NAVIO NEGREIRO
Incrivelmente incrível
Tempos de escravidão;
Seres encarcerados,
Navios mortuários.
Pulsos e tornozelos
Grilhetados no ferro;
Dilacerando a carne,
Esmigalhando o espírito.
Negros por negros pegos
Na África natal negra;
Negros por brancos presos
Por fáceis presas que eram.
Aprisionados meses
Bem na beira da praia,
Lá vinham os portugueses
Compra-los por um nada.
Um nevoeiro só
Levava mar adentro;
Vida virava pó,
Esperança sem dó.
Doentes para o mar
Pois cargas imprestáveis;
Mulheres aviltadas
Em porões de terror.
A morte desejada
Mais leve que o sofrer;
Perderam o livre arbítrio,
Simples mercadorias.
Dignidade perdida
Séculos de correntes;
Hoje o negro é presente,
Sangue dos seus senhores.