BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES
Foi isso há bastante tempo
Num reino muito distante
Uma pequena família
Composta pelo Infante
Sua esposa, a rainha
E uma linda filhinha
De belíssimo semblante.
A filhinha do Infante
Branca de Neve chamada
Tinha a pele tão branquinha
Que parecia coalhada
Lábios vermelhos, fininhos
Os cabelos bem pretinhos
E por todos muito amada.
Mas a sorte malfadada
Veio o reino visitar
Trazendo a morte consigo
Para desestruturar
O lar levando a rainha
Deixando a filha sozinha
Com o rei a se lamentar.
O rei tratou de arranjar
Uma nova companheira
E casou-se com uma jovem
Tão bela quanto a primeira
Para ser sua rainha
Cuidar de sua filhinha
E ter a família inteira.
O rei caiu na besteira
De na outra acreditar
Pensando ser boa gente
Mas era uma bruxa má
Bonita sim, é verdade,
Mas cheia de falsidade,
Só pensava em maltratar.
Costumava conversar
Com o seu mágico espelho
Pois não havia uma amiga
A quem pedisse conselho
Devido a sua falsidade
Em termos de amizade
Estava sempre no vermelho.
Perguntou ao seu espelho
E ele lhe respondeu
Veja a pergunta dela:
«Espelho, espelho meu,
Responda, seja profundo,
Será que existe no mundo
Alguém mais bela que eu?»
O fiel espelho seu
Lhe respondeu sem demora:
«Me perguntas tão sensível
Pois eu respondo na hora:
Nem aqui nem no além,
Não existirá ninguém
Mais bela que a senhora.»
Rainha se desarvora
Fica ainda mais vaidosa
Só cuidando da aparência
Por ser muito orgulhosa
Despreza até a família,
Com o rei e sua filha
Já não queria mais prosa.
Sabe-se bem que a rosa
É linda por natureza
Sendo a rainha das flores
Merece delicadeza:
Mas se lhe falta um carinho
Se defende com os espinhos
Que usa em sua defesa.
Também que toda beleza
Um dia se acabará
Pois o tempo é impiedoso
E tudo transformará
Que assim Deus concedeu.
Foi isso que aconteceu
Com essa rainha má.
Sempre a se vangloriar
De sua beleza infinda
Pensando que era eterna
Mesmo sendo jovem ainda
Enquanto se envaidecia
Branca de Neve crescia
E se tornava mais linda.
Nessa sua ida e vinda
De feiticeira cruel
Mesmo sendo uma rainha
Ao marido era infiel
Esquecia a enteada
Que por todos era amada,
A sua vida era um céu.
Enquanto a esposa infiel
Sem ter com quem conversar
Só tinha o espelho mágico
Para lhe aconselhar
E ele lhe respondia
Sempre o que ela queria
Para não lhe desgostar.
Uma onda de azar
Por sobre o reino desceu
O céu se cobriu de luto
O rei partiu, faleceu
Fica a bruxa feiticeira
E a enteada herdeira
Cumprindo o destino seu.
Logo o papel se inverteu
Entre ela e a enteada
A rainha assume o trono
Faz da menina criada
A coloca no fogão
Lavar prato, limpar chão
Maltrapilha e maltratada.
Branca de Neve criada
Sempre lavando, esfregando
Não reclamava de nada
E o tempo ia passando
Em trapos sempre vestida
Com o trabalho envolvida
Bela moça se formando..
Certo dia conversando
Com o fiel espelho seu
Como sempre ela fazia
A mulher se enfureceu
E seu mundo desabou
Quando a ele perguntou
E o espelho respondeu.
R - Me responde, espelho meu,
Estás fazendo novela?
E - Minha adorável rainha
Longe de mim tal mazela!
Mas por favor me acredita,
Já não és a mais bonita,
Branca de Neve é mais bela...
R - Mas tu não sabes que ela
Vive suja e maltrapilha?
E - Pois é, com esses contrastes
Sua estrela mais brilha;
Mas podes isso mudar
É só mandá-la arrumar
E tratá-la como filha.
A mulher se desvencilha
De tudo quanto é pudor
No outro dia ordena
Ao seu melhor caçador
Mandou que a assassinasse
E o seu coração tirasse
Como prova que a matou.
Então ele a convidou
Para irem passear
E no passeio lhe disse
Que tinha que a matar...
«Mas não vou isso fazer
Porque eu a vi crescer
E a todos respeitar.
Mas tu não podes voltar
Ao castelo novamente
Melhor fugir pela mata
Ficar lá eternamente
Vou ver se resolvo isso
Para sair desse enguiço
E deixar a bruxa contente..»
Ela imediatamente
Abraçou o caçador
E se embrenhou na floresta
Ele uma gazela matou
Tirou o seu coração
E foi cumprir a missão
Que a rainha ordenou.
Ela bem feliz ficou
Tendo a enteada morta
Sería de novo a mais bela
E só isso é o que importa
Sendo a mais maravilhosa
E se era a mais poderosa
Choveria em sua horta.
Voltamos ao que importa
Como foi que aconteceu
Branca de Neve assustada
Na floresta se meteu
E quanto mais se embrenhava
Mais perdida ela ficava
Até que anoiteceu.
De repente apareceu
Uma pequena casinha
Um chalé todo branquinho
Mas era muito baixinha
Teve então que se abaixar
Pra melhor observar
Como era bonitinha.
Toda desarrumadinha
Bagunça pra todo lado
Ela entrou e esforçou-se
Pra deixar tudo arrumado
No andar de cima tinha
Sete bonitas caminhas
Arrumadas lado a lado.
Com o corpo muito cansado
Ela não mais resistiu
Juntou as sete caminhas
E sobre elas dormiu
Depois que adormeceu
Não soube o que aconteceu
Pois nunca mais ela viu.
Enquanto ela dormiu
Em casa havia chegado
Os sete donos da casa
Que ficaram assustados
Com a mudança que tinha
A casa toda limpinha
E tudo bem arrumado..
E aquele corpo deitado
Ocupando suas camas...
Era uma bela menina,
Que bonito panorama
Ficaram muito animados
Como se houvessem encontrado
Alguém que muito se ama.
Enquanto um deles reclama
A menina despertou
E contou-lhes com detalhes
Tudo que ela passou
Sua vida desditosa
Sua madrasta maldosa
E a história do caçador.
Um deles a convidou
Para com eles morar
Ela de pronto aceitou
Pois não tinha onde ficar
De pronto edificaram
Outro quarto e prepararam
Para ela descansar.
Saíam pra descansar
Ela em casa ficava
Varria, arrumava tudo
Até janta preparava
E todo final de dia
Voltavam com alegria
Branca de Neve encontrava.
Enquanto o tempo passava
A bruxa má percebeu
Que algo havia mudado
E pergunta ao espelho seu:
- Me responda num segundo,
Será que existe no mundo
Alguém mais bela que eu?
O espelho respondeu
Temendo retaliações
- Minha rainha perdoe
Por minhas contradições
E a minha resposta ativa:
Branca de Neve está viva
E mora com os sete anões.
Por inúmeras razões
A mulher se revoltou
Por não ser a mais bonita
Também pelo caçador
Que sua ordem traiu
Seu mandado não cumpriu
Seu reinado se abalou.
Em velha se transformou
Preparou uma porção
Envenenou uma maçã
Se embrenhou no sertão
Branca de Neve caçando
Sua casinha encontrando
E pôs em prática a missão.
Chegando com mansidão
Pela porta da cozinha
Chamando viu que estava
Branca de Neve sozinha
«Bela moça que aí está
Dê-me água pra matar
A sede dessa velhinha!»
Uma caneca fresquinha
Branca de Neve lhe deu
De pura água da fonte
A velhinha agradeceu;
«Obrigada, minha irmã,
Receba esta maçã
Por prova do agrado meu.»
A menina recebeu
A maçã envenenada
E na primeira mordida
Caiu no chão desmaiada
Desfaleceu sem demora
E a bruxa foi-se embora
Soltando uma gargalhada.
Na volta a bruxa malvada
Feliz com o desfecho seu
Caiu em um grande abismo
E ali mesmo morreu
Por uma fatalidade
Acabou sua maldade
A ninguém mais ofendeu.
Sabe o que aconteceu
Com a moça desfalecida?
Os animais da floresta
A encontraram sem vida
E aos sete anões avisaram
Todos pra casa voltaram
Chorando sua partida.
A puseram em seguida
Em um caixão de cristal
E ficaram no velório
Preparando o funeral
Quando surgiu no caminho
Vindo do reino vizinho
Um príncipe em belo animal.
Se aproximou do local
E vendo se apaixonou
Pediu para examiná-la
E quando o corpo virou
A maçã envenenada
Em sua garganta alojada
Caiu e ela despertou.
Ali quando a moça olhou
O príncipe ficou gamada
Se despediu dos anões
E seguiu acompanhada
Com seu amor ao seu lado
Para unir os dois reinados
Depois que estiver casada.
Como num conto de fada
Só os bons prevaleceram
Branca de Neve com o príncipe
Muitas graças receberam
Os dois reinados juntaram
Em nome de Deus casaram
E para sempre viveram.