João e Maria
Olá queridos ouvintes,
Vou agora lhes contar.
A trama inusitada,
Que por mim foi registrada.
É de João e Maria,
Um casal de adolescentes.
Apostaram no amor,
Sem ligar para os fatos consequentes.
Uma noite tão desastrosa
Numa pequena choupana.
Debaixo dum temporal,
Que tragédia insana!
Da chuva, cai as gotículas,
No cobertor de Maria.
Telhado ao céu aberto,
Não protegia sua cria.
Corre para lá e para acolá,
Querendo se abrigar.
Fica cá, fica ali,
Era pequeno seu lar.
Romperam o amanhecer,
Maria e o bebê.
Não pregaram a pestana,
De tanto se esconder.
Que vida pobre, lascada,
Sem dinheiro e sem nada.
Pensou na city morar
Para vida melhorar.
Jovem, inexperiente,
Do rural para a cidade.
Em nome de uma paixão,
Cara de felicidade.
Mas o destino lhe deu,
Por não ouvir mãe nem pai.
A rasteira que doeu,
Como a chuva que no barraco cai.
Diziam a mãe e o pai:
-Aqui tu comes, aqui tu bebes.
-Quem come do meu pirão,
Prova do meu cinturão.
A moça que enjoava da boneca,
Ao viajar nas promessas do urbano.
Só pensava: Vou fugir,
Com um belo ser humano.
No campo eu pisarei,
Quando for rainha, ele rei.
Sua meta bem traçada,
A farsa não revelava.
Foi então que decidiu,
A intuição seguir.
Ao ver a calamidade, pensou:
Deve ser só uma fase.
E o tempo foi passando,
Maria engravidou.
E num quarto, atrás da sogra,
Seu amor a hospedou.
Era um barraco simples,
Palafita, conhecido.
Dava para contar estrelas,
Mas que casal aguerrido!
Não ligavam para luxo,
Ele novo, ela bom perfil.
“O amor vale tudo”,
Estação primaveril.
Passaram-se, nove meses,
Nasceu um lindo rebento.
Papai João prometeu,
Chamá-lo de Chico Bento.
Para lembrar do lugar,
Onde conheceu Maria.
Festa interiorana,
Numa grande romaria.
Filha de gente humilde,
Na roça acostumada.
Viu o moço da cidade,
Ficou toda animada.
Depois do sétimo dia,
Os amigos de João.
Falaram para o moço,
Não vamos tomar o mijo não?
Trabalhou dia e noite,
Na estiva, dum navio.
Garantindo que a festa,
Seria de fio a pavio.
João ao voltar para casa,
Já era tarde da noite.
Foi assaltado na ponte,
E morto com uma foice.
Aqui estava um quadro,
Desta vida marginal.
Uns se esforçam para prestar,
Outros, pensam em matar.
Com poucos dias de parto,
Maria ficou viúva.
Seu reino agora, sem rei,
Dizia: - Oh meu Deus! O que farei?
Nessa noite tão chuvosa,
Que inundava seu chão.
Restou-lhe um filho no colo,
E muita dor no coração.
Negra Aurea: 05/05/22