CLUBE DOS AMIGOS
CLUBE DOS AMIGOS
Autor - Flavio Alves
Esquete para teatro, escrito em
sextilhas de cordel. O texto retrata
a homofobia, violência contra a -
mulher, abandono ao idoso e maus
tratos aos animais.
Personagens - Ana - Íris - Juca - Tito.
Cenário - Um banco de uma praça.
IRIS
Olá meu povo querido
Vou logo dizendo meu nome
Eu sou a garota iris
E atendendo meu telefone
Vim a essa reunião
Mais rápida que um ciclone.
JUCA
Já eu me chamo Juca
Estou aqui para dizer
Que através da internet
Vou hoje aqui conhecer
Três amigos adoráveis
Com problemas a resolver.
Problemas todos nós temos
E eu sou a tal da Ana
Um nome fácil demais
Acho que muito bacana
E agradeço a meus pais
Pela escolha soberana.
Cada um tem um problema
Não fácil de resolver
Porque depende do povo
De mim e também você
Eu sou o Tito falado
Prazer e muito prazer.
ÍRIS
É bom sempre é ter cuidado
Que a internet é um perigo
Com gente falsa e maldosa
Se fazendo um bom amigo
Tentando mesmo é te enganar
Mas não passa de um bandido.
JUCA
Ainda bem que nosso grupo
Tem somente quatro pessoas
Com reuniões pra começar
E terminar numa boa
Respeitando sempre o horário
Pra não ficar uma coisa a toa.
ANA
Estudamos e trabalhamos
Aqui na mesma cidade
Não temos um outro grupo
E nos reunimos à tarde
Na segunda, quarta e sexta
E sempre com boa vontade.
TITO
Estamos sempre focados
Com o mesmo objetivo
É um ajudando o outro
Em quase todos os sentidos
Debatendo alguns problemas
Aqui no Clube dos Amigos.
ÍRIS
No nosso clube dos amigos
Usamos a filantropia
Arrecadamos donativos
Tanto de noite ou de dia
Como, roupas ou alimentos
Pra quem não tem moradia.
JUCA
Pra ajudar não tem idade
E é bom ter compaixão
Se pôr no lugar do outro
Pra servir de reflexão
E o que vamos debater
Na nossa reunião?
ANA
Primeiro muito obrigada
Por eu conhecer os amigos
Não de uma forma virtual
E que não corre perigo
Hoje aqui nesta praça
E o primeiro caso é comigo.
Quero falar de um tio
O nome dele é Carlão
Tenho muita pena dele
E o armário é o seu caixão
Um tipo de gay enrustido
Que tem medo do povão.
Brincou brinquedos de meninos
Na infância e adolescência
Mas queria era uma boneca
A sua maior carência
Mas se brincasse de boneca
Sofria as consequências.
O pai do tio Carlão
Era um militar afamado
Tinha a fama de valentão
E era um tanto afobado
E quando ele dava um grito
Todos ficavam calados.
Dizia ao tio Carlão
Que gay era safadeza
Era falta de cacete
E todos tivessem certeza
Que se tivesse um filho gay
Nunca iria dar moleza.
Dava uma surra do cacete
E não tinha direitos humanos
Que fizesse mudar de ideia
E que não estava nos planos
Acolher um filho marica
Só no planeta urano.
Tio Carlão sempre escutava
Do seu pai essa ladainha
Teve que servir ao exército
Na lata feito sardinha
Imprensado e sufocado
Pra esconder sua vidinha.
Chorava rios de lágrimas
E escondido se maquiava
Botava roupas de menina
E eu sempre o incentivava
Dizia sai daquela casa
E busca outra morada.
Íris o que tu achas?
Como ajudar tio Carlão?
Eu fico de mãos atadas
E não vejo solução
Nossa família é preconceito
E não escuta isso não.
ÍRIS
Se ele quiser sair de casa
E tudo isso for verdade
Eu tenho também um tio gay
Que mora em outra cidade
É só ele dizer que sim
Pra ir em busca da felicidade.
É só ele sair do armário
E tomar uma decisão
Com a família não adianta
E não vai ter solução
É melhor sair de casa
Pra evitar uma confusão.
Tio Juninho vai ajudar
Ele faz show numa boate
Ainda tem seu companheiro
Que se chama Malazarte
Que é super carinhoso
E vai fazer a sua parte.
ANA
Obrigada minha amiga
Vou falar pra tio Carlão
Ele tem o seu emprego
E não dar despesa não
Ele vai ficar tão alegre
Que não vai sentir o chão.
TiTO
Parece que já estou vendo
A Cara do pai de Carlão
Os colegas tirando sarro
Com a cara do valentão
Que isso sirva de exemplo
Pra respeitar o cidadão.
Acho muito bem feito
Ser gay não é opção
Falam de forma errada
O certo é orientação
Ninguém pede pra ser gay
Estou certo meu irmão?
JUCA
Muito certo amigo Tito
O melhor é ser feliz
Ele saindo de casa
Corta o mal pela raiz
Vai viver a vida dele
E nunca será infeliz.
Vai logo correndo Ana
O teu tio vai gostar
Depois dessa reunião
Vai com ele te encontrar
Fala sobre o tio de Íris
Que ele alegre ficará.
Mais um problema resolvido
Do tio da Ana o Carlão
E qual o próximo assunto
Da nossa atual reunião?
A vez agora é do Tito
Pode começar meu irmão.
TITO
Agora prestem atenção
Vou expor também o meu
E nem é meu o problema
É de Ritinha e Irineu
Que vive batendo nela
Eu juro por nosso Deus.
Ritinha é uma vizinha
Mas nova que o Irineu
Ela não pode ter filhos
E sofre feito um judeu
O marido culpa a mesma
Querendo um filho seu.
E todo mundo na rua
De noite só ver lamento
Com a mulher apanhando
Parece até um jumento
Ele dá na cara dela
E rasga seus documentos.
Cada surra que ela leva
Um documento é rasgado
Pra ela não arrumar emprego
E ficar de bico calado
Até ela lhe dar um filho
Pra esse amaldiçoado.
Sem falar que o condenado
É um escroto ciumento
Diz que um dia a matará
Se tiver um pensamento
Que ela está o traindo
São as palavras do nojento.
É forçada a fazer sexo
Exigindo da coitada
Fazer várias posições
E sempre ficar calada
Até ele chegar ao fim
Deixando ela arrasada.
Eu vim falar com vocês
Pois me sinto um covarde
Penso em chamar a polícia
Antes que seja tarde
Ela tem medo de agir
E assim fazer alarde.
ÍRIS
Eu nada fazia com ele
Agressão gera agressão
Deixava o medo de lado
E tomava uma solução
Chamava logo a polícia
Pra o levar no camburão.
Tito que estás esperando?
Você pode resolver
Liga logo pra polícia
Nada vai te acontecer
Pode ligar que é segredo
Ou deixa que eu vou fazer.
Quando eu chegar em casa
Pego logo meu celular
Disco logo um, oito zero
E tudo eu vou contar
Sobre esse tal Irineu
Pra ele logo se lascar.
ANA
Acho melhor eu e você
Que não moramos na rua
Ir logo em uma delegacia
Senão isso continua
Denunciamos o desgraçado
E cada uma fica na sua.
ÍRIS
Então Ana, vamos sim
E os meninos também vão
Todos temos compromissos
E a justiça é a razão
Denunciamos o Irineu
Depois dessa reunião.
E agora é a minha vez
É um caso muito sério
É a falta de respeito
Com quase todos os velhos
Não posso ficar calada
Pois isso não é mistério.
Seu Zezinho é um idoso
Tem os seus setenta anos
Acho que é isso mesmo
Bato o olho e não me engano
Mas tá sendo mal tratado
E eu vou traçar um plano.
Ele já é um aposentado
Mas está abandonado
Eu passei na casa dele
E com ele tenho falado
O mesmo tem cinco filhos
E pensam em interna-lo
O mais novo, muito vivo
A muito tempo não o via
Mas ficou logo ligado
E passava noites e dia
Na rua que o pai morava
De olho na aposentadoria.
E o velho dava dinheiro
Como quase todo pai
Mas só havia interesse
Do mais novo e os demais
O velho agora está doente
Abandonado e muito mais.
JUCA
Podemos falar com os filhos
E ver o que está acontecendo
Será que querem interna-lo?
É isso que estão querendo?
Tudo isso é uma injustiça
Vai terminar ele morrendo.
Vamos falar é com os filhos
Pra tomarem uma solução
Colocando uma cuidadora
Com experiência e dedicação
Mas nada de abandona-lo
Que pode até dar em prisão.
ÍRIS
E o dinheiro que ele ganha
Se o filho novo não gastar
Pode ter uma cuidadora
Para com ele ficar
E sendo dessa maneira
O velho pode pagar.
Então mãos á obra
O que estamos esperando?
O caso de seu Zezinho
Já estamos acabando
Socorremos este idoso
E assim continuamos.
JUCA
Mais um caso resolvido
E eu queria muito.mais
Mas agora só tenho um
E quero ficar em paz
Resolvendo este caso
Que envolve animais.
Tem uns caras cachaceiros
Que bebem lá em Fragoso
Tem um muito novinho
Mas também tem um idoso
E quando sobe a cachaça
Eles batem num cachorro.
Que tem o nome de totó
Ele é um cão bem mansinho
E quando ele ver alguém
Vem balançando o rabinho
Então eles pegam o bicho
E judia com o coitadinho.
É um cãozinho abandonado
Só quer comida e mais nada
E se mamãe não fosse alérgica
Eu o levava para casa
E numa péssima brincadeira
O coração quase parava.
Amarraram no rabo dele
Uma bomba de São João
Os cachaceiros sorriam
E rolavam pelo chão
Com o cachorro agoniado
Naquela maior aflição.
Mas rapaz não faça isso!
Essa coisa não se faz
Falei de uma forma séria
Encarando um certo rapaz
Ele olhou pra minha cara
E disse, sai daqui satanás.
Satanás é você mesmo
Deixe de me encarar
Se esse animal morrer
Todos irão me pagar
Mal tratar bichos é crime
E vocês vão se ferrar.
Sai daqui alma sebosa
Um outro bêbado falou
Vai procurar tua turma
E deixa a gente por favor
Agente só tava brincando
E não é da conta do senhor.
Por isso vou denunciar
Todos vocês cachaceiros
Que bebem suas cachaças
E se olhem no espelho
E deixem em paz os animais
Falei certo meus parceiros?
ANA
Juca você está certo
Mas agora vamos encerrar
E em outra reunião
Voltamos a nos encontrar
Mas vamos á delegacia
Que a festa vai começar.