A GATA BORRALHEIRA
Era uma vez uma menina
Bonita por natureza
De porte muito elegante
Andar cheio de leveza
Seu coração era um ninho
De ternura e de carinho
E era filha da nobreza.
Aquela linda princesa
Por nome de Cinderela
Tinha uma mãe amada
Que era o mundinho dela
O pai sempre estava ausente
Porém sua mãe presente
Fazia tudo por ela.
A pequena Cinderela
Tinha até uma criada
Mas o destino cruel
Preparou-lhe uma cilada
Levou sua mãe querida
E ela desprotegida
Se sentiu abandonada.
. Seu pai não cuidava nada
Da vida da sua filha
E sendo ele um fidalgo
Precisava ter família
E se casou novamente
Com uma mulher prepotente
Que já tinha uma quadrilha.
Aquela nova família
Não lhe ajudava em nada
A mulher com duas filhas
Dispensou a empregada
Assumiu todo comando
E provocando desmando
Fez da menina criada.
Cinderela desprezada
Lembrava com amargura
A sua mamãe querida
Que a amava com ternura
E agora, desempregada
Era só uma criada
Vivendo sua desventura.
Numa vida de aventura
Baile, festa, convenção
A madrasta com as filhas
Viviam de diversão
E Cinderela, sozinha
Da despensa pra cozinha
Varrendo, limpando o chão.
Uma ou outra ocasião
Saía com a família
Porque o pai exigia
Participação da filha
Mas ia sem se maquiar
Sem roupa elegante usar
Parecendo uma maltrapilha,
Pra madrasta e suas filhas
Colares, brincos, pulseira
Pra desditosa enteada
Borralho, lixo, sujeira
Em tudo era rejeitada
Pelas algozes tratada
Como Gata Borralheira.
Mesmo com toda canseira
Ela a tudo suportava
Pois era muito bondosa
E a nada revidava
Pois revidar não sabia,
Em tudo que se metia
Sua beleza realçava.
As megeras lhe invejavam
Por serem feias de mais
Se recebiam visitas
De algum jovem rapaz
A nenhum satisfaziam
Mas se Cinderela viam
Não esqueciam jamais.
Porém tudo que Deus faz
É tolice contestar.
Um jovem príncipe do reino
Em idade de casar
Precisava escolher
Aquela que iria ser
Eternamente seu par.
Resolve então convidar
As moças do seu reinado
E promoveria um baile
No grande salão dourado
Do castelo onde seria
Escolhida a que iria
Estar com ele casado.
No reino e outros condados
A notícia se espalhou
Donzelas de toda parte
À festa participou
Na intenção de conquistar
Tentariam agradar
Ao príncipe com quem sonhou.
Essa notícia chegou
Na casa da Cinderela
A madrasta e suas filhas
Também deixaram que ela
Da festa participasse
Mas longe delas ficasse
Pra não provocar novela.
Também vestido pra ela
Não permitiram comprar
As outras, muito elegantes
Para o príncipe conquistar
Roupas de seda, pulseira...
E a Gata Borralheira?
Como chegaria lá?
Os bichinhos do lugar
Amigos da Cinderela
Costuraram com retalhos
Um vestidinho pra ela
E a vestiram de princesa;
Sería da festa, certeza,
A mais bonita donzela.
Porém quando as irmãs dela
A viram linda e vestida
Rasgaram o seu vestido
Deixando-a semi-despida
Num gesto vil desumano
E concretizando o plano
Saíram sem despedida.
Chorando descomedida
Pelo que aconteceu
Sentou-se frente à lareira
Quando lhe apareceu
Uma senhora bondosa
E vendo a moça chorosa
Seu pranto lhe comoveu.
Essa que apareceu
Assim sem se esperar
Era sua fada madrinha
Que vinha lhe ajudar
Se aproximou da lareira
Disse: - Gata Borralheira,
Por que estás a chorar?
Tu não devias estar
Com as tuas companheiras?
Disse a moça: - Elas não são
Amigas, são traiçoeiras
Disseram que eu não podia
Ir porque eu só servia
Pra ser Gata Borralheira.
- Tu vais de qualquer maneira
- Responde a fada madrinha -
Vá até ali na horta
Traga uma abóbora cheinha
E o resto deixe comigo;
Vou lhe tirar do castigo
Pois essa tarefa é minha.
Sou tua fada madrinha
Em mim podes confiar;
Transformou logo a abóbora
Numa carruagem exemplar
E transformou seis ratinhos
Em seis cavalos branquinhos
Pra carruagem puxar..
Com a varinha a apontar
Para um pequeno barreiro
Transformou um grande rato
Num elegante cocheiro
E pra vestir Cinderela
Da indumentária dela
Fez o vestido primeiro.
O elegante cocheiro
Bem vestido para tal
Para os pés de Cinderela
Sapatinhos de cristal
E antes de dar partida
Sua fada decidida
Deu-lhe o conselho final.
Carruagem, animal,
Voltam a desencantar
Quando bater meia noite
E você tem que voltar
Antes que quebre o encanto;
Volte aqui para o seu canto
Pra ninguém desconfiar
Foi Cinderela chegar
O baile ficou mudado
Virou atração da festa
Deixando tudo intrigado
Com seu porte de princesa;
O príncipe vendo a beleza
Ficou logo apaixonado.
Esquecendo os convidados
A convidou pra dançar
Não se afastou mais dela
Com os outros a lhe invejar
Lhe cobrindo de carinho
A levou para um cantinho
Começaram a namorar.
E haja o tempo a passar
Cinderela se empolgando
Começa a tocar o sino
Meia noite anunciando
Nisso a Gata Borralheira
Em disparada carreira
Deixou o príncipe sonhando.
Quando correu foi deixando
Cair um seu sapatinho
Que o príncipe encontrou
E o guardou com carinho
Porque ia a procurar
E para a dona encontrar
Ele seria o caminho..
Ficou o príncipe sozinho
Em desmedida tristeza
No outro dia o assunto
No palácio era a princesa
Que a todos impressionou
E assim como chegou
Também saiu de surpresa.
Ali, só uma certeza,
O príncipe ia procurar
A dona do sapatinho
Na esperança de encontrar
E quando a encontrasse
Já resolvia o impasse:
Com ela ia se casar.
Continua a procurar
Pela região inteira
E o sapatinho não dava
Em nenhum pé de faceira
Em busca desanimada
Só faltava uma morada:
A da gata borralheira.
A madrasta interesseira
Ao ver o príncipe chegar
Trancafiou Cinderela
Mandou as filhas provar
Mas pra desespero seu
O sapatinho não deu
Para as feiosas calçar.
Antes de se retirar
O príncipe comentou:
Aqui tem outra menina
Que não experimentou.
A madrasta disfarçada
Disse: - É só uma criada
E em nada participou.
Mas o príncipe retrucou:
Não é a sua enteada?
Se é filha do seu marido,
Por que fazê-la criada?
Que fraco seu proceder!
Trate logo de dizer
Onde ela está trancada.
A madrasta envergonhada
Foi buscar a Cinderela
O príncipe a reconheceu
Só pelo sorriso dela
Segurou o seu pezinho
Colocou o sapatinho
Coube direitinho nela.
Já convidou Cinderela
Para com ele casar
Ela de pronto aceitou
E houve festa no lugar
A madrasta por seu posto
Quase morre de desgosto
Com as filhas a chorar.
Tiveram que suportar
O título de Cinderela
Que delas era a criada
E agora mandavam nelas
Cinderela por sua vez
Ainda convidou as três
Pra irem morar com ela.
Nessa historinha bela
O príncipe com sua amada
Foram felizes pra sempre
Sem empecilho de nada.
Essa história não se esquece
Como sempre acontece
Em qualquer conto de fada.