O barão de Timon (versão final)
Um mentiroso alemão
passou pelo Piauí,
e despachou, por aqui,
um bastardo, meio-irmão,
que migrou pro Maranhão
a nado, no Parnaíba,
rio abaixo, rio arriba...
com dez facões e um fuzil
(coronha de pau-brasil)
e as Vassouras de Capiba.
Quem vos conta é o escriba,
o cordelista Herculano,
que ora faz mais um ano,
mais um pentelho na giba.
E antes que alguém proíba
o direito de expressão,
roubo a pena de Azulão,
cego Aderaldo e Limeira,
pra, numa prosa ligeira,
repaginar o Barão:
Numa noite de são João,
sob o luar da floresta,
cabelo cobrindo a testa,
em completa escuridão,
o famoso meio-irmão
do barão da Alemanha
iniciou a façanha,
nas plagas de Teresina,
como a saga determina,
apesar de muito estranha.
Deu-se início uma campanha,
nas águas do "Velho Monge",
quando avistou-se de longe,
uma enorme ariranha:
quinhetos quilos de banha
o rabo, descomunal,
a coluna vertebral
parecia não ter osso,
e nadava, sem esforço,
como as velas de Cabral.
Era em pleno carnaval,
num dia de fevereiro!
E quem avistou primeiro
o enorme animal?
Só podia ser o tal
descendente do barão.
Pra manter a tradição
da mentira inteligente,
retirou uma serpente
da costela de Adão.
E pelo sim, pelo não,
deu um tiro de fuzil
num javali, já senil,
sem força pra reação.
Fez um buraco no chão,
pra sepultar o coitado
e atrevessou, num só nado,
um cardume de piranha,
de olho na ariranha,
que vinha do outro lado.
É fato documentado,
nessa batalha naval.
Zé Limeira deu aval
de contador consagrado,
num cordel já editado:
o tal Cordel Coletivo,
que consegue manter vivo
o etilo do Cordel,
e cumprir o seu papel
de mentor educativo.
Como sempre há um motivo
pra fazer literatura,
vou voltar à criatura,
no momento decisivo,
que o instinto primitivo
de mentiroso falaz
faz um bardo ser capaz,
num ato desesperado,
cagar de pé ou sentado
e não perder o cartaz.
A ariranha voraz,
nadou pra cima do cabra
que disse: abracadabra,
fez uma reza fugaz...
E, em nome de São Tomaz,
São Raimudo, São Tomé...
remessou um cangapé
no rabo da ariranha,
com uma força tamanha,
talvez maior que a fé.
A fera deu marcha à ré,
fez uma cara sentida...
lambéu um pouco a ferida...
ficou de orelha em pé...
começou dançar balé,
rio abaixo, rio a riba...
pediu enfim ao escriba,
que por acaso é poeta:
escreva a versão completa
e mande pra Paraíba.
E antes que alguém exiba
um mandato de prisão
ou conceda extradição...
Ribamar, o velho Riba,
que saiu da pindaíba
e tornou-se advogado,
me disse: -fique calado
sobre o caso ora exposto,
até o fim de agosto,
quando será publicado.
Assim, de bico fechado,
este escriba de araque
caprichando no sotaque
de poeta aposentado,
vai mentindo lado a lado
do bastardo do barão,
até que o filho cão
dê um fim nessa barganha
e convença a ariranha
que o mar já virou sertão.
Por pura imaginação,
vou mudar a tragetória
e dar um fim nessa estória,
como manda a tradição:
Um enorme tubarão
apareceu nesse instante,
com sua boca gigante
e sua fome canina,
e abocanhou na surdina
o verso que segue adiante:
Um tal de Miguel Cervante,
sem o "s", pra dar rima,
escreveu a obra prima
dum cavaleiro errante
(tenho o livro na estante),
o famoso Dom Quixote,
sujeito magro e baixote,
amigo de Sancho Pança,
com quem firmou aliança
fazendo o seguinte mote:
"Quem sabe dançar o Xote
sabe dançar o Baião."
De volta pro tubarão,
sonetando um estrambote,
o safado deu um bote,
comeu o fecho de ouro
a banha, a carne, o couro...
do barão, da ariranha...
Hoje vive na Espanha,
comendo chifre de touro.
Num futuro inda vindouro
vou escrever um romance,
se Deus me der uma chance,
sobre um fenício e um mouro,
um moreno o outro louro,
que viveram na Baía,
escrevendo poesia
feita em tupi -guarani.
Vou parando por aqui,
adeus, até algum dia!
Lembrança para Sofia,
para a princesa Isabel,
pros poetas do Cordel,
para o Manuel Maria
du Bocage e sua cria:
o soneto "Contrição."
Também deixo saudação
aos poetas do Recanto.
Vai um versinho pro santo
e outro vai para o cão.
Sem querer fazer sermão,
pois não é o meu estilo,
enfio isso e aquilo
na "Caverna de Platão",
e, com a pena na mão,
digo em alto e bom som,
que o barão de Timon
foi pro mundo digital...
Hoje escreve, bem ou mal,
no mentiras ponto com.
Um mentiroso alemão
passou pelo Piauí,
e despachou, por aqui,
um bastardo, meio-irmão,
que migrou pro Maranhão
a nado, no Parnaíba,
rio abaixo, rio arriba...
com dez facões e um fuzil
(coronha de pau-brasil)
e as Vassouras de Capiba.
Quem vos conta é o escriba,
o cordelista Herculano,
que ora faz mais um ano,
mais um pentelho na giba.
E antes que alguém proíba
o direito de expressão,
roubo a pena de Azulão,
cego Aderaldo e Limeira,
pra, numa prosa ligeira,
repaginar o Barão:
Numa noite de são João,
sob o luar da floresta,
cabelo cobrindo a testa,
em completa escuridão,
o famoso meio-irmão
do barão da Alemanha
iniciou a façanha,
nas plagas de Teresina,
como a saga determina,
apesar de muito estranha.
Deu-se início uma campanha,
nas águas do "Velho Monge",
quando avistou-se de longe,
uma enorme ariranha:
quinhetos quilos de banha
o rabo, descomunal,
a coluna vertebral
parecia não ter osso,
e nadava, sem esforço,
como as velas de Cabral.
Era em pleno carnaval,
num dia de fevereiro!
E quem avistou primeiro
o enorme animal?
Só podia ser o tal
descendente do barão.
Pra manter a tradição
da mentira inteligente,
retirou uma serpente
da costela de Adão.
E pelo sim, pelo não,
deu um tiro de fuzil
num javali, já senil,
sem força pra reação.
Fez um buraco no chão,
pra sepultar o coitado
e atrevessou, num só nado,
um cardume de piranha,
de olho na ariranha,
que vinha do outro lado.
É fato documentado,
nessa batalha naval.
Zé Limeira deu aval
de contador consagrado,
num cordel já editado:
o tal Cordel Coletivo,
que consegue manter vivo
o etilo do Cordel,
e cumprir o seu papel
de mentor educativo.
Como sempre há um motivo
pra fazer literatura,
vou voltar à criatura,
no momento decisivo,
que o instinto primitivo
de mentiroso falaz
faz um bardo ser capaz,
num ato desesperado,
cagar de pé ou sentado
e não perder o cartaz.
A ariranha voraz,
nadou pra cima do cabra
que disse: abracadabra,
fez uma reza fugaz...
E, em nome de São Tomaz,
São Raimudo, São Tomé...
remessou um cangapé
no rabo da ariranha,
com uma força tamanha,
talvez maior que a fé.
A fera deu marcha à ré,
fez uma cara sentida...
lambéu um pouco a ferida...
ficou de orelha em pé...
começou dançar balé,
rio abaixo, rio a riba...
pediu enfim ao escriba,
que por acaso é poeta:
escreva a versão completa
e mande pra Paraíba.
E antes que alguém exiba
um mandato de prisão
ou conceda extradição...
Ribamar, o velho Riba,
que saiu da pindaíba
e tornou-se advogado,
me disse: -fique calado
sobre o caso ora exposto,
até o fim de agosto,
quando será publicado.
Assim, de bico fechado,
este escriba de araque
caprichando no sotaque
de poeta aposentado,
vai mentindo lado a lado
do bastardo do barão,
até que o filho cão
dê um fim nessa barganha
e convença a ariranha
que o mar já virou sertão.
Por pura imaginação,
vou mudar a tragetória
e dar um fim nessa estória,
como manda a tradição:
Um enorme tubarão
apareceu nesse instante,
com sua boca gigante
e sua fome canina,
e abocanhou na surdina
o verso que segue adiante:
Um tal de Miguel Cervante,
sem o "s", pra dar rima,
escreveu a obra prima
dum cavaleiro errante
(tenho o livro na estante),
o famoso Dom Quixote,
sujeito magro e baixote,
amigo de Sancho Pança,
com quem firmou aliança
fazendo o seguinte mote:
"Quem sabe dançar o Xote
sabe dançar o Baião."
De volta pro tubarão,
sonetando um estrambote,
o safado deu um bote,
comeu o fecho de ouro
a banha, a carne, o couro...
do barão, da ariranha...
Hoje vive na Espanha,
comendo chifre de touro.
Num futuro inda vindouro
vou escrever um romance,
se Deus me der uma chance,
sobre um fenício e um mouro,
um moreno o outro louro,
que viveram na Baía,
escrevendo poesia
feita em tupi -guarani.
Vou parando por aqui,
adeus, até algum dia!
Lembrança para Sofia,
para a princesa Isabel,
pros poetas do Cordel,
para o Manuel Maria
du Bocage e sua cria:
o soneto "Contrição."
Também deixo saudação
aos poetas do Recanto.
Vai um versinho pro santo
e outro vai para o cão.
Sem querer fazer sermão,
pois não é o meu estilo,
enfio isso e aquilo
na "Caverna de Platão",
e, com a pena na mão,
digo em alto e bom som,
que o barão de Timon
foi pro mundo digital...
Hoje escreve, bem ou mal,
no mentiras ponto com.