Era uma vez...
Todo conto interessante
começa: Era uma vez...
Pois vou contar o que fez
lá no inferno de Dante
um famoso meliante
um tal de "Pequí Roído",
que viveu e foi parido
em Codó, no Maranhão,
vendeu a alma pro cão,
que lhe deu este apelido.
Era uma vez um bandido,
cabra metido a valente,
que punha medo na gente
fosse de calça ou vestido.
Dizem que era temido
até mesmo no inferno.
Roubou o leite materno
do irmãozinho pequeno
e deu pra ele um veneno
conzido no fogo eterno.
Herdou, do lado paterno,
uma lanterna vermelha,
um defeito na orelha,
um paletó e um terno.
No finzinho do inverno
dos idos de vinte e dois,
talvez um pouco depois,
deu início a sua estória,
e alguém guardou na memória,
pra dar o nome aos bois:
Acácio Pereira Costa,
"Bandido da Luz Vermelha,
fez tudo o que deu na telha,
do jeito que o diabo gosta.
Cagava e comia a bosta,
pra escapar dum meganha,
corria vale e montanha,
mata fechada e caatinga,
e ainda bebia pinga
água de coco e chapanha.
Tinha pernas de aranha,
pra escalar paredão;
o faro de Lampião
e também, a artimanha.
Apesar da voz ser fanha,
não demonstrava fraqueza.
Mantinha a lanterna acesa
nos olhos do inimigo
e a faca no pé d'umbigo
pra morte lhe dar certeza.
Um vez, em Fortaleza,
robou o Banco Central
e fugiu da capital,
pra curtir a natureza,
pois ele tinha certeza
que ninguém o acharia,
fosse de noite ou de dia,
no campo ou na cidade.
Foi avançando a idade,
chegou aos cinquenta e cinco,
trabalhando com afinco
pela criminalidade.
Até, que uma bela tarde,
teve um final merecido:
uma bala no ouvido
atirada sem alarde,
que até hoje inda arde
no cano da carabina,
deu fim a verve assassina
do cabra da luz vermelha.
Só sobrou meia orelha
e os cabelos da narina.
Pra não sair da rotina
do cordelista moderno,
Dante o levou pro inferno,
à luz duma lamparina.
Fez exame de urina,
hemograma, glicemia...
tirou-lhe a fotografia,
ofereceu-lhe álcool-gel...
e deu um fim pro cordel,
que nem o diabo previa.
E escreveu à revelia
das regras gramaticais,
ora menos, ora mais,
seus erros de ortografia
foram dando à poesia
um feitio singular:
tudo fora do lugar,
a oração sem sujeito,
e até o verso perfeito
tinha uma rima vulgar.
Só Herculano Alencar,
cabra metido a poeta,
que faz gol de bicicleta
quase parando no ar,
pode enfim testemunhar
e encontar a resposta,
para a razão suposta
do mal que o bandido fez,
e contar: Era uma vez...
Acácio Pereira Costa.
Todo conto interessante
começa: Era uma vez...
Pois vou contar o que fez
lá no inferno de Dante
um famoso meliante
um tal de "Pequí Roído",
que viveu e foi parido
em Codó, no Maranhão,
vendeu a alma pro cão,
que lhe deu este apelido.
Era uma vez um bandido,
cabra metido a valente,
que punha medo na gente
fosse de calça ou vestido.
Dizem que era temido
até mesmo no inferno.
Roubou o leite materno
do irmãozinho pequeno
e deu pra ele um veneno
conzido no fogo eterno.
Herdou, do lado paterno,
uma lanterna vermelha,
um defeito na orelha,
um paletó e um terno.
No finzinho do inverno
dos idos de vinte e dois,
talvez um pouco depois,
deu início a sua estória,
e alguém guardou na memória,
pra dar o nome aos bois:
Acácio Pereira Costa,
"Bandido da Luz Vermelha,
fez tudo o que deu na telha,
do jeito que o diabo gosta.
Cagava e comia a bosta,
pra escapar dum meganha,
corria vale e montanha,
mata fechada e caatinga,
e ainda bebia pinga
água de coco e chapanha.
Tinha pernas de aranha,
pra escalar paredão;
o faro de Lampião
e também, a artimanha.
Apesar da voz ser fanha,
não demonstrava fraqueza.
Mantinha a lanterna acesa
nos olhos do inimigo
e a faca no pé d'umbigo
pra morte lhe dar certeza.
Um vez, em Fortaleza,
robou o Banco Central
e fugiu da capital,
pra curtir a natureza,
pois ele tinha certeza
que ninguém o acharia,
fosse de noite ou de dia,
no campo ou na cidade.
Foi avançando a idade,
chegou aos cinquenta e cinco,
trabalhando com afinco
pela criminalidade.
Até, que uma bela tarde,
teve um final merecido:
uma bala no ouvido
atirada sem alarde,
que até hoje inda arde
no cano da carabina,
deu fim a verve assassina
do cabra da luz vermelha.
Só sobrou meia orelha
e os cabelos da narina.
Pra não sair da rotina
do cordelista moderno,
Dante o levou pro inferno,
à luz duma lamparina.
Fez exame de urina,
hemograma, glicemia...
tirou-lhe a fotografia,
ofereceu-lhe álcool-gel...
e deu um fim pro cordel,
que nem o diabo previa.
E escreveu à revelia
das regras gramaticais,
ora menos, ora mais,
seus erros de ortografia
foram dando à poesia
um feitio singular:
tudo fora do lugar,
a oração sem sujeito,
e até o verso perfeito
tinha uma rima vulgar.
Só Herculano Alencar,
cabra metido a poeta,
que faz gol de bicicleta
quase parando no ar,
pode enfim testemunhar
e encontar a resposta,
para a razão suposta
do mal que o bandido fez,
e contar: Era uma vez...
Acácio Pereira Costa.