São coisas do meu sertão - Parte 2

Eta! quintura da muluesta

Nesse torrão esquecido

Onde o sor arde na testa

Mas aqui tenho vivido

Entre clamores e festas

Nesse binboque perdido

Te digo sertão fervente

Onde passarim fazem festa

Bem no mei desse ardor

Derramo o suor da testa

Valei-m meu sinhô

Eita! Calor da mulesta

Menino vou te contar

Uma veis tava baquiado

Foi deveras uma tormenta

Vich! maria dava dó

Só cum leite de jumenta

É que fui ficar mió

Há tantos vexames na vida

Que dar tristeza em contar

O povo amargando a partida

Arribando do lugar

Trocando a terra querida

Por um frio de lascar

No meu sertão muito tem

Zé mané, beradeiro e capial

Baba ovo, fogoió e cheleleu

Lelé da cuca e caga pau

Pra todos tiro o chapéu

Tudim são boa e não do mal

Matuto tem cada mania

Que é mesmo de lascar

Segura o saco primeiro

Pra começar a falar

Usa folha de mamoeiro

Quando sai para cagar

Zé gome é cabra ajegado

Quem disse foi as cunhã

Quando cai na buraqueira

Só deixa de mão de meam

Eita! Home lasqueira

Pra dar valor a maça

Lá tinha um sanfoneiro tinhoso

Que quando tocava um festão

Mantinha os bolso rasgado

Pras cunhâ por a mão

Retirar o lenço listrado

E só encontra diversão

Manezim de Arfredo encrontou

Cum uma caboca forgosa

O fogoió tava abrasado

Se encostou na gostosa

Mas na hora do leriado

Fartou na língua a prosa

Sergio Cunha
Enviado por Sergio Cunha em 12/08/2021
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