O MENINO DE UM OVO SÓ

POR JOEL MARINHO

 

Esta história é verídica

Sou testemunha ocular,

Pois eu vi o meu irmão

Todo tristonho a chorar

Num tempo em que a vida

Era por demais sofrida

É difícil até de narrar.

 

O choro do tal coitado

Se deu por um acidente

Quando voltava correndo

Da “bodeguinha” contente

Com um ovo em sua mão

Tropeçou, caiu no chão

Melhor que quebrassem os dentes.

 

Foi o que deu pra comprar

Naquela crise grandona

Em que o maldito Collor

Fez do Brasil uma zona

Na queda o ovo quebrou

As lágrimas que ele chorou

Enchia o rio Amazonas.

 

Só tinha um feijão com sal

Naqueles dias de inverno

Nada o amolecia

Nem o fogo do inferno

E um arroz “meleguento”

Que mesmo sendo nojento

Ali era o mais moderno.

 

Naquele dia fatídico

Que o coitado conseguiu

Uns centavos pra salvar

Mais um pobre do Brasil

Era só felicidade

Mas o diabo por maldade

Empurrou e ele caiu.

 

Enquanto ele soluçava

Uma promessa fazia

Que quando ele trabalhasse

Uma loucura faria

Compraria uma cartela

Com farinha e mortadela

E trinta ovos comia.

 

A miséria ainda foi grande

Porém o tempo mudou

E conseguiu um trabalho

Do ovo então se lembrou

Foi lá na mercearia

Dizendo que merecia

E trinta ovos comprou.

 

Meio quilo de farinha

Fez o maior farofão

E comeu os trinta ovos

Eita promessa do cão

Comeu tanto e passou mal

Quase baixa o hospital

Mas comeu igual leão.

 

Isso tudo é real

Nada inventei ou ouvi

Fiz parte dessa história

Junto com ele sofri

Enquanto vida eu tiver

Repito a quem quiser

Porque meninos, eu vi.