SONHO DE VERÃO
SONHO DE VERÃO
I
Médico lá da cidade
se meteu no interior...
vendeu suas propriedades
e o carro de bom valor,
juntando todas as rendas
foi comprar uma fazenda,
sonho antigo do doutor.
I I
Chegando na "Rebimboca"
pra impressionar "abre mão"
e vai "bancando o boboca",
todos pensam que é "barão".
Sem ver que "a lei que vigora"
é que ganha mais "quem chora"...
foi fazendo "um papelão" !
I I I
Nas cercas, com os moirões,
gastou o pouco que tinha.
Lhe sobraram uns tostões
pra quitar 8 galinhas,
mas carecendo comprar
qualquer coisa no lugar...
não tinha nem pra farinha !
I V
Precisou fretar um barco
para ir pra grande feira
metendo os pés lá no charco
na madrugada vasqueira...
remou 3 ou 4 horas
-- pra voltar igual demora --
e a manhã se foi, inteira.
V
No sítio de muitas frutas
achou gente "que é parceira"...
se dorme o "sono dos justos"
"limpam" de noite a mangueira.
Somem limão mais laranja,
banana, abacate, "tanja"...
vão causando "disgracera" !
V I
Pra ganhar um pouco mais
mandou aprontar canoa
e o sujeito -- incapaz --
lhe fez uma coisa à toa:
mas o "troço" é tão pesado
que é igual "barco furado"...
afunda de popa a proa !
V I I
Descobriu que, na fazenda,
tem "no cabeço" 1 sócio
que sua madeira "arrenda",
faz com ela bom negócio.
Está "pelando" o terreno,
lá só ficou "pau pequeno"
e êle "bancando o beócio" 1
V I I I
Com os seus 2 confinantes
decidiu fazer o "pico"
pra levar cerca adiante,
mas seguindo o velho risco.
Um aceitou sem problema,
o outro viu naquilo "esquema"
e ficou demais arisco.
I X
O caso foi pra Justiça
pra resolver a "questã"
e a doutora -- meio omissa --
ficava uma manhã
na cidade, a cada mês,
só um processo por vez...
deixava o povo "tantã" !
X
Foi lá servente da Lei
juramentado e de fé:
-- "No pico do sítio achei
pés de "maniwa" e café...
tem razão o confinante,
o pico não segue avante,
o "barão" 'tá de má-fé" !
X I
Só depois o doutor soube
que à Justiça deu presente;
ao fiscal malandro coube
algo muito "deferênti":
uma noite com a filha...
"ficava tudo em família",
mais garrafa de aguardente !
X I I
Demorou, mas percebeu
que o sonho foi um engano...
em meses envelheceu
para mais de 20 ANOS.
Na fazenda largou tudo,
os projetos em estudo,
deram errado seus planos !
X I I I
Mais "duro" que "pau" de noivo
retornou para a cidade;
todo mundo o acha doido,
não entende a "novidade" !
De uma noite de verão
seu SONHO virou, então,
pesadelo de verdade !
X I V
Quem fôr comprar terra, pense,
que o risco não é pequeno !
Pode parecer "non sense"...
"não pise em qualquer terreno"
ou findas sob"7palmos"
sem rezas, Missa nem salmos,
sem que os seus saibam, ao menos !
"NATO" AZEVEDO
(21/nov. 2021, 16,30hs