LEMBRANÇAS DE UM MOLEQUE PRESEPEIRO
Vosmicê me dê licença
Ouça bem tudo que tenho
Das terras donde nasci
Longe dela sempre venho
Conto sem ter arrodeio
Sem nem fazer o floreio
No saber dantes detenho.
Meus estimados leitores
Que gostam de ler cordel
Fiquem certos na leitura
Não queiram fazer bordel
Espero satisfação
Que lhe damos tradição
Neste meu simples plantel.
Senhores o que contenho
No baú desenterrei
Trago na minha mochila
Todos versos que plantei
Bote seus ouvidos bons
Ouça todos lindos sons
E bora ler que contei.
Estou quase terminando
Pensei logo publicar
Lembranças de presepeiro
Veja bem no que vai dar
Memórias do meu passado
O sono tem me tirado
E vou ter que soletrar.
No Bairro Castelo Branco
Que coisa se sucedeu
Com um cabra gente fina
Isto sim, aconteceu
Me contou suas virtudes
Que vive nas atitudes
Ele se comprometeu.
O Bairro Castelo fala
A gente é importante
É de lá tantos artistas
De forma bem elegante
Nos conta tantas histórias
Nas ideias dessas glórias
Na Capital que se cante.
Neste bairro popular
O tema vem no folheto
Nosso povo narra fatos
Até mesmo de panfleto
Que menino mais perverso
Vou contar tudo no verso
Sentado neste coreto.
Amantes das nobres letras
Sintam-se bem contemplados
Arregacem suas mangas
E defendam os letrados
Assumam as condições
Deixem todas emoções
Adentrem nesses recados.
O recado já foi dado
Na fiel literatura
Pois, leiam com atenção
Que bom assunto procura
O ler faz tão bem à mente
Você fica competente
Como boa criatura.
A promessa é cumprida
Oh! Minha gente vem ler
Conte para todo mundo
Estou lá só para ver
Este menino danado
No tempo de ser malvado
Nós vamos logo saber.
O nosso menino disse
Num linguajar engraçado
Quando pensava fazer
Ser traquino depravado
Pra querida mãe chegava
Vejam quem bem aprontava
Num viver bem engraçado.
De tardezinha chegando
Tome surra no coitado
Espinhaço do menino
Ficava bem lapeado
O guri teve momento
Pra livrar do sofrimento
O bichim é azarado.
Ele para mãe propôs
Naquela cara mais lisa
Que levasse grande surra
Conhecida pela pisa
Tomar um banho de rio
Naquele tremendo frio
Nossa mãe jamais alisa.
O menino leva tapa
Lá pelo pé dos ouvidos
Pra respeitar sua mãe
Propondo sem ter sentidos
Apanhar antes do tempo
Como fosse passatempo
Dos guris intrometidos.
Vejam que situação
Filho com mãe se coloca
A mãe de pulso tão forte
Ordem naquela maloca
Ele fora bom menino
Que lhe deu tão bom destino
E tudo leva pra toca.
Naquele tempo gostoso
A mãe tomava de conta
Educava com as regras
Mas o filho só afronta
Menino queria surra
Mãe jamais seria burra
E nem tampouco foi tonta.
O menino é do bem
Um bambino tão ruim
Dizendo: - Mamãe te peço
E pode bater em mim
Meta surra com prazer
Minha mãe pode bater
Eu vou sair se for assim.
Sempre moleque traquino
Chorava feito ninguém
Surra todo santo dia
Sem nunca se ter alguém
É bom querer recordar
Para nunca mais chorar
Do passado que faz bem.
O menino tão safado
Com sua cara lambida
Encrencando com a mãe
Fazendo sempre saída
Deixando todo vizinho
Perguntando com carinho
O que se deu nesta vida.
O cabra filho primeiro
Tamanho dum tamborete
Lhe dando tanto trabalho
Com brigas e tirinete
Haja confusão na rua
Sem nunca ficar na sua
Em casa tome cacete.
Ele, se tornando grande
Tem travessura pra dar
Contando sem ter limite
Pra gente saborear
Dizendo sentir saudade
Do papai Zezé Bondade
Sempre quis lhe procurar.
Sua mãe ficou viúva
Negando tudo pro filho
Escondendo sem ter jeito
Causando falta de brilho
O peste ficava triste
Porém, nunca que desiste
Nem mesmo com empecilho.
Num certo dia nadando
O bicho quase morrendo
Bucho repleto de lama
A mãe na casa sofrendo
Por pouco teve derrame
Aquela simples madame
Ficou na casa correndo.
O filho chegou cansado
Tome tapa no focinho
Sua mãe gritava tanto
Sentada no seu banquinho
Ele nasceu novamente
Alegrando tanta gente
Beijando todo rostinho.
A proposta do sujeito
Não tinha nem cabimento
Apanhar antes do tempo
Pra sair sem consentimento
A gestora do colégio
Dizia ser sacrilégio
Em só ver atrevimento.
Não vive de responder
Orgulho da sua mama
Mas, estudar nunca foi
Luta pra ficar na cama
Precisava dum cascudo
Depois diz que é sortudo
Não morar dentro da lama.
O pirralho nem pensava
Nunca naquele futuro
Só sabe fazer besteira
Nas casas pulando muro
A mãe não sabe que faz
Pensando nele rapaz
Nisto vai ficando duro.
Foram três reprovações
Adeus o primeiro grau
Seis escolas em dois anos
Isto nunca foi normal
Ele só quer trabalhar
Pelo mundo viajar
Para ter seu capital.
O nome vamos saber
Escreva com paciência
Dona Dora que falou
Numa simples residência
Mixel Léxico Feliz
Da Soledade Muniz
Chamado de repetência.
Apelido miserável
Estava porém difícil
Se livrar daquilo tudo
Que só traz o malefício
O guri não se conforma
É sacana sua forma
De procurar meretrício.
A mãe não quer entender
E vai processar Jurema
Mulher rica da cidade
Dona dum grande cinema
Filho na maioridade
Lhe chamam autoridade
Que serve bem o sistema.
Findo tranquilo também
Estas histórias contadas
O bom menino frisou
Nestas linhas tão marcadas
A vida dum meninote
Nadando feito caçote
São recordações traçadas.