MARIA JOVINA E A TRAIÇÃO A PANCADA

Adelaide de Jesus

Chamada Maria Jovina

Foi mais uma conhecida

Cangaceira nordestina

Optou pelo fracasso

Ao entrar para o cangaço

Ainda quase menina.

Essa moça nordestina

Era uma alagoana

Seu pai, Jovino Nonato

Zona rural de Santana

De Ipanema, agricultor

E pequeno produtor

de fumo, algodão e cana.

Jovina, muito bacana,

Descuidou-se e foi roubada

Por Lino José de Souza

Conhecido por Pancada

Do grupo de Lampião

Conhecido na região

Dos mais cruéis da cambada.

Maria Jovina e Pancada

Antes já se conheciam

Flertavam de vez em quando

Porém não se decidiam

Muitas vezes se encontravam

Nem um nem outro falavam

Escondendo o que sentiam.

Porém os dois já sabiam

Que havia grande atração

Moravam perto um do outro

Esperando uma ocasião

Depois Pancada sumiu

E de repente surgiu

No bando de Lampião.

Surgiu a ocasião

De ter uma companheira

E convidou Adelaide

Para ser sua parceira

Abandonar os seus pais

Se embrenhar nos carrascais

E se tornar cangaceira.

Adelaide deu bobeira

Sem querer se decidir

Ele a jogou na garupa

E se afastou dali

Ela não criou impasse

Deixou que ele a levasse

E resolveu lhe seguir.

Estava sempre a sorrir

Era formosa, baixinha

Mesmo sendo mulher feita

Só 14 anos tinha

Com o rosto arredondado

Cabelo encaracolado

Era muito engraçadinha.

Andava sempre na linha

A Pancada acompanhando

Todos já gostavam dela

Mas sempre lhe respeitando

Pancada era violento

E estava sempre atento

Os seus passos vigiando.

Virou destaque do bando

Por estar sempre animada

Gostava de enrolar

Os cigarros da moçada

Quanto mais lhe encomendava

Mais cigarro ela enrolava

Não reclamava de nada.

Acompanhava a cambada

Escondida pelo mato

Quando eles guerreavam

Foi numa dessas que gato

Lhe pediu que enrolasse

Um cigarro e lhe entregasse,

Foi o seu último ato.

Em Piranhas quando Gato

Brigava junto à cambada

Foi ferido em tiroteio

Não pôde fazer mais nada

Os companheiros fugiram

Ao Gato não acudiram

E ele foi morto a pedradas.

E quando a cangaceirada

Guerreava novamente

Jovina não atirava

Mas sempre estava presente

E viu Virgiínio alvejado

Cair no chão baleado

E morrer na sua frente.

E mesmo estando presente

Ajudando ao companheiro

Pancada era muito rude

Ignorante e grosseiro

E à mulher agredia

Batia o quanto queria

Como todo cangaceiro.

Certa vez num entrevero

Que teve com a mulher

Amarrou-a no cavalo

E fez ela andar a pé

Sem escutar seus apelos

Puxava-a pelos cabelos

Montado em seu pangaré.

Três léguas andando a pé

Sem dó do seu padecer

Se o cavalo galopava

Ela tinha que correr

Isso fez com que Jovina

Amargando sua sina

Procurasse lhe esquecer.

Começou sentir prazer

Só em pensar em traição

E jogou seu charme em cima

Do cangaceiro Balão

Um cabra conservador

Porém ela começou

Seu jogo de sedução.

O cangaceiro Balão

Era muito dedicado

Ao cangaceiro Pancada

E fazia seus mandados

Sempre alegre e divertido

No bando era conhecido

Por moleque de recado.

Certo dia, convidado,

O cangaceiro Balão

Teria que acompanhar

Jovina em uma missão

Ela cheia de desejo

Aproveitou o ensejo

Pra praticar a traição.

Pancada mandou Balão

Com a mulher e ninguém mais

Buscar umas previsões

E objetos pessoais

Que ele tinha trazido

E deixara escondido

Por aqueles carrascais.

Jovina não pensou mais

E iniciou a sedução

Abraçando o cangaceiro

Fazendo provocação

Dizendo que ele brigava

Porém não acreditava

Na macheza de Balão.

Aquela situação

Deixou o homem constrangido

O que ela estava dizendo

Não tinha nenhum sentido

Ela, mulher de pancada

Que era seu camarada

E um amigo querido.

«Não quero ser atrevido

Com a mulher de ninguém

Mulher você se controle

Se conforme com o que tem»

Jovina lhe respondeu:

- Digo isto porque eu

Te gosto e te quero bem.

Mas vi que você não tem

O que a mulher surpreende

- Jovina não diga isso

Se não voce se arrepende!

- Apois me jogue no chão

E mostre quem é Balão

Se é que você me entende.

- Já disse, tu te arrepende

De ficar me provocando!

Ela deitou-se no chão:

- Pois venha, estou te esperando

Ele não mais aguentou

Pra riba dela embicou

E terminaram «coisando».

Depois sairam andando

Pra cumprir o prometido

E ao voltar repetiram

O que tinha acontecido

Ao chegarem disfarçaram

Mas aí continuaram

Fazendo amor escondido.

Esse fato acontecido

Foi uma grande exceção

Porque a lei do cangaço

Não permitia traição

Mas se alguém insistisse

E o traido descobrisse

Haveria punição.

O cangaceiro Balão

Tinha muitas pretendentes

Já pai de 23 filhos

Com cinco mães diferentes

Garanhão insaciável

Conquistador implacável

Parceiras irreverentes.

Jovina foi diferente

Pois ele não procurou

Que ela já tinha dono

Ela foi que provocou

Depois ficaram se amando

Muito tempo se encontrando

E ninguém desconfiou.

Quando o bando se entregou

E receberam anistia

Uns foram pra Pernambuco

Outros foram pra Bahia

Em entrevista Balão

Falou nessa relação

Que entre eles existia.

E depois da anistia

Foi cada um pro seu lado

Lino terminou seus dias

Com Adelaide casado

E a história conturbada

De Jovina com Pancada

Ficou no tempo passado.

Jovina ter escapado

No cangaço foi por sorte

Pois mulheres como Lídia

Maria Bonita a mais forte

Eleonora, Enedina

Cumpriram lá sua sina

Se encontrando com a morte.

Por desatino, por sorte

Quem morreu, quem escapou

São histórias do cangaço

Que a muito tempo findou

Já não há mais ninguém vivo

Só histórias em arquivo

E o cordel terminou.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
Código do texto: T7380823
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