Todos os dias no bar
Ercílio maia comparecia
Já antes do bar abrir
No amanhecer do dia
Ele já estava esperando
Pela fresta espionando
A garrafa sobre a pia
Meu pai o dono do bar
Molhava o chão e varria
Ele ali tremendo muito
Impaciente me dizia
Isso já perdeu graça
Me sirva logo a cachaça
Me tire dessa agonia
Porém o primeiro gole
Beber ele não conseguia
Tinha que ser ajudado
Seu corpo todo tremia
Alguém sempre o ajudava
Diziam que se tratava
De forte hipoglicemia
Quando o primeiro efeito
Da cachaça aparecia
Ele pegava a cantar
Só música de boemia
Me cortava o coração
Ver aquela situação
O quanto que ele sofria
Sua canção preferida
Garçom tu olhas no espelho
A dama de vermelho
Que vai se levantar
Note que até a orquestra
Fica toda em festa
Quando ela sai para dançar
Essa dama a me pertenceu
Maso culpado foi eu
da separação
Hoje eu choro de ciume
o ciume do perfume
Que ela deixa no salão
Essa música era seu tema
Naquela vida sofrida
Era um homem muito culto
Sabia muito da vida
Mas era frágil no amor
E não suportando a dor
Se afundava na bebida
Com quatro filhos pequenos
Teve seu maior castigo
Viu ela nos braços de outro
Que por sinal era um amigo
Hoje sofre e reclama
vive dormindo na lama
Pior até que um mendigo
Reclamava de sua esposa
E na bebida se afundou
Sua vingança era a bebida
Em farrapo se transformou
Nessa vida continuava
Cada vez mais se afundava
No poço que ela cavou
Era bem aposentado
Bom salário recebia
Mas pela força de lei
Com sua Ex dividia
E se não fosse o bastante
Ainda com seu amante
Os seus bens ela vendia
Com os cachorros dormia
Na casa de chão batido
Junto ao fogo de chão
Amanhecia aturdido
Voltava aquela rotina
Era essa a sua sina
Uma vida sem sentido
Em suas roupas se via
A pulgas a percorrer
Como em cão sarnento
Me dói ter que descrever
Falava da triste vida
Saudade da prole querida
Que já não pode mais ver
Morreu os setenta anos
Sem jamais ter vivido
A uma vida de humilhação
Ele fora submetido
Uma verdade nua e crua
Não virou nome de rua
Morreu só e esquecido