RELEMBRANDO O SERTÃO

Quem já foi lá no sertão

Com certeza vai lembrar

Do prateado luar,

Do trovejar do trovão.

De orvalhar vegetação

Quem foi lá já bem foi ver

O sol bonito ao nascer,

O arrebol no poente.

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

O canto do bacurau,

O piscar do vagalume,

O lampião com seu lume,

O leite bom no curral,

O serrote e o pedregal,

O riachinho a correr,

A água fria pra beber,

A força da nossa gente,

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

Cada cavaco de pau

Que eu ajudei a juntar,

Fogão com lenha a queimar,

Rapadura em garajal,

Mané Mago e Serrapau,

Que vi muito aparecer,

Feijão verde pra comer,

Violeiros no repente,

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

A pescaria no açude

Com anzol ou com tarrafa,

A manteiga de garrafa,

As ervas para a saúde,

O vaqueiro, com atitude,

Pronto para resolver,

Raposa doida a correr,

O sol rachando o chão quente,

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

A copa do juazeiro

Pra quem quer ser sombreado,

O som do mugir do gado,

O espinhento cardeiro,

Frutos secos do pereiro

Usados para entreter,

Crianças com bom viver

Pensando inocentemente,

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

A cortada do capim,

Coalhada de leite azedo,

Gente acordando bem cedo,

O bom cheiro do jasmim,

O docinho do alfenim,

O som do bilro ao bater,

No chão babugem nascer

Depois da chuva presente,

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.

Tudo que aqui já contei

Não chega nem a metade

Da plena ruralidade

Que no sertão já passei.

Minimamente mostrei

Para ninguém esquecer

Parte do que pude ver

No sertão de antigamente.

EU GUARDO NA MINHA MENTE

TUDO O QUE O SERTÃO FOI TER.