A ÚLTIMA CASA DO PEDREIRO (cordel)

Um dia um velho pedreiro

Que adorava trabalhar

Construía belas casas

Pra ninguém lhe reclamar,

Já cansado do “batente”,

Resolveu se aposentar

Então informou ao chefe

Do desejo que sentia

Que gostava do trabalho

Mas já não tinha alegria

Está com familiares

Era tudo que queria

O salário me faz falta

Dizia o velho pedreiro

Sei que vou sentir saudade

Sempre fui um bom guerreiro

Mas vou regrar minhas contas

Passar com pouco dinheiro

Vejo a idade chegando

Não sou mais uma criança

As jornadas que fazia

Hoje só resta lembrança

De voltar o que era antes

Eu já não tenho esperança

A empresa não seria

Tão afetada também

O quadro de empregados

Sua lista é muito além

Por ser bom na profissão

Todos lhe queriam bem

O chefe, então, ficou triste

Com aquela decisão

Pelo bom funcionário

A quem tinha gratidão

De querer se aposentar

Com toda convicção

Assim, o chefe propôs

E, portanto foi direto:

- Vamos fechar um acordo

Pro trabalho ser completo

Vou lhe fazer um pedido:

Me faça mais um projeto

Sei do teu potencial

Por ser bom trabalhador

Já fizeste grandes obras

Reconheço o teu valor

E te faço esse pedido

Como se fosse um favor

O pedreiro não gostou,

Mas não ficou remendando.

Como sempre foi fiel,

Pra não ficar resmungando,

Sem nenhum entusiasmo,

Ele acabou concordando.

Foi fácil ver que o pedreiro

Não estava interessado,

Bateu-lhe arrependimento

Por ele ter concordado,

Mas, pra cumprir a palavra,

Seu acordo foi firmado

Foi pra casa pensativo

Pelo papel assumido

E pensou consigo mesmo

Vou ficar bem distraído

Esse é o último serviço

Deixo logo concluído

Assim ele prosseguiu

Na maior tranquilidade

Com um trabalho grosseiro

De segunda qualidade

E se livrar do serviço

Era sua ansiedade

E não caprichou na base,

“O forte da construção”,

Deixou parede empenada

Fez com pouca amarração

Deixou piso saliente,

Teto com infiltração

Quando o pedreiro acabou

Veio o chefe visitar

Ver a casa construída

Hora de inspecionar

E deu a chave ao pedreiro

“É nela que vais morar”

Essa casa agora é sua

Nela você pode entrar

Dou de presente a você

Pra ninguém me contestar

Vamos passar o papel

Vou no cartório assinar

Deixou o pedreiro surpreso

E pensou na sua mente

Por não caprichar na casa

Estragou o seu presente

Se soubesse que era dele

Tinha feito diferente

O pedreiro entristeceu

Pensando, meu Deus! Que pena!

Eu agora estou sabendo

Como a culpa me condena

Enquanto vida eu tiver

Eu jamais faço outra cena

Agora fica a lição

Pra quem é entendedor:

São as nossas atitudes

Que provam nosso valor

E tudo que a gente faz

Tem que fazer com amor

Construímos nossa vida

Um dia de cada vez

Às vezes fazendo menos

Do que nós um dia fez

Com surpresa descobrimos

O que o ontem não desfez

Uma hora revelamos

O fardo que a gente trás

O caminho que traçamos

Que deixamos lá atrás

Não adianta esconder

Nada fica por detrás

És o pedreiro da vida

Que podes bem escolher

É quem assenta o tijolo

Da casa que vais fazer

Todo dia bate pregos

À esperança de vencer

Por acaso alguém falou

Que você é seu herói?

E que a vida é um projeto

Que você próprio constrói?

Se não fizer boa ação

Nela mesmo se destrói

Por isso todas estradas

Que você for caminhar

Vão se transformando em planta

Sem nada poder falhar

É a sua construção

Da casa que vais morar

Portanto, construa o hoje

Com muita sabedoria

Faça tudo com amor

Esbanje sempre alegria

Para a casa do amanhã

Ter um toque de magia.