FIO DA BARBA DE SÃO PEDRO

I

Conheci certo devoto,

Como ele ninguém mais,

Sua extrema piedade

Não esquecerei jamais,

Ele era na verdade

O vigário da cidade

E que tinha fé demais.

II

Já de idade, mas ativo,

Fazia grandes sermões,

Piedoso e bonachão

Era amado sem senões

Por todos os paroquianos;

Em junho, todos os anos,

Tinha festa e procissões.

III

Simão Pedro, o pescador,

Era seu santo querido

Por ter sido combativo,

Apesar de empedernido,

Mas que foi, embora isto,

Pelo próprio Jesus Cristo

Primeiro Papa escolhido.

IV

A irmã coordenadora

Da equipe de liturgia,

Ela e um grupo de fiéis

Seguiram em romaria

Certa vez à terra santa,

Aonde se colhe e planta

A fé em Cristo e Maria.

V

O grupo de peregrinos

Partiu numa madrugada,

Antes, porém uma missa

Na capela foi rezada

Quando o velho vigário

Puxando do calendário

Saudou Pedro e sua espada.

VI

Despedindo-se do padre,

Disse a madre sorridente:

- Prometo para o senhor

Que lhe trago de presente

Uma relíquia sagrada

Daquela terra abençoada,

O berço de todo crente.

VII

O grupo seguiu viagem,

Ficou o padre esperando

O retorno dos fiéis,

A todo tempo pensando

Que presente esse seria,

Até que chegou o dia

Dos peregrinos voltando.

VIII

Trouxeram da Palestina

Alguns pedaços da cruz

Manchados do sacro sangue

Derramado por Jesus,

Frascos de óleo da unção

E águas do Rio Jordão,

Fé, esperança e muita luz.

IX

A freirinha virtuosa

Do padre não esqueceu,

Numa caixinha ela trouxe,

Preso sobre um camafeu,

Da barba de Pedro um fio,

Sentiu ela um arrepio,

Quando o judeu lha vendeu.

X

Tarde o grupo de romeiros

Da praça se dispersou,

A freira no seu convento

Com as irmãs se juntou,

Todas viram sem tocar

O relicário no altar,

Onde a madre o colocou.

XI

Na manhã do outro dia,

Rumo à igreja a bela freira

Resolveu dar uma olhada

Na relíquia verdadeira,

Fio da barba de Simão

Tirou-lhe o vento da mão

E sumiu em meio à poeira.

XII

A freira não vacilou,

E reagiu com desvelo...

Enfiou a mão sob o hábito,

Arrancando um ruivo pêlo,

Pensou: “Não faz diferença,

O padre na sua crença

Contente irá recebê-lo”.

XV

Radiante foi para a igreja

Com o seu sorriso aberto

Avistar-se com o padre

Que a esperava por certo;

Da porta viu o vigário

Desfilando seu rosário

Naquele templo deserto.

XVI

Ele veio ao encontro dela

Com o sorriso mais franco

Naquela batina preta,

A irmã de hábito branco,

Depois do efusivo abraço

E ofegantes de cansaço,

Ambos sentaram no banco.

XVII

A caixinha foi aberta

E o padre se espantou

Vendo um fio encaracolado,

Mas a madre lhe explicou

Ser da barba de São Pedro,

Relíquia tida em segredo

Que de um judeu comprou.

XVIII

Beijando o fio de cabelo,

Disse o padre emocionado:

- É de fato de São Pedro

Tal fio de barba enrolado,

Isso aumenta minha fé,

Porquanto eu sinto até

Cheiro de peixe passado.

*De fato a fé faz milagres....

Benedito Generoso da Costa

Enviado por Benedito Generoso da Costa em 24/10/2013

Reeditado em 25/10/2013

Código do texto: T4540673

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Comentários

8

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Benedito Generoso da Costa

há 8 anos

Seu poema é uma crítica certa em nosso tempo, em que oportunistas(diga-se falsos profetas) não poupam o rebanho e nem último centavo da viúva. Parabéns.

foto

há 8 anos

boa tarde nobre poeta, lindo texto, obra de gente grande, parabens

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Mario Roberto Guimarães

há 8 anos

Um primor, Benedito, parabéns. Um abraço, Mario.

J

Jardel

há 8 anos

Você denunciou as vendas de indulgências da igreja católica e a roubalheira das igrejas crentes cobrando ofertas e dízimos pela televisão, roubando o último centavo da viúva.

V

Vivian

há 8 anos

Eu sou cristã e respeito toda religião e crença, mas este seu poema é uma blasfêmia. Você inventou essa estória porque tem a mente poluída. Peço que Deus lhe perdoe. Paz em Cristo, fique em paz. àovd toda

V

Valda

há 8 anos

Eu não o conheço pessoalmente, mas o acompanho há um bom tempo na internete. Sei que é um escritor e um poeta também. O que mais aprecio em você é esse seu pensamento livre, seu bom humor e desprendimento de crenças, religiões e de posições ideológicas. Sobretudo eu o admiro por não deixar transparecer apego e preconceitos nas suas obras. Beijinhos e abraços.

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Jajá de Guaraciaba

há 8 anos

Muito bom esse cordel, meu caro poeta! Gostei de verdade! Principalmente da última estrofe. Felicitações, Benedito! Estou aprendendo a compor cordel, só que os meus são construídos com seis versos por estrofe. Os dois últimos eu não postei, pois, estou temeroso que os amigos recantistas não gostem. Gostaria de enviá-los por e-mail para você avaliar. Posso? Muito obrigado desde já. Abraço amigo e até breve.

V

Vanderley

há 8 anos

Se o santo padre não sabe a diferença entre o cheio do peixe e o da perereca, coitado dele. Mas de minha parte, gostei. Eta poeta porreta esse Generoso de versos bom e de rimas perfeitas. Parabéns.

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Benedito Generoso da Costa

Benedito Generoso da Costa

Londrina - Paraná - Brasil

171 textos, 11.308 leituras

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Benedito Generoso da Costa
Enviado por Benedito Generoso da Costa em 09/07/2022
Reeditado em 09/07/2022
Código do texto: T7556218
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