Em busca de inspiração

Ando sem inspiração

Para os versos de cordel!

Vou atrás do Manuel

Du Bocage e, então,

Começar a construção

Duma redondilha nova,

E assim colher a prova

De que sou quase poeta,

Que minha obra vegeta

E vai comigo pra cova.

 

Ando atrás de rima nova,

Tentando fazer bonito,

Mas eu mesmo acredito

Que o cordel não aprova.

Quem sabe faça uma trova,

Falando do Assum Preto,

Ou quem sabe um soneto

Cheio de nós e senões,

E assim convide Camões

Pra balançar o coreto.

 

Quem sabe um minueto,

Suave e cheio de graça,

Que certamente me faça

Sacudir o esqueleto.

Seja o que for, eu prometo

Que a rima derradeira

Vai falar de Zé Limeira,

Patativa d'Assaré,

E também de outro Zé,

Que nem fede e nem cheira.

 

O famoso Zé Pereira

Dos saudosos carnavais,

Em que deixei os meus ais,

Numa triste quarta-feira,

Logo após a brincadeira

De rasgar a fantasia.

Inda hoje lembro o dia,

Era mês de fevereiro,

Eu passei o ano inteiro

Preparando pra folia.

 

Hoje resta a poesia,

Que me visita a lembrança,

Que sacode e não se cansa,

Como a trança de Maria.

Se pudesse eu voltaria

Pra buscar inpiração,

Mesmo sendo uma fração,

Um verbo mal conjugado,

Falecido no passado,

Mas vivo no coração.

 

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 06/03/2022
Reeditado em 06/03/2022
Código do texto: T7466427
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