ODE À BEATA MARIA DE ARAÚJO DO JUAZEIRO
ODE À BEATA MARIA DE ARAÚJO...
Da Maria de Araújo
Quis triste sina contar
E o mal não sobrepujo
Grande foi o seu penar
Deram-lhe destino sujo
Sem ninguém a defensar.
Mulher,Negra, pobre, analfabeta
Padim Ciço a acolheu
A santidade era a meta
Dela em tudo que viveu
Levou vida santa e reta
Até o que aconteceu.
Na hora da comunhão
A hóstia em sangue virava
Foi grande a comoção
De quem isso observava
Do Padim Ciço era a mão
Que a hóstia lhe ministrava.
Encheram logo o boato
Por todo o sertão dali
Se espalhou este fato
Muito além do Cariri
Como um milagre nato
Que acontecia ali.
Juazeiro encheu de gente
Para este milagre ver
O povo simples e crente
Viu com emoção de quem crê
O sangue descia quente
Muitos viram ocorrer.
O boato se espalhando
As multidões a crescer
Iam centenas chegando
Pois todos queriam ver
Mas foi a sorte mudando
Até o Bispo saber.
O Bispo de Fortaleza
Ficou bem contrariado
Disse que era surpresa
Não tinham comunicado
Uma comissão, com certeza
Mandou julgar o apurado.
Médicos e padres também
A tudo observaram
Julgaram como convém
Explicação não acharam
E concluíram, por bem
Ser milagre comprovado.
O bispo não aceitou
Ficou mais irado ainda
Outra comissão formou
Dizendo: Vá e rescinda
O que a primeira julgou
Assim o "embuste" finda.
A beata sofreu demais
Chegou até a apanhar
Mas manteve sua paz
Pois não podia negar
O que viveu e jamais
Iria objurar.
Até seu véu arrancaram
Interrogatórios desumanos
E muito a humilharam
Agiram como tiranos
Do Juazeiro a levaram
Pra estes atos insanos.
A trancaram numa cela
De um convento, sozinha
Disseram: " É mentira dela
Uma fanática negrinha".
Ninguém pôde ser por ela
Teve uma sorte mesquinha.
Então ao bispo voltaram
Com uma nova conclusão
Todo fato renegaram
E ele satisfeito, então
Suas iras se voltaram
Ao Padim Ciço Romão.
Mandou o padre negar
Tudo o que aconteceu
Por ele não concordar
Suas ordens suspendeu
E foi grande o seu penar
Até depois que morreu.
A beata prisioneira
Morreu de desgosto e dor
Sua hora derradeira
Foi só com Nosso Senhor
Mas foi fiel e certeira
Do milagre do Senhor.
E assim foi sepultada
Na entrada Duma igreja
Depois de eras passadas
Continuaram a peleja
Arrancaram as ossadas
Ninguém sabe onde esteja.
Sua memória quiseram
A todo custo apagar
Os poderosos imperam
Neste mundo a governar
Mas os que em Deus esperam
No céu já tem um lugar.
Eu quis assim versejar
Muito alinhavadamente
E da Beata contar
O seu martírio inclemente
Sua memória exaltar
Ela é santa, certamente.
Thomas Saldanha
Natal, 06/05/2021