O CANGACEIRO BEIJA-FLOR
Uma caricatura indica
Onde houve estardalhaço
E o medo do sertanejo
Em relação ao cangaço
Maior chaga do sertão,
Principalmente Lampião
Que terminou em fracasso.
A história do cangaço
Não para de ser contada
Desde o tempo do Império
Que vem sendo pesquisada;
Nas lutas pelo sertão
A turma de Lampião
Sempre foi a mais visada.
As medidas aplicadas
Foram avassaladoras
Provocando muitas baixas
E de tão destruidoras
Atingiam os dois lados
Matando muitos soldados
Das equipes caçadoras;
Uma dupla pesquisadora
Do cangaço no sertão
Descobriu um cangaceiro
Do bando de Lampião
Por nome de Beija Flor
Que em Mossoró atuou
Com grande destruição.
Beija Flor tinha um irmão
Por nome Cacheado
Filhos e Arsênio Gomes
Que havia sido soldado
Um lutou pelo sertão
No bando de Lampião,
Do irmão acompanhado.
Beija Flor, o mais ousado,
Foi temível bandoleiro
Tinha mais de trinta mortes
Enquanto foi cangaceiro
E teve participação
No encontro de Lampião
Com o Padre em Juazeiro.
Apesar de cangaceiro
Beija Flor tinha respeito
Nossa Senhora das Graças
Ele trazia no peito
Pois lhe tinha devoção
E a clamava em oração
Quando brigava no eito.
Cangaceiro desse jeito
Na caatinga havia de mais
Porém tinha mais volante
Por aqueles carrascais
Tendo como resultado
Beija Flor capturado
Por treze policiais.
A notícia nos jornais
A muitos surpreendeu
Que ao ver uma volante
Beija Flor nem se moveu
E sem nenhum sururu
Foi preso em Tacaratu
Pelo tenente Amadeu.
Em Recife apareceu
Fortemente escoltado
Mesmo sendo analfabeto
Era bem desenrolado
Falava fluentemente
Surpreendeu muita gente
Quando foi interrogado.
Contou que havia chefiado
Um bando independente
Assassinou mais de trinta
E assaltou muita gente
Junto com o seu irmão,
Encontros com Lampião
Eram ocasionalmente.
Ao ser preso, certamente,
O lema e um cangaceiro
Era esquecer o que houve
Não entregar companheiro
Para não ser delator,
Assim foi com Beija Flor
No dia três de fevereiro.
Perguntado a cangaceiro
Disse que nada sabia
Do bando de Lampião
Que há dois meses não via
Quando foi capturado
Não estava acompanhado
Indo à sua moradia.
Mas todo mundo sabia
De Beija Flor o passado
Ele era pernambucano
E teria acompanhado
Lampião, o cangaceiro
Na viagem a Juazeiro
Com seu irmão Cacheado.
Beija Flor era aloirado
E tinha boa estatura
Não temia adversário
E tinha desenvoltura
Nas batalhas no cangaço
No ferro, fogo ou no braço
Fazia boa figura.
Lá na Casa da Cultura
Onde antes foi prisão
Beija Flor ainda chegou
A ser centro de atenção
E era visto com malícia
Pelo chefe de polícia
Eurico Sousa Leão.
Beija Flor lá na prisão
Chegou a surpreender
Ao chamar um advogado
Pra tentar lhe defender,
Esse fato, na verdade,
Deixou as autoridades
Sem saber o que fazer.
Foi pedido um parecer
Ao chefe da detenção
Que falou de sua postura
Demonstrando educação
Mesmo estando bem armado,
Quando foi capturado
Não reagiu à prisão.
Mas a sua situação
Já não era mais aquela,
Quando estava na caatinga
Provocou muita sequela,
Causou grande estardalhaço
Na batalha do cangaço
Lá perto de Vila Bela.
Também provocou sequela
Em Alagoas, de fato,
Na cidade de Água Branca
Com roubo e assassinato
Em Serra Grande a ação
Fogo em edificação
E incêndio pelo mato.
Provocava desacato
No lugar onde chegava
Onde havia destruição
Beija Flor presente estava
Em todo tipo de mal,
Morte, lesão corporal,
Seu nome se destacava.
O comandante esperava
Um relatório pedido
Sobre ele ao Major Ferraz
Pelos crimes cometidos
Por Cacheado e o irmão
No bando de Lampião
E estava sendo emitido.
Portanto aquele pedido
Ao chefe da detenção,
Se Beija Flor «bater asas»
Novamente pra o sertão
É dar ao cangaço o comando
E fortalecer o bando
Do temível Lampião.
Naquela situação
Não podiam vacilar
Se estavam perseguindo,
Tentando capturar
O chefe dos cangaceiros,
Se soltassem prisioneiros
Era no seco nadar.
O sensato era esperar
Mantê-lo em reclusão
Não se sabe a data certa
Da sua condenação
Mas Beija Flor foi julgado
Tendo sido condenado
A trinta anos de prisão.
Da casa de detenção
Beija Flor foi transferido
Pra Fernando de Noronha
Aonde ficou detido
Tendo sido trasladado
No navio Corcovado
Com mais noventa bandidos.
Ficando ali esquecido
Do continente isolado
Nunca mais soube notícia
Do seu irmão Cacheado
Que no cangaço ficou,
Não sabia se escapou
Ou se foi assassinado.
Naquela ilha isolado
Era mais um prisioneiro
Perdeu a noção do tempo
Lembrando dos cangaceiros
Só via algum movimento
Quando ia dar depoimento
Na cidade de Salgueiro.
Como este cangaceiro
Que conseguiu se salvar
Muitos foram aprisionados
Até um dia se safar.
Outros não tiveram sorte
E foram encontrando a morte
Até o cangaço acabar.