Colarinho Branco
O senhor que é candidato
Não vê que aqui, neste mato,
Mora o pobre coitado?
Pegue a mala e venha aqui,
Conhecer o Piauí
Pelo chefe abandonado.
Por aqui nos falta tudo,
Não tem nada pra ninguém
E o chefe nem um vintém
Nem na terra, nem no estudo
Investe. E tudo barbudo
Ficam as crianças pequenas
A sofrerem duras penas,
Buscando um pouco de pão
E o senhor não tem ação
Ao ver tão terríveis cenas...
A mulher vai ao postinho
Não tem médico ou remédio
Volta com o rosto tristinho
Cheio de dor e de tédio.
Menino não vai à escola,
Porque falta professor
E na enxada se consola
-É o seu único valor!
A lei também anda lenta.
Todo dia há um crime...
Ninguém faz nada nem tenta
E o povo é quem se oprime.
O lutador deixa a terra
E se vai pra capital
Vai como quem vai pra guerra,
Deixando o solo natal.
A senhora fica só
Com os filhos sem ter janta
Cada um deles sente um nó
Espichado na garganta.
E o senhor bem de gravata
Acha tudo isso normal...
Nossa gente está sofrendo
E passando muito mal
Sem ter a quem recorrer
E se o faz, tudo é banal!
Sou de peito nordestino
Com vontade de viver,
Ainda sem ter prazer
E passando por cretino.
Eu, desde que era menino,
Luto para defender
Este povo do sofrer
Pelo mundo, peregrino...
Se o senhor me desafia,
Eu não temo a luz do dia
E nadinha me inquieta,
Se sua caneta alarma,
Comigo é bem maior a arma
Porque também sou um poeta.
Eduardo Persa