Memórias

ME PEGUEI AQUI CHORANDO

LAMENTANDO OS MEUS AIS

LEMBRANDO DE MINHA INFÂNCIA

LÁ NA CASA DE MEUS PAIS

DOS DIAS DE INVERNADA

E O CANTO DA PASSARADA

ESSAS COISAS NÃO VEJO MAIS

LEMBRO-ME BEM DO MOINHO

QUE MAMÃE QUEBRAVA O MILHO

PENEIRA O XERÉM

PARA ALIMENTAR OS FILHOS

DA CRIAÇÃO NO TERREIRO

OS CAPÃOS NO GALINHEIRO

E A FARTURA NOS SILOS.

SE CHOVIA, NA LAGOA

OS SAPOS ENTRAVAM EM FESTA

AS MAQUINAS NA PLANTAÇÃO

PARECIA ATÉ ORQUESTRA

O TO-TOC QUE ELAS FAZIAM

FEIJÃO E MILHO DESCIAM

NAS COVA QUE ESTAVAM ABERTAS

E JÁ ERA UMAS OITO HORAS

MAMÃE FAZIA DESSE JEITO:

ENXIA O CALDEIRÃO

COM SEU ALMOÇO BEM FEITO

LOGO CHAMAVA MARIA

QUE ENROLAVA UMA RUDIA

E PARTIA PARA O EITO

DEBAIXO DO JUAZEIRO

OU DE UMA BORLEITEIRA

SENTAVAM PARA ALMOÇAR

NUMA DIGESTÃO LIGEIRA

QUE ERA PRA NÃO PERDER HORA

POIS ANTES DE IR EMBORA

TIRAVA UMAS CINCO CARREIRAS.

E BEM NA BOCA DA NOITE

ERA QUE PAPAI CHEGAVA

COM SUA ENXADA NO OMBRO

PEGAVA A LIMA E AMOLAVA

LAVAVA SÓ PÉ E MÃO

E EM VOLTA DO FOGÃO

A JANTA MAMÃE APRONTAVA

CARNE SECA NO CAMBITO

OS PRATOS NO APARADOR

CANDIEIRO NO CARITÓ

NO GIRAU, UM COBERTOR

NO CANTO DA SALA, UM PAIÓ

CANGAIA, BALAIO E UM AIÓ

E UMA REDE NO ARMADOR

UM O POTE LÁ NA VARANDA

E OS COPOS NO CABIDO

PAPAI SOCAVA O CANECO

EITA BARULHO BONITO!!!

BEBIA UNS DOIS OU TRÊS

E O ROSÁRIO DEPOIS DA SEIS

ERA DIÁRIO ESSE RITO.

E NA HORA DE DORMIR

ASSIM PARA NÃO FICAR MAL

TOMAVA A BENÇA AOS DOIS

FAZIA O PELO SINAL

ESTA VIDA NO SERTÃO

SEI QUE NÃO VOLTA MAIS NÃO.

E HOJE NÃO HÁ NADA IGUAL.

Oxelucia
Enviado por Oxelucia em 22/11/2021
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