O matuto existencial
Dizer que a vida é uma estrada longa
de muitos percalços, de muitas subidas
ignoram que a tempo arruma saídas
e segue seu rumo e assim se prolonga
A vida é um quê que assim se delonga
enquanto lhe é assim permitido
é só reparar num vaso partido
que tá lá no canto da alta estante
até que a desdita o derruba num instante
e o vaso se foi sem qualquer sentido.
Não dá pra dizer, portanto, que a vida
é essa estrada que a gente percorre.
Se a gente que nasce e a gente que morre
a mesma tragédia se tem garantida.
E toda resposta é muito enxerida
não pode o poeta querer se achar
que a vida é isso, é aquilo acolá
numa tentativa de se fazer doutor
tem gente que fala que a vida é dor
é um rio que corre na beira do mar
Eu vejo os carros andando na rua
eu vejo as pessoas ali na calçada
eu vejo uma mãe com a mão levantada
e eu vejo outra ali a sorrir seminua
no céu a tormenta em nuvens flutua
e os guardachuvas já vão se abrir
e eu sei que essa hora acabou de partir
mais um vivente da face da terra
a vida é uma coisa que a gente erra
que nem essa chuva que está a cair.
Já tenho meus trinta e nem acredito
que ainda ontem eu era um menino.
Que era magro, sugado e franzino.
Co'as pernas finas que nem um sibito
E hoje eu cresci e tenho outros conflitos
e vou planejando o meus dias vindouros
enquanto o tempo esfola meus couros
assim vêm e passam os dias e os anos.
Que bicho tão besta é o ser humano!
E a vida se passa no golpe do agouro!