AS SETE MENINAS DO POÇO

Poço Redondo em Sergipe

Era um pequeno povoado

Que na década de trinta

Esteve muito ligado

Ao movimento andarilho

Tendo muito de seus filhos

No banditismo ingressado.

Esse dito povoado

Ficou no Brasil inteiro

Famoso por ter criado

Mais de trinta cangaceiros

E ainda sete meninas

Que amargaram suas sinas

Nesse mundão bandoleiro.

E além de cangaceiros

Provocando estardalhaço

Também havia coiteiros

Inrustidos no pedaço

Poço Redondo ganhou

O título que a nomeou

De Capital do Cangaço.

Antes do grande fracasso

O famoso Lampião

Exerceu forte influência

Por toda a região

Em tudo ele opinava

O povo já o chamava

De poderoso chefão.

E além de Lampião

Sub-chefe Zé Sereno

Sub-chefe Mariano

E também Mané Moreno

Sub-grupos comandavam

Também influenciavam

Em todo aquele terreno.

A mulher de Zé Sereno

Mais duas do povoado

As três que sobreviveram

Ao cangaço do passado

Só três que sobreviveram

As outras quatro tiveram

O seu destino traçado.

O pequeno povoado

Que seu destino traçou

No Estado sergipano

Que grande fama ganhou

Nesse estado pequenino

Foi por obra do destino

Que o cangaço acabou.

A chacina que matou

Maria mais Lampião

Foi na Grota de Angicos

Naquele vasto sertão

Por ironia do destino

O final de Virgolino

Foi naquela vastidão.

E nessa povoação

Poço Redondo afamada

Mais de trinta aventureiros

Abandonaram a morada

E a família segura

Pra seguir a aventura

De uma vida desregrada.

E também nessa jornada

Se foram sete meninas

Deixando suas vidas mansas

Pela vida severina

Perigosa, perturbada

Violenta e arriscada

Da caatinga nordestina.

Cada uma das meninas

Se uniram a cangaceiros

Jovens simples que viveram

Perigosos bandoleiros

Que morriam a céu aberto

Ou viviam incobertos

Por abastados coiteiros.

Nomes com Marinheiro

Zabelê e Cajazeira

Correnteza, Delicado

Os melhores em carreira

Novo Tempo, Diferente

Que morreram de repente

Com a cara na poeira.

Das mulheres cangaceiras

Quatro delas pereceram

Na caatinga nordestina

Outras três sobreviveram

Para contar suas histórias

E suas lutas inglórias

No cangaço onde viveram.

Das mulheres que morreram

No cangaço, Enedina

A mulher de Cajazeira

Cumpriu sua triste sina

Quando em Angicos morreu

Junto ao companheiro seu

Naquela carnificina.

Áurea, outra bela menina

Que vivia com o cangaceiro

Mané Moreno foi morta

Junta com seu companheiro

Quando tiveram um rompante

Com soldados da volante

Morreram no tabuleiro.

Pela lei dos cangaceiros

Mulher sozinha no bando

Tinha que ter companheiro

Pra não cometer desmando

Rosinha de Mariano

Perdeu o seu soberano

Morreu de modo nefando.

Morta pelo próprio bando

Por ter ficado sozinha

Se Mariano morreu

Também morria Rosinha

Desprezou sua família

Para seguir nova trilha

E teve morte mesquinha.

Áurea, Enedina, Rosinha

A quarta era Adelaide

Companheira de Criança

Que morreu na flor da idade

De parto mal sucedido

Junto com o recém-nascido

Em uma calamidade.

Assim como Adelaide

Muitas mulheres morriam

No cangaço ou na caatinga

De parto e ninguém sabia

Sem recurso, sem ajuda

Sem ninguém que lhes acuda

E poucas sobreviviam.

Com elas também morriam

Os rebentos sem futuro

Por falta de condições

Muitas vezes prematuros

Por fome, desnutrição

Fraqueza ou inanição

Sem ter um porto seguro.

Muitas vezes o futuro

Era um amparo coiteiro

Que criavam esses filhos

Nascidos no tabuleiro

E só depois lhes contavam

Que os pais não os criavam

Porque eram cangaceiros.

Houve muitos brasileiros

Que foram homens de bem

Nascidos na caatinga

Criados por outro alguém

Porém os pais verdadeiros

Mesmo sendo cangaceiros

Eram humanos também.

Sendo pessoas de bem

Nunca sentiram saudade

Do lugar onde nasciam

Talvez por dificuldade

Por isso nunca quiseram

Saber como e donde vieram

Preferiam a cidade.

As outras três, na verdade,

Foram Adília de Canário

E Sila de Zé Sereno

Que cumpriram seu fadário

Com Dinda de Delicado

Que trouxeram seus legados

Desse tempo refratário.

Poço Redondo o cenário

De tantos jovens ordeiros

Que abandonaram as famílias

Pra se tornar cangaceiros

Mudarem da vida o jeito

Virar bandidos no eito

E morrer nos tabuleiros

A sina dos cangaceiros

Foi terminar em destroço

Envelhecendo criança

Morrendo ainda tão moço

Como morreu Virgolino

E tendo o mesmo destino

SETE MENINAS DO POÇO.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 08/11/2021
Código do texto: T7380854
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