A MENINA DA VILA
ela era livre, alegre era su'alma
era eternamente uma menina
uma criatura intensa, sua sina
de sangue quente, porém sensível
era maleável e mantinha a calma
nasceu em uma pequena vila
no seio de uma familia feliz
nesse lugar tinha a sua raiz
onde aprendeu sobre poemas
e os produzia bem tranqüila
desde menina que ela escrevia
sob uma tênue luz de lamparina
com muito prazer e disciplina
bem longe da cidade grande
onde quase ninguém lhe conhecia
contemplava águas transparentes
de belos córregos e do igarapé
olhando pro céu com muita fé
adorava se banhar no açude
com pessoas que eram parentes
ajudava o pai na casa do engenho
mesmo sendo ainda uma criança
olhava o futuro com esperança
andar nas matas lhe encantava
vontade de viver assim eu tenho
nas lindas noites de lua cheia
tinham vários tipos de brincadeiras
histórias inventadas e verdadeiras
encantavam toda a criançada
matavam o tempo depois da ceia
dos pássaros ela ouvia o canto
debaixo da sombra das árvores
cuidava de plantas e de pomares
sentindo alí o sabor do vento
nunca conheceu jamais um pranto
cresceu alegre e sempre inocente
pensamento voando como passarinho
quando deixava o aconchego do ninho
onde não havia meio de comunicação
de Deus sua vida era um presente
energia elétrica na vila não tinha
a menina não saía para nenhum lugar
seu pai não deixava por ser vulgar
uma moça tinha que ficar em casa
isso até os vinte anos ela mantinha
no dia que conheceu a cidade
ficou maravilhada com a televisão
sentindo-se fora de uma prisão
pela primeira vez ignorou o mato
ali conheceu outra felicidade
mas da cidade parece que não gostou
preferia ser ela um bicho do mato
ali na vila era o seu canto de fato
não entendia o que lá falavam
a menina da vila ali se acostumou