GINEPOÉTICA
Por Gecílio Souza
A deusa da inspiração
Hoje inspirou o meu dia
Fez-me uma revelação
Cheia de simbologia
Já me pus de prontidão
No meio da correria
Caneta e papel na mão
E uma estranha energia
Que fez meu corpo tremer
Mas consegui escrever
Porque a deusa insistia
À minha alma ela dizia
É bem simples a missão
Basta um pouco de ousadia
Vontade e disposição
A mensagem eu recebia
Com absoluta atenção
Pela porta refletia
Um impressionante clarão
A deusa se recolheu
Foi quando me apareceu
De repente um mulherão
Sorrindo em minha direção
A mulher se dirigia
Com uma breve saudação
Os brincos ela sacudia
Reconheci sua feição
Tudo ali se esclarecia
Quase que caí no chão
Veio forte a nostalgia
Eu e ela frente a frente
Me olhando fixamente
Que a pressão até subia
Atento eu lhe descrevia
Com total concentração
Sua boca mal se mexia
Repetindo a expressão
E seu olhar parecia
Com um ímã de atração
Nas bochechas reluzia
A mais bela entonação
O nariz triangulado
Como algo desenhado
Em perfeita posição
Os lábios eram a conjunção
Da mais carnal rebeldia
Com os impulsos da paixão
Que o próprio corpo aprecia
E vincula o coração
À prazerosa magia
Porque há uma relação
Entre prazer e alegria
Sua boca era isca viva
De onde a flecha afetiva
Com força se irrompia
Com as mãos ela fazia
Suave movimentação
Demonstrava maestria
Na própria comunicação
Sua cabeça em sintonia
Notável era a integração
Tudo ali se convergia
Para a bela composição
O movimento de seus dedos
Revelava alguns segredos
Que guardei na ocasião
As suas orelhas então
Que o cabelo as cobria
Tinham a mesma extensão
Absoluta simetria
Cabelo cor de carvão
Sobre as costas escorria
O queixo em conformação
Um traço lhe dividia
Na vertical e tão reto
Era um teorema completo
Que Pitágoras aprovaria
Meu cérebro se contorcia
Pedi sua permissão
Falou sim que permitia
Prossegui na incursão
O meu olhar percorria
Seu busto com a pretensão
De fazer a radiografia
Daquele belo corpão
Seios esféricos como discos
Feitos dois pombos ariscos
Temendo a aproximação
Sua profunda distinção
Que dispensa analogia
Os braços num só padrão
Cintura fina e esguia
Em forma de violão
Até Deus se arrepia
Passa na imaginação
O que não se pronuncia
Porque é impronunciável
Tudo nela é irretocável
A estética lhe deu franquia
Tinha pele íntegra e macia
Com notável hidratação
Seu umbigo possuía
O diâmetro de um botão
Pela roupa transparecia
Sua natural dotação
Em espontânea cortesia
Me fez uma concessão
As pernas desta beldade
Fariam qualquer divindade
Pecar e pedir perdão
Belas sem comparação
Modeladas à revelia
Obeliscos em inversão
Sem truques da fantasia
Lhe davam sustentação
Mais beleza não cabia
Qualquer filho de Adão
Jamais lhe resistiria
Uma humana arquitetura
Sei que essa escultura
Michelangelo assinaria
Seu formato obedecia
À física constituição
Biológica engenharia
Fruto da evolução
Na base do tronco havia
O jardim da tentação
Ponto vital que amplia
A masculina pretensão
Onde uma cova escondida
Guarda a semente da vida
Às vezes suspende a razão
Tinha os pés na proporção
Seu formato surpreendia
Do dedinho até o dedão
O designer prevalecia
As unhas eram a projeção
Que o esmalte reproduzia
Os membros sem exceção
Estavam em plena harmonia
O conjunto e cada parte
Eram uma obra de arte
Que Da Vinci invejaria
Fiz o que a deusa queria
E descobri desde então
Que eu tinha e não sabia
Uma poética aptidão
Para desempenhar a poesia
Sem curso e sem instrução
Com a musa eu aprendia
A fazer a interpretação
Terminei a incumbência
Foi a melhor experiência
Na minha concepção