Elegia para Solânea
Amigo Wolhfagon Costa
Eu quero lhe agradecer
Por me emprestar o seu livro
Que estudei com prazer
Sobre sua Vila Branca
Que me serviu de alavanca
Pra Solânea enaltecer
Seu trabalho militante
Preservando a memória
De Solânea e sua gente
Resgatando sua história
Prestando a reverência
Com amor e com decência
À cidade meritória
O meu humilde folheto
Dedico à contemporânea
Gente desta linda urbe
Conhecida por Solânea
Onde moro na divisa
Em marco que é baliza
De exultação simultânea
Bananeiras e Solânea
São assim meu duplo lar
Em dobrada geografia
Com um pé lá e outro cá
Igual cigano atoa
Também moro em João Pessoa
Vivo na serra e no mar
Manuel Batista Medeiros
Disse assim, com exaltação:
“Em Solânea não se entra
Sem expressar emoção
De Solânea não se parte
Sem levar a quota-parte
De feliz recordação”.
O poeta solanense
E seu olhar ufanista
Declara apenas apego
De trovador e artista
À terra que o viu nascer
Com o dever de esclarecer
Ao visitante turista
Que Solânea é capital
De um país chamado afeto
Aquele que aqui nasceu
É seu filho predileto
Seja rico ou seja pobre
No seu coração descobre
Esse apego concreto
Clicando na Rolleiflex
De Antonio Jararaca
Um antigo retratista
Que a memória destaca
Wolhfagon abre o tratado
Sobre seu torrão amado
E a saudade aplaca
Aurora fotografou
A Solânea dessa era
Também Alfredo Fabrício
A quem a missão coubera
De gravar em negativo
O retrato eterno e vivo
Que tanta saudade gera
Erguendo a cidade em pedra
Trabalhou o mestre Chico
Junto com Zé Araújo
No cordel eu certifico
Construíram grandes obras
Edificando eram cobras
Em concreto armado e rico
Wolhfagon elaborou
O projeto do Mercado
Obra de grande realce
Um dos maiores do Estado
Joaquim Nunes desenhou
Wolhfagon adaptou
E deu por inaugurado
Prefeito Arnóbio Viana
Concluiu esse projeto
No ano de oitenta e quatro
Sendo um gestor correto
Se Solânea evoluiu
Sua gestão confluiu
Para um caminho reto
Como retas são as ruas
Desta cidade tão plana
Um celeiro de artistas
Menos Arnóbio Viana
Que falou sinceramente
Não ter nenhuma vertente
De habilidade humana:
“Não sou atleta ou poeta
Não canto, não danço ou pinto
Não tenho talento algum
Da arte não tenho instinto
Me desculpo, pelo menos
Não sou desses obscenos
E sou sincero, não minto”.
Joaquim Nunes desenhista
Projetou ruas e praças
Cinema e rodoviária
Ele deixou para as massas
Genialidades pura
Da perícia e da cultura
Que hoje são tão escassas
Solânea deve ao Joaquim
O desenho da bandeira
Outro artista popular
Nessa cultura brejeira
Foi o grande Chico Flor
Esse grande criador
Arlequim de meio de feira
Também Wilson Bandeira
Outro artista solanense
Merecendo o registro
Pois ao panteão pertence
Dos grandes mestres da arte
Levantando o estandarte
Merecendo que se incense
Zé Miranda e o mamulengo
Que o povo chama Babau
Foi um ícone em Solânea
Bonequeiro em alto grau
Com o teatro de fantoches
Suas loas e deboches
Pelo boneco de pau
Wolhfagon também registra
Lugares de convivência
Tal qual o “Ferro da bomba”
Centro de maledicência
O pátio paroquial
Que era também local
Das fofocas sem clemência
Outro ponto de fuxico
Barraca de Brasilina
Tradição do interior
Onde o povaréu opina
Mete o pau na vida alheia
Ninguém escapa da peia
Vão todos pra guilhotina
Um setor que se destaca
A indústria calçadista
Tem o Pedro Sapateiro
Zé de Flora, outro artista
Eufrásio com Manoel Mota
Ofertaram sua cota
Sob esse ponto de vista
Alfaiate memorável
Foi o grande mestre Bento
Costurando para os homens
Igual Artur Nascimento
Vieram de Pernambuco
Da terra beberam o suco
E aqui firmaram assento
Ele saca da memória
Muitos nomes populares
De gente que construiu
Nos bordéis e nos altares
No campo e na rua grande
Esse estuo que expande
Sinais de vida aos milhares
Para ele são exemplos
Da gente trabalhadora
Construtora de Solânea
Que a cidade é credora
Merecendo ser lembrados
Devidamente marcados
Para a geração vindoura
Jardineiro Celestino
Foi fundador do PT
João Patrício, Mestre Jorge
Esses ficaram à mercê
Da sanha da ditadura
Por lutarem com bravura
Insurgente dossiê
Maria Tinto, parteira
Também a dona Chiquinha
Enfermeiro Seu Cirilo
E quem passava meizinha
Zé Inácio e João de Fausto
Recuperavam o hausto
Do débil como convinha
Profissionais de saúde
De grande abnegação
Faziam de sua arte
Não apenas ganha-pão
Mas um exercício digno
No seu ofício benigno
Em prol da população
O carnaval de Solânea
Ele lembra com saudade
O bloco do Foiará
Provocação sem maldade
Milton Mago e seu Artur
Desfilando com glamour
Pelas ruas da cidade
Zé do Óleo e Adonias
Manezim da Bateria
Foliões rememorados
Campeões da alegria
Com Edjard do DER
A lembrança nos aferre
E a saudade seja a guia
Clube Grêmio Morenense
E o famoso Vila Branca
De Geraldo e Chico Alves
Jamais jogam na retranca
A cultura solanense
Nunca empata, sempre vence
E a deslembrança desbanca
Wolhfagon Costa escritor
Nasceu, cresceu e casou
Na sua Solânea bela
Por vezes se ausentou
Mas a memória ele zela
E a nostalgia debela
Para isso ele estudou
“Um olhar sobre Tancredo
De Carvalho” é a obra
Escrita por Wolhfagon
Onde versado desdobra
Impressões de sua terra
Em cujo solo ele aferra
Seu amor que não soçobra.