ENGENHO DE CANA DE AÇÚCAR VENEZA

Oh! Meu Pai Bento Carvalho

Mamãe Maria Vitória!

Eu pretendo lhes falar

Uma das lindas histórias

De tudo que nos restou

Com fortíssimo fervor

Nesta brava trajetória.

É sábia, mágica glória

Fatais acontecimentos

Gentil Engenho Veneza

Sempre pautado nos ventos

As famílias vão gostar

Porque nós vamos lembrar

Benéficos movimentos.

Ao cair nos sentimentos

Viver Engenho Veneza

Naquelas manhãs medonhas

Nossos pais, tanta firmeza

Criando todos seus frutos

Sem jamais fazê-los brutos

Educando com grandeza.

Minha mãe tinha certeza

Me mandando para casa

Não sabia genitora

Seu filho com suas asas

Sairia por este mundo

Para não ser vagabundo

Atravessar quentes brasas.

- Chá Preto, tu mim arrasas!

Gritava Dodó Bagaço

Cambiteiro Dorgival

Montava nos seus pinhaços

Geração dum tal Belizo

Com grana vivia liso

No chicote dos melaços.

O meu pai jovem nos braços

Estando como feitor

Admirado por nós todos

Desta forma me contou

Do tal Engenho Veneza

Hoje fala com clareza

Pressões nos atravessou.

O que depressa passou

Merece ser resgatado

Meus pais ficaram felizes

Por este fato contado

Bem feita minha visão

Penetrar no coração

Razões que tenho falado.

Engenho doce passado

Lembranças das minhas boas

Eu vou repassar pros outros

Pra todas estas pessoas

Daquele caldo de cana

Gostoso, cheiro bacana

Dos riachos sem canoas.

Nós, nas melódicas loas

Recordamos bagaceira

Os cambiteiros felizes

Faziam aquela zoeira

Bem conheciam os dramas

Pimentel com suas chamas

Garapas numa caldeira.

No terreiro, brincadeira

Pois, chega Dona Tezinha

Mulher de Zé Pimentel

Intensa, grata ladainha

O meu pai, foi bom bambino

Neste solo nordestino

Do muito que se tinha.

Tão bela, meiga, mãe minha

Cuidava dos meninos

O quarteto só brincando

Tocando todos os sinos

A bagaceira dos planos

Modestos lerdos enganos

Livres dias vespertinos.

Engenho dos bons ensinos

Foi Veneza das saudades

Lembrando reais momentos

Criança, suas verdades

Na cidade de Pilões

Haja luz nos corações

Outrora de liberdades.

Pirralho nas puberdades

Que perambulava nu

Imitando passarinhos

Nas cantatas do nambu

Bois assombrados dali

Burros rinchavam daqui

Brigando com cururu.

No rio tinha pitu

Bem pronto para pescar

Com jereré ou tipóia

Tanto peixe pra pegar

Pescadores tem noção

Na vil hábil aflição

Passam depois cambitar.

Pimentel vem espiar

Nosso pai só reclamando

Achando bonito ver

Fornalha toda queimando

O cheiro de mel gostoso

Tão bendito, saboroso

Nossas narinas soando.

Minha mamãe me chamando

Quase chegava loucura

Meninada num engenho

Prova boa rapadura

Vendo seus trabalhadores

Com todos pestes tremores

Labutando com doçura.

Época de tanajura

Prazeroso formigueiro

As formigas engordando

Naquele pé de coqueiro

Canela dando sopapo

Foi mula de pouco papo

Em estupendos berreiros.

Namorado, lorde burro

Valente, bem elegante

Damião dele gostava

Neste sensível instante

Cambiteiros eram fortes

Lutando dentro das mortes

Topavam ir bem avante.

Em Veneza seus passantes

Chegados numa garapa

Com suas canecas longas

Um gole sequer escapa

Houve lá cabra ligeiro

Sorridente, presepeiro

Duvidando tome tapa.

Vestindo vermelha capa

Tomador de tanta cana

Pra beber aproximando

Portanto, toda semana

Engenho Veneza tem

Sujeito seu zé ninguém

Puxa-puxa bem bacana.

Fraco, louco caninana

Do Poço que é Escuro

Localidade bem próxima

As pessoas em apuros

Quando foram pro cruzeiro

Devoção veio primeiro

Rezando por trás do muro.

Pra reviver eu procuro

Pesquisas de morador

Que vai pretender pular

Causando só dissabor

A capela fica triste

O moço morre, desiste

- É ruim! Disse vovô.

Veneza, quem foi gostou

Daquela propriedade

Hoje é recordação

Rastros da sinceridade

O bueiro bem apontado

Porém, também estragado

Na mais pura da verdade.

Reflexo da mocidade

Das viagens nas estradas

Voltei pra rever amigos

Das sementes germinadas

Amizade para mim

São pétalas no jardim

Que renascem encantadas.

Nessas largas caminhadas

Pela metade contei

Implantada minha volta

Junto dela, só passei

Vasculhando tão bom tempo

Do meu fiel passatempo

Onde saudades deixei.

Os meus sonhos contemplei

Gênese familiar

Recordo primogênito

Na bagaceira brincar

Meu mano de mão pequena

Com sua vista serena

Francamente nos mostrar.

Burros querendo rinchar

Tudo nesse baita medo

Piaba pulava só

Nem sei qual mesmo segredo

Do causador duns espantos

Animais quase são santos

Fazem, enfim, tal enredo.

Nunca tarde, talvez cedo

O relógio não girava

Moleque nas redondezas

Então, somente brincava

Não disputava jogada

Sentindo longa jornada

A vida continuava.

Meu senhor administrava

Era feitor de respeito

Os capatazes dão parte

Época sem ter direitos

Pagamento semanal

Nesse ganha-pão normal

Causando grandes efeitos.

Cachaçaria nos eitos

Gente com força bebendo

Todo final de semana

Do dinheiro recebendo

As alegrias são tantas

Nas bocas magras de santas

Certamente merecendo.

Há coisas acontecendo

Com este meu suspensório?

Esquecemos de narrar

Os casos dos consultórios

Contos do velho Bicóia

Que logo criava nóia

Explicando falatórios.

Em virtuais laboratórios

Pintarei com meu pincel

Este tema brasileiro

Escrito neste papel

Fértil Engenho Veneza

Ar da mais simples beleza

Chego fim deste cordel.

BENTO JUNIOR
Enviado por BENTO JUNIOR em 05/09/2021
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