OS PEREGRINOS DO TEMPLO
As peles ensolaradas
Torradas no tempo vã
São peregrinos do templo
Nos restos da terra sã
No suor do povo branco
Assumem seu lado franco
Na rota que é anã
Frágeis ovelhas sem lã
O corpo com a brandura
Argumentam sem palavras
Escrupulosa brancura
Amordaçada na cor
Quem é negro se calou
Não querem a criatura
Esses vícios sem postura
Assumem feições horrendas
São monstros das más espécies
Atentam as oferendas
Deixam largos labirintos
Morrerem com seus instintos
Nos olhos botando vendas
E que nunca lhes ofendas
Quando falam genocídios
Nomenclatura é branda
Levando pros suicídios
Cobrindo com ignorância
Vivendo da má substância
Gargalhando nos subsídios
Defendem infanticídios
Quando não, é corrupção
São cretinos e malignos
No conceito charlatão
Eles sabem quem és tu
Botas sal em cururu
Usurpando maldição
Odeiam a permissão
Fazendo dela ciência
Apelam pros bons infernos
Criam fé da consciência
Podem contaminar rio
Matam os índios no pio
Enfim, são maledicência
Quem sabe ter paciência
Entende todas certezas
Viver preso sem algema
Se ver crescer sem grandezas
Olhos sociais obscuros
As armas todas nos muros
Tiros tocam nas riquezas
Quem apela pras pobrezas
Podem mergulhar nos mares
Buscam canhões naufragados
Expondo frente seus pares
As águas que são serenas
Agora são tristes cenas
Regam plantas dos pomares
Encontram-te nos altares
Abraçam sonegadores
Destes que são das equipes
Reservam destruidores
Continência pro poder
Esfolam todo sofrer
Divulgam todos pastores
Muitos bons infratores
Que vivem querendo tetos
Soletram linguagens vis
Desconhecem alfabetos
Negam todas descobertas
Choram quando lhes apertas
Esperado pelos netos
Não buscam os seus afetos
Malditas contradições
Sobram migalhas do vento
Em pedaços das frações
Há faíscas nas estradas
Ela será massacrada
Com as chuvas e trovões
Armadilhas dos rojões
Saciaram os desejos
Tornando sonhos roubados
Nesses monstros dos cortejos
Vivem de luz apagada
Nessa pele metralhada
Nas ruas com realejos
Os bravos são percevejos
Lutam em todos hospícios
Sonegam impostos, sim
Dirigem seus edifícios
O poder dos capitais
Vários destes hospitais
Falam sim pros malefícios
Percorrem em precipícios
Rasgam sinais de certezas
Rezam pecados nos ares
Repetem sons das purezas
São puros porque burlam
Outros também maculam
Algemas das malvadezas
Deus determina belezas
Na mais pura petulância
Divino não é sagrado
Carregando circunstância
Livres jamais pelos seres
Barrando todos viveres
Plantam sementes da ânsia
O capeta tem infância
Deus é bondade nas costas
Argumentos embalados
Fedem fabricando bostas
Diabo que nos aponta
Toda ruindade conta
Mora nessas nossas costas
Filhos de pais sem respostas
Cruzam suas liberdades
Traçam o destino, sim
Discordando crueldades
Planetas brilham nas noites
Capatazes nos açoites
Senhores sociedades
Gases mediocridades
Preparam frágil antena
Berreiros dos ancestrais
Vivem essa tal Helena
Mulheres não dançam sambas
Os corpos sobre caçambas
Botam valsa de Viena
Hóspedes da tal Caiena
Pelejam em todas beiras
Feirantes são contratados
Pra venderem oliveiras
Aviões acima do céu
Religiosos com véu
Documentando parteiras
Irmandades das ribeiras
Sobrevivem dos percalços
Moribundos patriotas
Veneram seus embaraços
Alice foise daqui
Coelhos chegam fingir
O país dos pega laços
Jovens soltando seus passos
No ritmo dos meliantes
Seus atos são contrapontos
Parceiros são mais errantes
Hoje por via dos fatos
Bancos escondem extratos
O terreiro dos amantes
Largam candeeiro de Dantes
Degraus das casas sombrias
Nos detalhes dos escombros
São sangue das agonias
Podridão dos germicidas
Alimentam outras vidas
Bem vindas nas sinfonias
Maestros melancolias
Nos vãos dos sobreviventes
Pensamentos perigosos
Os vinhos com aguardentes
Braços cubanos pedidos
Capitalistas sofridos
E dançarinos contentes
Nascidos incompetentes
Nas portas desses recados
Pegam enxadas bem tortas
E consertam os passados
Picaretas balizadas
Viagens atrapalhadas
Nas cabeças do caçados
Olhando selos quadrados
Percebem noções incertas
Não marcam tempo no peso
Há cálculos nessas retas
Seguem caminhos distantes
Defendem todos amantes
Destravam veias abertas
Precisam tantas alertas
Impondo seu coração
Cantam naqueles banheiros
Lavam viés da canção
Porque seguem os respeitos
Nestes sonhos sem efeitos
Calam vivendo paixão
Para que ter o perdão
Se não vão determinar
Sempre fitando saber
Se contentam pra chamar
Se moldam a cada dia
Perdem luz a poesia
Não deixam chuva passar
Quando precisam calar
Esses fracos pensarão
Se ninguém ousar falar
Nunca trilham ilusão
Seguem adiante tempo
Nem falam do contratempo
Vivem dessa coesão
Racham grana na prisão
Paz aos seus requisitos
Guerreiros avante tortos
Comem todos os detritos
Varrem vitória da lei
Veem na pele de rei
E conclamam os restritos
Segregando graus escritos
Na lógica se mistura
Marília perdeu Dirceu
Tróia se ver com loucura
Nero não pertenceu Roma
Criou liquidez da soma
Por prazer e por doçura
Téspis comeu rapadura
Se viu bem incapaz
Encenou Shakespeare
Na cova dos anormais
Brigou com Jó em Moscou
E foi Dona Pierrô
Destas castas animais
Ultrajes sentimentais
Foram amaldiçoados
Cleópatra vai à guerra
Foi simbora com soldado
Nenhum daqueles armado
Madre Tereza foi lendo
Pensando nos seus amados.