ZÉ DA JIA E ZÉ AREIA
Um bom mestre na esperteza,
Zé da Jia agora traz
O famoso Zé Areia,
Que pôs Natal em cartaz,
Vindo do bairro das Rocas
Há bastante tempo atrás.
Quebrando o tempo da paz,
O Zé e a Segunda Guerra
Mexeram com os costumes
Da nossa querida terra,
Onde tudo é bem contado
E quem bem sabe não erra.
Zé cava e na certa enterra,
Notória situação,
Tanto pode estar na causa,
Quanto numa solução,
Tirando cabelo ou barba
No ribeirinho salão.
Ligeiro na discussão,
Usando roupa de linho,
Certa vez o Zé Areia
Lesou Djalma Marinho,
Depois de pedir empréstimo
E sair bem de fininho.
Pegado ao mudar caminho
Para evitar o credor,
Zé Areia, indagou rindo:
- quanto pedi ao senhor?
Djalma disse: foi cem,
Mas só dei meio valor.
Zé disse: és devedor,
Passe-me logo os cinquenta,
Porque estou precisando
Do valor que complementa,
Dessa grande mola mestra
Que ao planeta movimenta.
Zé da Jia logo esquenta
A história do Zé xará,
Contando que Zé Areia
Deixou gringo ao Deus dará
Vendendo urubu por frango,
Refresco por guaraná.
Zé ganhou dinheiro em pá,
Afirmou o Zé da Jia,
Fez do praça americano
Sua rica freguesia,
Cobrando deles mais caro
Na sua barbearia.
Confessou-me Zé da Jia,
Que Zé Areia vendeu
Cem bilhetes duma rifa
De um carneiro que era seu,
Mas quando foi entregar
Só fez depois que choveu.
Falou que o bicho encolheu
Ao ganhador do sorteio,
Visto que o carneiro entregue
Não chegava nem ao meio
Do que mostrava na foto,
Demonstrando ser mais cheio.
Zé Areia, sem floreio,
Era baixo e barrigudo,
Gostava de diversão,
Dava risada por tudo,
Usava seu bom humor
Como ataque e como escudo.
O tal Zé alegou tudo
Por frango verde pintado,
Que vendeu por papagaio
Sem que tivesse falado,
Mas para o freguês falou
Que era assim mesmo, calado.
Zé Areia embriagado,
Segundo diz Zé da Jia,
Foi parar em um velório
Pensando que era folia,
Teve que escolher correr
Pra não ver delegacia.
Zé manteve a ironia,
enquanto estava morrendo,
disse que a mulher sorrisse,
pois seu chorar era horrendo,
queria ver seu sorriso
em vez de vê-la sofrendo.
Zé Areia segue sendo
Personagem potiguar,
Que Zé da Jia resgata
Da vivência popular,
Com piadas engraçadas
Pondo o povo a gargalhar.
Notando o tempo passar,
A cada história mais nova,
O Zé da Jia acredita
Ao mesmo tempo que prova
Que Zé Areia foi rindo
Até embaixo da cova.
Zé da Jia muito aprova
A graça de Zé Areia,
Que faz graça da desgraça
E conduz sangue na veia,
Em vez de ficar falando
Em prol de “cabra de peia”.
Vamos cantar nossa aldeia,
Com toda graça que tem,
Vamos brindar, com sorriso,
Todo valor que detém,
Dando viva a Zé Areia
E a Zé da Jia também.
Vamos falar só do bem,
Do nosso povo altaneiro,
Vamos gabar todo dia,
Do praça até o “beradeiro”,
Pondo alegria na praça
E graça no picadeiro.
Viva o povo brasileiro,
Rio-grandense do norte
Que, tal como Zé Areia,
Apresenta pouco porte,
Mas tem poesia na veia
E alegria além da sorte.
Nosso povo alegre e forte,
Cantado por Zé da Jia,
Tem a beleza das praias
E o suporte da alegria,
Todo humor de Zé Areia,
Dia e noite, noite e dia.
Zé Areia, que dizia
Amar a sua Natal
Queria, mostrando os dentes,
Curtir o seu litoral,
Das Rocas, onde vivia,
Cumprindo seu ritual.
Tinha o nosso cabedal,
Por Zé da Jia contado,
Mostrava a simplicidade
Do povo representado,
Conseguindo equilibrar
Samba com xaxado e fado.
Já tendo bem retratado
A cara do aventureiro,
Zé Areia espelhava
O nosso povo guerreiro,
Com o amor tão bem decantado
Cantado em cancioneiro.