Galope à beira mar para Wolney de Assis
Se na árida noite co’a mosca a zumbir
o pasto se vai cortando a distância.
Eu sinto a casa, a bombacha e a ânsia
fantasmas sem corpo que estão por aqui.
Eu quero dizer-lhes, se podem me ouvir,
que o mundo, tal era, ‘cabou de acabar.
E eu tão descalça na noite a vagar
sob o firmamento não sei se sou eu
e eu quero guardar o meu corpo no teu
Cantando galope à beira do mar.
Meu Deus, que estranheza tão dentro de mim!
Que vão rebuliço que vem na cabeça!
É coisa de dentro e não tem quem impeça.
E irrompe sem prumo, tormenta sem fim!
Essa natureza faz parte de mim:
é um passo que está sempre a acompanhar
é desconserto a desconsertar
se tento conter, já é muito tarde!
Sou lágrima, pranto, paixão piedade.
Sentindo-me nua na beira do mar.
Se o século agora ecoa seu fim
em lei e movimento, arando sua terra
eterna mudança em força que aterra
foi de repente em tintin por tintin.
E súbito fez-se um montão assim
E cada momento parece espantar.
É essa maneira que eu tenho de olhar
o tempo que veio que nem distração,
passando e passando em oculta ilusão:
marés da minha vida, na beira do mar.
etc…