MAIVADEZA DE CORONÉ (Cordel)

Meu pai morava

Na Fazenda Gameleira

Numa casa paineira

Dessas do caibro no chão

A casa dele

Era feito de ribeira

Junto do pé de ingazêra

Desses ingá de caxão

Foi nesse tempo

Que conheci a Juana

Juntando ôio de cana

Dentro dos canaviá

Depois da conta

Nós dois ia pra ribêra

Lá pru pé da ingazêra

Pra mode chupar ingá

Eu só pensava

Em me casar cá Juana

Pra ela não limpar cana

Nas terras do coroné

Ai acertemo

Pra dentro de pôco tempo

Eu fazer nosso apusento

Uma casinha de sapé

Sem ter dinheiro

Precisei ir pra Sum Palo

E vendi o meu cavalo

Que tinha de vaquejar

Ai! Que sodade

Lá na terra paulista

Só pensava na Juana

E no brioso animá

Ganhei dinheiro

Lá na terra da garoa

E vortei pra Alagoa

Mode a gente se casar

Sube im Penedo

Pru gente da Gameleira

Que o meu pé de ingazêra

O coroné mandou cortar

Cheguei em casa

Mais, ai que sorte tirana

Não encontrei a Juana

O coroné carregou

Nem meu cavalo

Nem meu pé de ingazêra

Lá pertinho da ribeira

Onde nasceu nosso amor

Que crueldade

Dum homem sem coração

Robou toda ilusão

Que eu na vida acalentava

Robou o meu cavalo

O meu pé de ingazêra

Robou a minha companhêra

A muié que eu mais amava

Hoje, sozinho

Eu vivo pensando nela

Bate o vento na janela

Eu penso que é a Juana

Óio, arreparo

Vou ver e não vejo nada

Meu Deus! Que sorte maivada

Inté o vento me ingana

Manoel Ferro (06/06/1963)

Agradeço aos familiares do saudoso e conterrâneo poeta

Manoel Ferro por me permitirem a publicação desse

maravilhoso cordel.