel.

 

E logo em poucos minutos

Desceu enorme enxurrada

E o jabuti paradinho

Só pensava: que cilada!

A água foi aumentando

E ele aos poucos boiando

Desmaiou, não viu mais nada.

 

Como uma grande bacia

O jabuti foi subindo

Quando na boca do poço

A água forte fluindo

Criando uma correnteza

Acordou com uma surpresa

Ao ser virado dormindo.

 

A correnteza empurrou-o

Fazendo ele rolar

E assim com a força d’água

Ele pode se virar

Ao sentir terra nos pés

Disse: Tupã tu és dez

Obrigado por me salvar!

 

Dessa forma o jabuti

Conseguiu sair do poço

E daquele dia em diante

Sempre que saia o moço

Passou a observar

Antes de em falso pisar

Levanta bem o pescoço.

 

Assim como o jabuti

Temos que andar com cuidado

Pois existem muitos poços

E perigos de todo lado

Se cairmos no buraco

É “sal” já vamos pro “saco”

E do mapa somos riscados.

 

Obrigado por ter lido

Agradeço ao deus Tupã

Orixá, Alá, Jesus

Jeová, Brahma, xamã

Independente da crença

Que todos nos deem a benção

P'ra mais cordéis amanhã.