DOIS LADRÕES DE SORTE
DOIS LADRÕES DE SORTE
Era um dia de folga
Eu passeava na Joaquina
Numa loja da esquina
Assisti a uma cena feia
A loja estava muito cheia
Todo mundo misturado
Nisso entra um suspeito
Eu olhei para o sujeito
Pensei vão ser assaltado
Ele já sacou de uma arma
Eu vi que era um tresoitão
Todo mundo deitou no chão
Muita gente se espremendo
Ele então foi recolhendo
Celulares joias e carteiras
Pôs numa mala e fechou
Pulou na moto e se afastou
Em desvairada carreira
A mala caiu no chão
Com os pertences roubados
Ele estava embriagado
Desprovido de pericia
Logo chegou a polícia
Que passava no instante
O tal ladrão alcoolizado
Sentiu que tinha falhado
Voltou buscar o restante
Foi preso na mesma hora
Ao camburão algemado
Foi falar com o delegado
Que puxou sua capivara
Descobriu que o tal cara
Era um famoso bandido
Mas pra surpresa geral
Aquele temido marginal
Foi muito bem atendido
O delegado se exibindo
Foi logo dando entrevista
Disse que era um ativista
Uma vítima da sociedade
Que diante da necessidade
Se obrigou a trabalhar
Pois estava na pindaíba
Era egresso de Curitiba
Por isso mandei soltar
E falou para o repórter
De maneira convincente
Que aquele pobre inocente
Não podia ser castigado
Curitiba estava marcado
Por outro caso parecido
Portanto não tinha moral
Pra prender um marginal
Como já havia ocorrido
E o marginal foi pra casa
Ficou somente o suspense
Ainda levou os pertences
Dos pobres ali assaltados
E continuou o delegado
Que apenas cumpriu a lei
Porque aquela indecência
Já virou jurisprudência
Por isso que eu lhe soltei
Uma dessas coincidências
Aqui chamou a atenção
Ele mais outro ladrão
Tinham algo em comum
Amor pela cinquenta e um
Os dois eram cachaceiro
No mais eram diferentes
Um era pobre indigente
O outro era trapaceiro
Somos iguais perante a lei
Segundo a constituição
Esse foi só mais um ladrão
Que ganhou a liberdade
Me perdoe a sinceridade
Por este gesto indecente
Ele era pobre sem noção
Já o outro roubou a nação
E pode ser presidente