QUARTO CAPÍTULO

O BÊBADO E O DESEQUILIBRISTA

Fiz da cana meu cantil

No cantil guardei cachaça

Da ginebra fiz trapaça

Na pinga gritei Brasil

Meu bucho quase funil

Falei pro doutor Zé Cova

Em processo de desova

Que mal um pinguço faz

Se fingindo satanás

Sendo Deus de vida nova?

ENTENDER TODO PECADO

É TER FÉ SEM ENTENDER

Brinquei subindo jambeiro

Na bela Polivalente

Tanta queda vi de gente

Depois era só berreiro

Bem me lembro dum parceiro

Brincadeira de querer

Pois, mesmo tendo sofrer

Sempre, sempre perdoado

Entender todo pecado

É ter fé sem entender.

ACORDA POVO GIGANTE

LUTAR FAZ A LIBERDADE

Se o país está quebrado

Eu até que não compreendo

Você fica se metendo

Prefiro ficar calado

Pode até ser um pecado

Desta tão humilde verdade

Dentro da sociedade

Não é bom ir adiante

Acorda povo gigante

Lutar faz a liberdade.

POESIA SERTANEJA

Poesia sertaneja

Enche meu baú de fatos

Faço chegar os relatos

Dos poemas de riqueza

Que me faz tanta grandeza

Desses dramas de matuto

Carregando tanto luto

Nos cordéis bem populares

E repentes seculares

Caboclo com seu charuto.

ENGENHO DO PASSADO

Num engenho do passado

Vi cambiteiros sorrindo

A lembrança vai surgindo

Da garapa sem trocado

Levavam tanto melado

Na fornalha do bagaço

A palha tinha compasso

Rapadura bem gostosa

Moagem mais saborosa

Hoje nada disto faço.

O QUE NOSSO OLHO NÃO VER

NOSSO CORAÇÃO NÃO SENTE

Já plantei sem ter colheita

Já andei sem ter caminho

Já deixei mãe sem carinho

Já lucrei sem ter receita

Já pirei cão na desfeita

Já dei comida a serpente

Já quebrei jogo em corrente

Já filei para aprender

O que nosso olho não ver

Nosso coração não sente.

SEIS VERSOS

Com dez versos comunico

Em décimas da razão

Nas falas do coração

Lá na frente só explico

Dizendo que não suplico

Rasgo todos adjetivos

Pra tragar aperitivos

Não sou fácil como verso

Nem tão menos quando peço

Silêncio pros sensitivos.

O NOSSO GRANDE MISTÉRIO

(aos mortos)

Nascer, viver e morrer

Tu nascestes numa paz

Para ser moça ou rapaz

Viestes para viver

Teus dias iriam ter

Fiel ou ser adultério

Queimado ou no cemitério

Viver para o cumprimento

Alegria e sofrimento

Eis esse grande mistério.

PRESEPADA DE MENINO

Me pediram pra fazer

Pau de sebo grandioso

E que ficasse seboso

Subiria para ver

Que tão belo entardecer

Mas eu sempre escorregava

A cabeça que chiava

O pau de sebo puxei

Todo dinheiro tirei

Corri que ninguém pegava.

O CORDEL É PORTUGUÊS

NO BRASIL VIROU NORDESTE

Meu pedacinho de verso

Gravado na consciência

Na matéria da ciência

É cordel que já foi impresso

Por favor Deus eu te peço

Sou nobre cabra da peste

Pois se erro não me deteste

Vou dizer mais uma vez

O cordel é português

No Brasil virou Nordeste.

Tenho tanto pra contar

Mas não sei se agora devo

Porque nunca eu não me atrevo

Para este fato narrar

Não me deixe se gabar

Feito filme em faroeste

Com artista lá do oeste

Eu conto de um até três

O cordel é português

No Brasil virou Nordeste.

O cordel vem na Bahia

Se espalhou pelo Brasil

Naquela tarde de abril

Ele teve seu leitor

Que leu o bom tema de amor

Com ódio e muita peste

Num cordel lá do Sudeste

O leitor leu mais de vez

O cordel é português

No Brasil virou Nordeste.

Fez a representação

Nesta história verdadeira

Personagem brasileira

Tem Maria e tem João

Esta arte é da Nação

Daquela Europa pro Leste

Pouca gente pouco investe

Bem dizia Santa Inez

O cordel é português

No Brasil virou Nordeste.

SONHO RASGADO

Cansei jogando confete

Cansei sendo coerente

Cansei sendo tanta gente

Cansei e isso só me compete

Cansei de chamar pivete

Cansei disso tudo errado

Cansei povo mau tratado

Cansei de viver sentido

Cansei de ser atingido

Cansei meu sonho rasgado.

VÍRUS DA DESTRUIÇÃO

Vírus que se fortalece

Vírus que se diz bem forte

Vírus que nos causa a morte

Vírus que sempre acontece

Vírus que a tudo aborrece

Vírus que forma opinião

Vírus que vem na razão

Vírus que ninguém precisa

Vírus que chega e não avisa

Vírus da destruição.

POBRE TEM PRO POBRE DAR

E O RICO QUERENDO MAIS

Neste Brasil que nascemos

Não é bom tanto poder

Que faz o pobre sofrer

Pois, juntos nós perecemos

Não dar, não sobrevivemos

No rosto pedimos paz

Voltar tortura jamais

Desse jeito eu vou falar

Pobre tem pro pobre dar

E o rico querendo mais.

Quem não tem pode mexer

Neste campo mandatário

É cura sem um lactário

Tantos nem querem saber

Pensando em muito ter

Não há vaga nos hospitais

Risadas dos generais

Fica difícil pensar

Pobre tem pro pobre dar

E o rico querendo mais.

NEGRO OLHAR

Quando aquele negro olhar

Se fez presente na história,

Houve sonhos no caminho,

Quase perde o contratempo.

Todos riram um sorriso

Que não se deve conter.

Cinco estradas são cruzadas,

Dois encontros no destino,

Olhares vislumbraram...

No prazer de negro olhar

Da alma se faz coração.

CONTRADIÇÃO

Ando tristonho e calado

E quando falo não entendo

Dou riso e fico sofrendo

E assim tenho caminhado

Se eu não for fico cansado

Meu mundo foi de ilusão

Feito carro em contramão

E assim a minha tristeza

Só me devolve a riqueza

Vivendo a contradição.

DEDILHANDO POESIA

Tristeza que dói no peito

Faz o coração sofrer

Arrebentando saber

Quem sabe tem o direito

Quem não faz perde conceito

Quando vem traz alegria

Quando sai não contagia

Cidadão que tem saudade

Vive assim sobre verdade

Dedilhando a poesia.

ANOS PASSAGEIROS

Os anos são passageiros

A vida quer a passagem

Ser Humano é imagem

Beatos e cachaceiros

Sagrados e presepeiros

Sonhos são petrificados

Na cama com condenados

Etapas não são cumpridas

São tantas as despedidas

Pra matar tantos pecados.

A IMPRENSA COM LIBERDADE

É IMPORTANTE NA VIDA

A Imprensa é combatente

Abre a lauda do dever

Nunca consegue esconder

O que mata tanta gente

Num poder intransigente

Ela é intrometida

E no tema dá partida

No ato da sociedade

A imprensa com liberdade

É importante na vida.

O BRASIL ESTÁ MORRENDO

O QUE PODEMOS FAZER?

Se essa matéria servir

Pela minha descrição

Eu peço preste atenção

Nunca queira se fingir

Para você não mentir

Agora vamos entender

Porque tudo vem sofrer

O que está acontecendo

O Brasil está morrendo

O que podemos fazer?

Nossa pergunta é esta

Que fala desse país

Tem gente que é feliz

Seguindo até para festa

Onde ela o certo detesta

E nem procura saber

Se esse vírus faz morrer

Com a doença vivendo

O Brasil está morrendo

O que podemos fazer?

CHUVA QUE TE QUERO BEM

Chuva que vem e que vai

Sacode a poeira da infância

Enfrenta toda a inconstância

Sou filho, amigo, sou pai

Do avô a imagem não sai

E esse pingo que recebo

Eu menino me percebo

É chuva que espanta a mágoa

Guarda comigo essa água

Que na boca o gosto eu bebo.

Chuva que molha ladeira

Molhando ricos e pobres

Entre os plebeus e esses nobres

Te quero por vida inteira

Ela quando vem ligeira

Caindo pesada na telha

Ferra mais que toda abelha

Deixando a vida em perigo

Só ou sonhando contigo

Nas árvores dou rasteira.

NO GOVERNO CORRUPÇÃO

O BRASIL VOLTA SOFRER

Meu prezado bom leitor

Escute que vou falar

Tem verdades pra contar

Resultado é pavor

Nos causando dissabor

Dá tristeza por saber

Tanta gente foi morrer

Se gritar pega ladrão

No governo corrupção

O Brasil volta sofrer.

SOLITÁRIO VIAJANTE

Mata se preciso for

Essa triste solidão

Que desfaz o meu perdão

Contraria minha dor

Colhe tudo que passou

Esta solidão destrói

Faz medo, depois corrói

O silêncio é distante

Solitário viajante

Na morte de ser herói.

ARTISTA SEM LEI

Quando meus sonhos se vão

Sou poeta vil sem lei

Quando mato qualquer rei

Sou xadrez sem coração

Na madeira da canção

Sou poeta pecador

Vez em quando me fiz dor

Dou xeque-mate na morte

E faço cordel de sorte

No vício de ser ator.

PULSAR

Do coração fiz pedaço

Da cabeça fiz imagem

Deste sangue dei coragem

Desta vida dei compasso

Deste corpo vi meu passo

Das artérias eu sangrei

Nas veias desesperei

Tive centenas de vidas

Todas elas recolhidas

No pulsar que não deixei.

TERRA QUE CONTAMINA

Vela para quem morreu

Pra clarear solidão

Porque neste coração

Há um que já pereceu

Em covas de quem viveu

Na pandemia cretina

Desta frágil assassina

Vela pra quem mais precisa

É o vivente que pisa

Na terra que contamina.

ENTRE MORTOS SOBREVIVO

Silêncio vida cruel

Neste dia dos finados

Onde corpos enterrados

Pensam chegar ao céu

Mas, chegam neste cordel

Exposto no meu barbante

Em busca de declamante

Cala-se quem está vivo

Entre mortos sobrevivo

Como povo num calmante.

É MELHOR PERDER A VIDA

QUE PERDER A LIBERDADE

Da frase fiz trocadilho

Pra melhor compreender

Olhem que é o poder

Medicina maltrapilho

Médico comendo milho

- É melhor perder a vida

Diz ministro da ferida

- Que perder a liberdade!

É tamanha crueldade!

Desta mente vil bandida.

PENSAMENTO DA GENTE

Dentro da gente que pensa

Há ser faminto letrado

Sonhos me fazem legado

Nada que tem recompensa

Ser livre não se compensa

Ando pensando sem ver

Não faz sentido saber

Vivo para reflexão

Penso na revolução

De gente que faz sofrer.

A SAUDADE DA PAIXÃO

ENOBRECE O MEU PRAZER

Sou solitário pensando

E nunca sei de onde vem

Essa dor que não faz bem

Um lugar que vai ficando

Pois eu fico aqui chorando

Sem saber o que fazer

Ando triste sem te ver

Sofrendo meu coração

A saudade da paixão

Enobrece o meu prazer.

EU CÁ COMIGO

Sou caminho sem estrada

És estrada sem caminho Sou chegada sem espinho És destino sem chegada Sou riacho sem noitada

És noite sem claridade

Sou clarão sem ter saudade

És lembrança sem se ver Sou visão sem ter prazer

És tudo sem liberdade.

ESTOU LISO

Não vejo chegar o dia

Para sentir todo cheiro Sei do teu lado faceiro

E me fiz de poesia

Se sentes algo, és guia

Porque te quero num riso Porém, e se for preciso Vou pôr a boca na tua Depois nós dois numa rua Brigando por eu tá liso.

FRIDA

Nesse pedaço de chão

Encontrei rastros de Frida Busquei minha despedida Sofrendo meu coração Maltratando vil canção Tentei sair desse lugar Impedido de saltar

Fiquei pensando no tempo

Expondo meu passatempo

Para Frida vir morar.

CATASTRÓFICO ALARIDO

às vítimas do Covid

É nesse lugar terrível

Onde habitam as incertezas

Tem aumento das pobrezas

Fazendo o povo sofrível

Nessa ambientação horrível

Que sobrevive o oprimido

Morrendo com seu gemido

Se contorcendo de dores

Enfrentando os dissabores Catastrófico alarido.

CÍNICA SAUDADE

A saudade nos maltrata

Assim falou meu diário

Já tão velho, sedentário

No risco que quase mata

Meu coração sem ter data

Pulou feito saudosismo

Sofreu pelo pessimismo

Pensou que tudo voltasse

Que diário respeitasse

Mas saudade faz cinismo.

EU SOU FILHO DO NORDESTE

E NÃO NEGO QUEM EU SOU

Cândida Vargas cheguei

No carnaval fiz folia

Minha mãe com alegria

Me fitando só chorei

Pra dizer como te amei

Mesmo sabendo da dor

Não percebi tal pavor

Hoje sou cabra da peste

Eu sou filho do Nordeste

E não nego quem eu sou.

MEU AMOR

Se por acaso meu amor

Tu quiseres me encontrar

Eu não posso te ofertar

Nesse silêncio da dor

Quem sabe ali, numa flor

Ou como a morte que espreita

O coração não te aceita

E quer viajar no abraço

Não duvides do fracasso

Pois, comigo outra se deita.

TODA ÁRVORE DÁ FLOR

E TODO CARRO TEM RÉ

Ninguém se sente culpado

Por não ter grande paixão

E bem menos dá razão

Por nunca ter namorado

Isto jamais foi pecado

Gritava Dona Zabé

Que morou lá em Sapé

Todo perdão tem amor

Toda árvore dá flor

E todo carro tem ré.

O CORDEL PROSSEGUE VIVO

NA CULTURA NORDESTINA

Seu moço quero contar

Por favor venha pra ver

Ligeirinho vai saber

O que vou poder falar

Meu folheto popular

No rastro da Serafina

A leitura bem ensina

Como ser mais prestativo

O cordel prossegue vivo

Na cultura nordestina.

UM COMPROMISSO MARCAD O

NUNCA PERDE VALIDADE

Não descumpra companheiro

Por mais difícil que seja

Jesus no céu nos proteja

Que nos faz mais verdadeiro

Na raça do brasileiro

Que traz no rosto verdade

Afasta vã crueldade

Sigo meu passo bem dado

Um compromisso marcado

Nunca perde validade.

NOSSA REPÚBLICA

Em 1889

Nossa República se proclamou

O D. Pedro II se mandou

Não por esta tal Covid-19

Mas, pela doença que nos comove

A política feita de traição

Tudo pelas armas da sedução

Neste país em constante conflito

Advindo daquele pintado grito

Faz tudo pela falsa corrupção.

MÍDIA CONSERVADORA

De tanto levar pancada

Em tempo das eleições

Há tantas contradições

O povo dando mancada

Numa grande mentirada

Mudam os nomes cretinos

Com os mesmos assassinos

A mídia quase canalha

Desde bom tempo que falha

Apoiando vãs malignos.

ESCADARIAS DA PENHA

Meu pranto se torna santo

Escadarias da Penha

Toda doença que venha

Faço dela belo canto

Eu subo sem acalanto

Nossa Senhora Pobreza

Pro devoto és riqueza

Caminho na romaria

Carregando nostalgia

Nos degraus da natureza.

MOLEQUE ATREVIDO

Fui moleque atrevido

Nas ladeiras do Castelo

Usando calção amarelo

Disse coisas sem sentido

Dei tabefe nos ouvido

Levei tapa no nariz

Um meninote feliz

Pulei da cama contente

Provei gole de aguardente

Pra dizer tudo que fiz.

PASSARADA NO QUINTAL

No cantar da passarada

Amora dá doces frutos

Belos saguins ficam putos

Sabiá toda noitada

Dá aquela musicada

Bem-te-vi com seu capuz

Fica chupando cajus

Papa Capim faz atalho

Pulando num gentil galho

Faz os céus bem mais azuis.

BANDEIRA DA NEGAÇÃO

TEM OS SEUS DIAS DE SORTE

Dois mil e treze raiou

Gente gritando sem medo

Criando frágil enredo

Tudo se contaminou

O ódio fez eleitor

Dois mil e quinze chegava

Tudo se descontrolava

Nas mágicas pedaladas

Uma dessas deputadas

Nas bandeiras enrolava.

Na mais profunda matéria

Dois mil e dezoito, bem

O poder vai ser alguém

Possuidor da bactéria

Que vem trazendo miséria

Mentira será suporte

Somada com tanta morte

País na destruição

Bandeira da negação

Tem os seus dias de sorte.

QUEM MENTE FICA PRA TRÁS

NO CAMINHO DA VERDADE

O meu pai sempre falou

Minha mãe fez eu cumprir

Tudo faz evoluir

No certo que se cruzou

Semente que se plantou

É colheita da bondade

Da fala sinceridade

Façamos cantar a paz

Quem mente fica pra trás

No caminho da verdade.

SAUDADE ME CHEGA BEM

NESSA TRISTE PANDEMIA

Nenhuma palavra soa

Na cabeça momentânea

Me sai de forma instantânea

Ver junto tanta pessoa

Sorri pra ver a Lagoa

E voltar só alegria

Dá beijo em plena folia

Quero me sentir alguém

Saudade me chega bem

Nessa triste pandemia.

NÃO FAÇA NADA COMIGO

JAMAIS SUPORTO TER DOR

Só imploro liberdade

Para viver do teu lado

Dizes que sou mais amado

Entre todos de verdade

Isto me faz ter saudade

Expressar todo fervor

Pra falar que é amor

É tão bom está contigo

Não faça nada comigo

Jamais suporto ter dor.

DIA DO CORDELISTA

Neste dia tão bonito

Preciso desabafar

Não posso, vou recitar

Mas, eu darei grande grito

Na força dum bom apito

Lá vai longe meu cordel

No clarão do grande céu

Parabéns pros cordelistas

Leandro fez nossas pistas

Nosso lindo menestrel.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 23/02/2022
Reeditado em 04/09/2024
Código do texto: T7459086
Classificação de conteúdo: seguro
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