O Cordel do absurdo
Aristóteles me disse,
Na voz da teologia,
Inda hoje lembro o dia:
Tava eu e Berenice,
A rainha do Egito,
Um jumento, um cabrito,
Um cachorro vira-lata...
Sob um luar cor-de-prata,
Às barbas do infinito.
De repente ouviu-se um grito:
Eureka! Até que enfim
Deu maçã no meu jardim!
Esse fato foi descrito,
E jamais foi contradito
Na história da ciência.
Por rara coincidência,
O meu vizinho, Zenão,
Gritou Eureka! É limão!
E da minha preferência!
E toda a adjacência
Começou gritar Eureka!
Pro cabeludo e o careca,
Não havia divergência.
Bradavam, com eloquência:
Eureka! Até que enfim
Deu limão no meu jardim!
Aristóteles, então,
Pôs cachaça com limão,
E trouxe um copo pra mim.
Arquimedes diz que sim,
Que o fato é verdadeiro.
E ele foi o primeiro
A sair do camarim,
Falando em grego e latim,
Com um tal de Zé Limeira,
Que numa prosa ligeira
Deu a sua opinião,
Aplaudido por Platão
Ao pedir a saideira.
Como era sexta-feira,
Dia de chope e cachaça
Zé Limeira encheu de graça
O bar e a rua inteira.
Cantou, jogou capoeira,
Fez repente de cordel,
E animou o tropel
Com verve mirabolante.
E deste dia em diante
Deu nó em Carlos Gardel.
Fez, pra princesa Isabel,
Uns versinhos de improviso
E para Vagner Tiso,
Uma torre de Babel.
Bebeu vinho moscatel,
Cajuína, sembereba...
Comeu paca, tatu-peba,
Um churraquinho de gato
E até lambeu um prato,
De salmonela e ameba.
Tratou curuba e pereba,
Com folha de cansanção,
Declamou, pra multidão,
Guardados na decoreba,
Uns versos da própria gleba
E outros do Assaré,
Sendo aplaudido de pé
Por Camões e por Neruda
Deixando a plateia muda
De Timon a Canindé.
Por ser um cabra de fé,
Cantou a Ave Maria,
Como nem Gounod faria
Nos templos da santa Sé.
Jogou bola com Pelé
Marcou gol de bicicleta,
E, por ser grande poeta,
Discorreu, em redondilha,
Toda a queda da Bastilha,
Em sua versão completa.
Caminhou, em linha reta,
Depois dum barril de vinho,
Sem conhecer o caminho
Ou a direção correta.
Com seu olhar de esteta,
Transformou em poesia:
A tarde, a noite, o dia,
O pôr do sol, o luar...
O céu, a terra, o mar...
E o vinho da sacristia.
Aristóteles me disse,
Na voz da teologia,
Inda hoje lembro o dia:
Tava eu e Berenice,
A rainha do Egito,
Um jumento, um cabrito,
Um cachorro vira-lata...
Sob um luar cor-de-prata,
Às barbas do infinito.
De repente ouviu-se um grito:
Eureka! Até que enfim
Deu maçã no meu jardim!
Esse fato foi descrito,
E jamais foi contradito
Na história da ciência.
Por rara coincidência,
O meu vizinho, Zenão,
Gritou Eureka! É limão!
E da minha preferência!
E toda a adjacência
Começou gritar Eureka!
Pro cabeludo e o careca,
Não havia divergência.
Bradavam, com eloquência:
Eureka! Até que enfim
Deu limão no meu jardim!
Aristóteles, então,
Pôs cachaça com limão,
E trouxe um copo pra mim.
Arquimedes diz que sim,
Que o fato é verdadeiro.
E ele foi o primeiro
A sair do camarim,
Falando em grego e latim,
Com um tal de Zé Limeira,
Que numa prosa ligeira
Deu a sua opinião,
Aplaudido por Platão
Ao pedir a saideira.
Como era sexta-feira,
Dia de chope e cachaça
Zé Limeira encheu de graça
O bar e a rua inteira.
Cantou, jogou capoeira,
Fez repente de cordel,
E animou o tropel
Com verve mirabolante.
E deste dia em diante
Deu nó em Carlos Gardel.
Fez, pra princesa Isabel,
Uns versinhos de improviso
E para Vagner Tiso,
Uma torre de Babel.
Bebeu vinho moscatel,
Cajuína, sembereba...
Comeu paca, tatu-peba,
Um churraquinho de gato
E até lambeu um prato,
De salmonela e ameba.
Tratou curuba e pereba,
Com folha de cansanção,
Declamou, pra multidão,
Guardados na decoreba,
Uns versos da própria gleba
E outros do Assaré,
Sendo aplaudido de pé
Por Camões e por Neruda
Deixando a plateia muda
De Timon a Canindé.
Por ser um cabra de fé,
Cantou a Ave Maria,
Como nem Gounod faria
Nos templos da santa Sé.
Jogou bola com Pelé
Marcou gol de bicicleta,
E, por ser grande poeta,
Discorreu, em redondilha,
Toda a queda da Bastilha,
Em sua versão completa.
Caminhou, em linha reta,
Depois dum barril de vinho,
Sem conhecer o caminho
Ou a direção correta.
Com seu olhar de esteta,
Transformou em poesia:
A tarde, a noite, o dia,
O pôr do sol, o luar...
O céu, a terra, o mar...
E o vinho da sacristia.