VINTE E CINCO - UM CANGACEIRO NA JUSTIÇA

O registro no cangaço

Era meio divertido

Pois ninguém lá tinha nome

Todos tinham apelido

Uns ao entrar já traziam

Outros depois conseguiam

Por um fato acontecido.

Foi o caso de um bandido

Perdido na capoeira

Encontrando cangaceiros

Não tremeu nem deu bobeira

Só mostrou disposição,

Foi levado a Lampião

Num dia de Terça feira.

O chefe da cabroeira

Depois de interrogá-lo

Fazer com ele alguns testes

Decide então aceitá-lo

De início no acampamento

Atendendo a chamamento

Ou tratando de cavalo.

Mostrando ser bom vassalo

Até foi bem recebido

Demonstrando confiança,

E por não ter apelido

Por todos era estimado

Por Vinte Cinco chamado

Assim ficou conhecido.

O seu nome adquirido

Lá na pia batismal

Ele mesmo esqueceu

Mas não era essencial

Pois viver no anonimato

Era até bem mais sensato

Pra andar no matagal.

Sua família afinal

Agora era os bandoleiros

Os dois irmãos que o seguia

Como leais companheiros

Vendo o mais velho sair

Não tendo pra onde ir

Se tornaram cangaceiros.

O nome dos companheiros

Um era Atividade

Por ser um sujeito esperto

O outro Velocidade

Por ser veloz no gatilho

Pra correr por entre os trilhos

E invadir propriedade.

Naquela fatalidade

Que vitimou Lampião

Ele tinha ido fazer

Um mandado do patrão

Com os irmãos Atividade

E também Velocidade

Comandados pelo irmão.

Naquela sua missão

Que ele escapou por um triz

Em Lagoa do Bezerro

Tinha ido ver dois fuzis.

Depois disso acontecer

Costumava até dizer:

«No cangaço eu fui feliz!»

Já vinha com os dois fuzis

Tinha o mandado cumprido

Passando em Pão de Açucar

Souberam do acontecido

Quis fugir sem paradeiro

Porém preferiu primeiro

Ficar uns dias escondido.

Estava quase decidido

A novo bando formar

Mas só ele e os dois irmãos,

Onde mais gente encontrar?

E sem haver munição,

Em uma perseguição,

Como ia se safar?

Decidiram procurar

Corisco, o chefe valente

Mas sua mulher Dadá

Era muito prepotente

Mandona e muito arengueira,

«E se nós desse bobeira

Ela montava na gente!»

Os outros sobreviventes

Decidiram se entregar

Na Bahia, em Sergipe

Em tudo quanto é lugar

Talvez assim se entregando

Estivessem se livrando

Da polícia os matar.

Resolvem se separar

Cada um tomou destino

No dia 13 de outubro

Vinte Cinco em desatino

Em Poço Redondo entrou

E a um sargento se entregou

Para não perder o tino.

Doravante seu destino

Tinha perdido as manhas

De lá de Poço Redondo

Foi levado pra Piranhas

E Santana do Ipanema.

Parecia até cinema

Produzindo tais façanhas.

A polícia com suas manhas

Pra nos cabras dar um nó

Andava pra todo canto

Provocando um quiprocó

Até parar suas viárias

Numa penitenciária

Na capital Maceió.

Dentro desse xilindró

Vinte Cinco encontrou

Cobra Verde, Vila Nova

Que da chacina escapou

Maria Jovina, Barreira

Pancada e outra cangaceira

Que também se entregou.

Lá também reencontrou

Peitica e Santa Cruz

E por bom comportamento

Vinte Cinco lá fez jus

A crédito de confiança

E toda perseverança

Que a restauração produz.

Com confiança conduz

Sua recuperação

Obtendo privilégios

Dos agentes de plantão

Tão breve recuperou-se

Que em pouco tempo tornou-se

O chaveiro da prisão.

Porém a situação

De quem era ex-cangaceiro

Não podia ser pior

Porque o mais verdadeiro

É que crime não havia

Mas soltando voltaria

Todos para o tabuleiro.

Recorrendo a um engenheiro

Que estava na prisão

Vinte Cinco lhe pediu

Que fizesse uma petição

Com letras claras e largas

Ao Presidente Vargas

Expondo a situação.

Sendo feita a petição

Vinte Cinco encontrou meios

De falar com uma senhora

Que ali fazia uns recheios

Pediu pr’ela lhe ajudar

E conseguisse botar

A tal carta nos correios.

Foi assim por esses meios

Que a tal carta chegou

Ao Presidente Getúlio

Que um decreto baixou

Libertando os cangaceiros

E de vigias a lixeiros

Todos eles empregou.

Vinte Cinco conquistou

Um emprego de atendente

Faculdade de Direito

Era o seu expediente

Por razões circunstanciais

Lá não poude ficar mais

Mas aceitou bravamente.

Foi trabalhar finalmente

Em uma nova função

No Orfanato São Domingos

Depois Granja Conceição

E como guarda civil

Dezoito anos serviu

Cumprindo sua missão.

Certa vez um pistolão

O chamou pra trabalhar

No TRE de atendente

Não relutou em aceitar

E lá, já bem mais moderno

Passou num concurso interno

Para Técnico Auxiliar.

Hoje ele vive a contar

Todo alegre e prazenteiro

As suas loucas façanhas

Do tempo de bandoleiro

Relatando com prazer

Disse não se arrepender

Da vida de cangaceiro.

Noventa e cinco janeiros

Tinha na ocasião

Da reportagem que versos

Faço hoje a narração

Na época ele e mais três

Vivos que tiveram vez

No grupo de Lampião.

O Vinte Cinco em questão

Nunca o seu nome falou

Por José Alves de Matos

Com este se batizou

Se é vivo ou se já morreu

Sempre em Maceió viveu

Depois que se aposentou.

Em Buique sempre morou

Manoel Dantas o Candeeiro

Aristéia em Paulo Afonso

Também fez seu paradeiro

Dulce se foi pra Campinas

Encerrando sua sinas

Em terreno campineiro.

Do tempo dos cangaceiros

Eu gosto de recordar

Pois faz parte de uma história

Que o tempo teima em apagar

Mas passado é trapo usado,

Sempre tem que ser tirado

Do baú pra não mofar.

O Brasil vivo a estudar

Seus períodos, suas glórias

Quando descubro um passado

Estudarei sua memória

Embora simplificado,

Pra com meus versos rimados

Continuar sua história.

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 07/11/2021
Código do texto: T7380785
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.