Meu eu desconhecido.
O meu eu desconhecido
Está bem no seu penar
Não nasceu comprometido
Não nasceu pra brigar
Nasceu como um escolhido
Com coragem pra lutar.
É o prato da balança
Que o destino preparou
Sem fortuna e sem herança
E por isso trabalhou
Nas asas da esperança
Pelo espaço caminhou.
Na escolha do destino
Ele foi o contrapeso
Foi assim desde menino
Escondia o seu desejo
Apesar de pouco ensino
Ele é o que eu almejo.
No meu limiar da vida
O progresso interrompeu
O meu caminhar na vida
Que no tempo se perdeu
Depois de interrompida
Meu nascer aconteceu.
No nascer nesse amanhã
Pela mãe ignorado
Escolhi o meu afã
Não fiquei desesperado
Ensinei só coisa sã
Pra não ser subestimado.
Meu viver era acintoso
Percebi logo ao nascer
Cheguei ao mundo nervoso
Não queria mais viver
Meu caminho pedregoso
Me obrigou retroceder.
Quis voltar para o inicio
Quis morrer na madrugada
Quis cair no precipício
Quis voltar a ser um nada
Fiz do meu penar um vicio
Para a sorte ser negada.
No meu Eu estou contigo
Com a força de um gigante
O meu medo é escondido
Quero dar um passo adiante
E assim fico envolvido
Num viver angustiante.
Tenho o dia atormentado
Não consigo ter prazer
Sou poeta fracassado
Sem saber o que escrever
Nada sei do meu passado
O que fiz pra merecer?
Fiz promessa pra saber
O motivo da desordem
Que eu tenho no viver
Sem um dia só de ordem
Tenho um bom proceder
Mas os pensamentos mordem.
Conheci vida mundana
Conheci os vis prazeres
Conheci o que engana
Descobri que há saberes
Não pisei no chão da fama
Mas cumpri os meus deveres.
Fui mulato e fui crioulo
Já fui índio e iletrado
Já fumei fumo de rolo
Já comprei feijão fiado
Sem fermento já fiz bolo
Também fui acreditado.
Na estrada da fazenda
Coloquei a minha marca
Minha história virou lenda
Dizem que eu fiz a barca
Escrevi na minha agenda
O nome de quem embarca.
Isso é lenda simplesmente
Nunca fui um carpinteiro
Eu vivi honestamente
Sempre com pouco dinheiro
Mas o meu inconsciente
Mostra que eu sou ordeiro.
Fiz do meu próprio amanhã
Um tesouro bem guardado
Um baú sem coisa vã
Nele o bem é conservado
Olho o sol pela manhã
Não vejo o dia nublado
Deixei tudo que eu tinha
Explicado em testamento
Para o filho da vizinha
Dei trabalho e alimento
Para a viúva sozinha
Eu também deixei sustento.
Fui da paz um instrumento
Sempre fui contra vingança
Eduquei meu pensamento
Contra o vício da gastança
Vi no meu comportamento
O portal da esperança.