Em busca de inspiração
Ando sem inspiração
Para os versos de cordel!
Vou atrás do Manuel
Du Bocage e, então,
Começar a construção
Duma redondilha nova,
E assim colher a prova
De que sou quase poeta,
Que minha obra vegeta
E vai comigo pra cova.
Ando atrás de rima nova,
Tentando fazer bonito,
Mas eu mesmo acredito
Que o cordel não aprova.
Quem sabe faça uma trova,
Falando do Assum Preto,
Ou quem sabe um soneto
Cheio de nós e senões,
E assim convide Camões
Pra balançar o coreto.
Quem sabe um minueto,
Suave e cheio de graça,
Que certamente me faça
Sacudir o esqueleto.
Seja o que for, eu prometo
Que a rima derradeira
Vai falar de Zé Limeira,
Patativa d'Assaré,
E também de outro Zé,
Que nem fede e nem cheira.
O famoso Zé Pereira
Dos saudosos carnavais,
Em que deixei os meus ais,
Numa triste quarta-feira,
Logo após a brincadeira
De rasgar a fantasia.
Inda hoje lembro o dia,
Era mês de fevereiro,
Eu passei o ano inteiro
Preparando pra folia.
Hoje resta a poesia,
Que me visita a lembrança,
Que sacode e não se cansa,
Como a trança de Maria.
Se pudesse eu voltaria
Pra buscar inpiração,
Mesmo sendo uma fração,
Um verbo mal conjugado,
Falecido no passado,
Mas vivo no coração.