A noiva da baixa do jenipapeiro
De um jeito quase temente
E por vezes supersticioso
Alguns acham que mente
Conta causos de trancoso
Mas quando chega visita
Naquela cidade bonita
Chamada Vila Mimosa
Durante um dedo de prosa
Ouve essa estória esquisita
De uma noiva misteriosa
Dando conta sem maldade
De uma lenda da cidade
Sobre uma moça formosa
Mas cuja sina desditosa
Desperta a curiosidade
Quem chega à localidade
Mesmo sendo forasteiro
Fica ciente primeiro
Dessa triste fatalidade
Na baixa do jenipapeiro
São sete anos de entreatos
Assim comprovam os fatos
Deixando o povo assustado
Com o coração revoltado
Clamando por providência
Mas sem achar na ciência
Uma plausível explicação
Que concatene a razão
A um mínimo de coerência
Para explicar a situação
Assim mantém-se o mistério
Mesmo sendo muito sério
Quase ninguém acredita
Que aquela saga maldita
De novo irá se cumprir
E quase sem o conseguir
Procura ignorar a história
Até que a triste memória
Seja obrigada a admitir
Duma forma compulsória
E nos sete anos apenas
Superados a duras penas
Se perdeu algum parente
Todo o povo displicente
Do fato logo se esquece
A lembrança se esvanece
O tempo passa ligeiro
De novo chega janeiro
A nuvem negra aparece
E desaba o aguaceiro
São as fortes trovoadas
Chuva intensa e enxurradas
Que o verão caracteriza
E toda a cidade paralisa
Chovendo intensamente
Sobe o rio com a enchente
Alaga próximo ao outeiro
É o prenúncio costumeiro
Dessa tragédia recorrente
Na baixa do Jenipapeiro
Então o suspense se instala
Quem lembra nunca fala
Temendo uma repetição
O silêncio em contrição
Mais invoca que a evita
Nova desgraça se cogita
Ainda que haja esperança
De ser ano de bonança
E o medo logo se agita
Renovando a insegurança
E a maldição nunca falha
A notícia logo se espalha
Que a lagoa já está cheia
A noite a lua nova clareia
E a chuva segue constante
De repente a voz distante
Começa a implorar ajuda
O som do terror não muda
Bem intensa e penetrante
Sôfrega, trêmula e aguda
É a triste alma amaldiçoada
De uma noiva abandonada
Outrora sozinha no altar
Que fez da lagoa o seu lar
Onde lançou-se deprimida
Renunciando à própria vida
E seu vestido enroscou-se
No garrancho ali presente
Carregado pela enchente
Naquelas águas afogou-se.
Escolhe o novo coitado
Que se comove assustado
Não sabe que foi escolhido
Para ser o novo marido
Daquela noiva defunta
E o povo logo se ajunta
Testemunha o desespero
A vizinhança toda aflita
Com o moço que alto grita
Na baixa do Jenipapeiro
Mais um pobre condenado
Que pela moça enganado
Foi tentar fazer o bem
Porém sem saber a quem
Entra na lagoa sombria
E ao tocar-lhe a pele fria
Perde o senso e o sentido
E mesmo sabendo nadar
A morte não pode evitar
E logo fica emudecido
O povo de ouvido atento
Escuta o triste lamento
E corre para ver quem é
Alguns vão pé ante pé
Espreitar atrás da cortina
Mas se algazarra desatina
Outros correm ao terreiro
Mas não veem o consorte
Que casou-se com a morte
Na baixa do jenipapeiro.
Adriribeiro/@adri.poesias
Obs. Cordel não escansionado e sem métrica