O JUMENTO ESTUDANTE

Contou um amigo meu

Que mora em Livramento

Que existia um professor

Por nome de Nascimento

Chegou na sala de aula

E tinha lá um jumento.

Os alunos do lugar

Eram fracos na leitura

Resolveram então chamar

Um mestre de envergadura

O jumento “Coroné”

Burro de grande cultura.

O professor exigente

E sempre ele se renova

Escreveu tudo no quadro

O aluno é que se reprova

Falou para o jumento:

- Amanhã tem prova!

O jumento abestalhado

Deu uma grande rinchada

Os alunos só olhando

Deram aquela gaitada

O professor de fininho

Fez a sua retirada.

Os alunos brincalhões

Não sabiam o que seria

É que haveria prova

Depois do bendito dia

Professor deu a matéria

Só isso se bastaria.

Assunto foi abordado

E a prova foi marcada

Jumento sem entender

Deu um coice e relinchada

O aluno Zé Francisco

Pensou na grande cagada.

A turma toda queria

Enfrentar o professor

Deixando aquele jumento

Ele não se incomodou

Deu sua aula normal

E não se preocupou.

O jumento ali na sala

Ficou só observando

Os números daquele quadro

O professor anotando

Sem entender o assunto

Preferiu ficar rinchando.

O assunto que foi dado

Teve sua explicação

O professor pensou bem

Teve a resolução

Olhando bem o jumento

Criou sua condição.

Daria toda matéria

E assim a aula se fez

Sempre dizia ao jumento:

- Estude cabra, desta vez!

E o jumento confirmava

Sem nem contar até três.

Professor achou estranho

Aquela vagabundagem

Mas deu tranquilo a aula

Sem pensar na sacanagem

Anotou na caderneta

E do tema fez montagem.

O jumento ali no canto

Aprendeu bem direitinho

Vendo o grande professor

Anotar num caderninho

Tudo que foi estudado

Tentou sair de fininho.

O professor não deixou

E o jumento foi buscar

Botou ele no cantinho

Pra aula continuar

Jumento resmungava

Os pontos pra decorar.

Enquanto isso lá fora

A turma impaciente

Sem entender o processo

Do jumento feito gente

Zé Francisco o mais afoito

Quis logo passar na frente.

O silêncio era tamanho

Já chegava junto o medo

O porquê de tudo aquilo

Que se tornava um segredo

Não sabia o resultado

E nem tampouco o enredo.

Só sei que naquela sala

A aula chegava ao fim

Jumento desconfiado

Achou tudo muito ruim

E o professor bem calmo

Dizia: É mesmo assim!

O jumento ainda ficou

E uma mijada ele deu

A sala toda mijada

E o mijo muito fedeu

O professor bem tranquilo

Nenhuma piscada ele deu.

Depois de forte mijada

Uma cagada saiu

O jumento melou tudo

E dali escapuliu

O professor paciente

Olhou, mas fez que não viu.

O jumento foi embora

A turma ficou olhando

O burrinho estudante

O discente discrepando

Aí a Dona Custódia

Deu bom dia e foi chegando.

Ela era a diretora

E quis saber o ocorrido

A turma insinuou

Que o mestre tinha morrido

Dona Custódia então disse:

- O que terá acontecido?

Enquanto isto voltemos

À aula do professor

Que logo apagou o quadro

E ali tudo anotou

Pegou sua caderneta

E um por um ele chamou.

Ana Maria faltou

Carlinhos também não veio

José Francisco é falta

E foi grande o aperreio

Olívio também faltou

E o que senta no meio.

Todo mundo levou falta

Foi o assunto registrado

Passando pelo jumento

Disse: O tema foi dado!

E na direção da escola

O ato foi comentado.

O jumento ainda fedendo

Não tinha como falar

Porque se ele rinchasse

Tudo podia passar

Mas a turma insistia

Pra o professor condenar.

A aula de matemática

Alunado não aguentava

Isto vendo o assunto

Era só o que se falava

O professor ali passando

Dizia que aguardava.

Ainda teve um aluno

Que disse: É o fim do mundo!

Como pode um professor

Dar aula para um moribundo

Isto no mínimo é coisa

Deste tal de vagabundo.

Já outro desconectado

Sem ter razão já dizia:

- Lá só tinha um jumento

E o professor não conhecia

Eu acho que se lascamos

Por causa desta Maria!

Maria não aguentou

E jogou foi o cachorro:

- Quem foi culpada foi ela

Aquela peste Socorro

Se foi eu, juro que cego

Eu fico aqui e morro!

Neste instante se aproxima

O Professor Nascimento

Um Mestre da Matemática

E de grande ensinamento

Que deu aula um dia só

Para um aluno jumento.

A diretora da Escola

Não gostou daquela discórdia

Suspendendo toda turma

E pediu misericórdia

Ficou muitíssimo brava

A grande mestra Custódia.

O Professor Nascimento

No dia de Santo Antônio

Suspendeu aquela prova

E defendeu o patrimônio

Recebeu a sua folga

No dia do matrimônio.

E assim termina o “causo”

Um cordel bem brasileiro

Que falou de um tal jumento

Distante do seu terreiro

Na sala com professor

Foi um aluno bagunceiro.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 29/11/2021
Reeditado em 04/09/2024
Código do texto: T7396475
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