INQUÉRITO POLICIAL EM VERSOS

Lembrança bateu! Lembrei-me do meu tempo de Delegada. Segura, trabalhadora, danada, afoita... mas poeta. Por vezes, quebrava as asperezas do cotidiano, relatando inquéritos em versos. Pelo menos um sorriso, com certeza, era conseguido nas faces do Magistrado. E eu ia levando a vida, ou a vida me levando... A cadeira de rodas nunca foi obstáculo. Poetado, tudo fica melhor. Vejam!

Estado de Goiás

SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÙBLICA

DELEGACIA DE CRIMES DE ACIDENTES DE TRÂNSITO

R E L A T Ó R I O

Autos nº : 0050/00 – 5ª Auditoria

Envolvidos : Luiz das Quantas de Tancredo (Condutor do Chevette – indiciado) e

Maria dos Anzóis Ferreira (Pedestre – vítima de lesões corporais)

Artigo : 129, § 6º do Código Penal Brasileiro

Meritíssimo Juiz:

Versam os presentes autos

De Inquérito Policial

Sobre um acidente de trânsito

Que não foi nada legal

No estacionamento ocorrido

De um shopping da Capital

Shopping Center Flamboyant

Ali no Jardim Goiás

Em 03 do 05 de tal ano

Foi palco para um rapaz

Que estava embriagado

Dirigir sem ser capaz

Luiz das Quantas Tancredo

Como indiciado figura

E Maria dos Anzóis Ferreira

Vítima de grande fratura

E danos em três veículos

Para correção futura

O carro era um chevette

De cor prata sim senhor

Do seu colega Manuel

Que em Luiz confiou

E à direção do veículo

Quase um pedestre matou

Os autos tiveram início

Pela Prisão em Flagrante

Lavrada pelo Distrito

Do rapaz mirabolante

Que perturbou os demais

E ainda foi arrogante

Acelerou o chevette

Nos autos qualificado

Atropelando a Maria

Que a morte deixou de lado

Sofrendo fratura exposta

Como bem confirma o Laudo

Disseram as testemunhas

Esse chevette é danado

Estava meio biruta

Mas foi também amassado

Bateu em outros três carros

Que estavam estacionados

Passou por cima de árvore

Virou a frente para trás

Quis dar “cavalo-de-pau

Fazendo estrago demais

Pondo em risco os transeuntes

Num local que era de paz

Perante a autoridade

Referiu não se lembrar

Dos impropérios que disse

Pra não se deixar domar

Desacatando a PM

Que teve de o algemar

Assim MM. Juiz

Foi o Flagrante lavrado

Pelo Dr. Clarimundo

Colega capacitado

Que arbitrou a fiança

Em moeda do mercado

Da sua vida pregressa

Estado civil – solteiro

Batizado e vacinado

Nesse torrão brasileiro

2º grau na escola

Que dá pra ganhar dinheiro

Mora com os pais adotivos

Socorre a mãe verdadeira

Mas quando toma cerveja

Parece fazer besteira

Foge-lhe a sanidade

Perde mesmo a estribeira

Nesta Especializada

Ouvido em declarações

Afirmou com humildade

Não ter habilitação

Para dirigir veículos

No meio da multidão

Complementando os feitos

Foi ele boletimado

Juntada a identidade

Pois não é habilitado

E o documento do carro

Lá no DETRAN-GO hospedado

Foi feita a liberação

Do veículo apreendido

Porém o Sr. Luiz

Foi bastante advertido

“de que bebida enlouquece

Tornando o homem perdido”

Ainda para instruir

Segue aqui apensado

O laudo pericial

Com tudo bem anotado

A alta velocidade do carro

Em plena manhã de sábado

Assim MM. Juiz

Termino a minha missão

E com um grande respeito

Faço-lhe a conclusão

Por meio de minha escrivã

Que me tem dedicação

DELEGACIA DE CRIMES DE ACIDENTES DE TRÃNSITO, em Goiânia, aos tantos dias do mês fulano de mil novecentos e bolinhas.

Belª. Genaura Maria da Costa Tormin

Delegada de Polícia de 1ª Classe

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 14/11/2007
Reeditado em 14/11/2007
Código do texto: T737365
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