ERA PRÁ SER PIADA

ERA PRÁ SER PIADA

J.B.Xavier

Quando fiz este cordel

Eu queria dar risada

E tornar em brincadeira

A água oxigenada

Que em Minas Gerais um cartel

De safados de algibeira

Colocou no leite tanto

Que na crise avacalhada

Ao invés da vaca-louca

Temos é vaca aloirada.

Eu queria ironizar

E botar em poesia

Tudo o que o povo sentia

Ao ver o leite gorar.

Queria me divertir

E fazer você sentir

Que vive neste funil

De oportunistas safados

Que alguns chamam de Brasil.

Eu queria dar risada

Por ver a data trocada

Do queijo na mercearia

E saber que nós, os bobos

Caímos nas garras dos lobos,

Que temos o merecido

Pelo voto que fizemos

Lá nas urnas do passado.

Agora, vamos calados,

Comer o queijo vencido.

Eu pretendia dizer

Que a água oxigenada

Que colocaram no leite

Pra nosso próprio deleite

Vai servir na culinária

- Pelo menos é uma tese-

Pois virá pronto na caixa

Um creme de maionese!

Queria mostrar aos leitores

Os corrompidos fiscais

Do SIF deste governo

Assinando mais e mais

A papelada sinistra

Que autoriza o desonesto

A ganhar mais 10%

- na verdade uma merreca -

Com o leite fedorento

Enquanto bebemos meleca!

Eu queria só mostrar

Pra todos a liberdade

Que temos cá no Brasil.

Cá se pode praticar

A maior barbaridade!

Tudo é democracia

Neste país varonil.

Cá todos somos felizes,

No país da derrocada.

Cá nós não temos raízes,

Nem há leis pra quase nada!

Eu queria convidar

O leitor rapidamente

A por momentos entrar

Na pele do policial.

Dar tiros, morrer, matar,

E perseguir, e prender

E a família proteger

Dos bandidos que prendeu.

Sim, o que mais o revolta

É saber que ele o prende

E um “habeas corpus” o solta.

Eu queria só mostrar

Que o Estado de Direito

Que Lula diz governar

É um estado já morto.

Tanto é que uma das casas

Oficiais do governo

Chama-se “Granja do Torto”.

Mas lentamente o cordel

Que era pra ser de alegria

Foi ficando acinzentado

Pela tristeza tomado

Do país que foi um dia

Um belo “país do futuro”

Pelo qual trabalhei duro

Na esperança deste dia.

Então vejo que não há

Ninguém que escape ileso

Da insana corrupção.

Também vejo que ninguém

Nesta doente nação

Por mais corrupto que seja

Que por ela esteja preso.

Tem padres bancando os santos

Mas que abusam de crianças

Empresários cafajestes,

Tem políticos safados,

Enfim, são tantos e tantos

Em foros privilegiados,

Que de empresários a padres

Não se vê um só, só um!

Que esteja atrás das grades!

E de cada geração

De safados que viceja

Nasce outra mais potente

E inda mais sem coração!

A cada leva de loucos

Que este país habite

Encontrará a seguinte

Que em tudo também a imite.

De crime em crime avançado

Assim vai se esvanecendo

Nosso senso de limite!

Lentamente meu sorriso

Foi minguando e se extinguindo

E o coração foi sentindo

Uma mágoa enorme e triste

Por saber que ainda existe

Gente com tal vilania

Que ao mundo nada lhe soma

Gente pior do que bestas

Falando o meu idioma!

No entanto sou um otimista

Há meio século que existo

Mais uns anos de lambuja.

Durante esse tempo todo

Trabalho, creio e persisto

Que um dia esse meu país

Inda vai sair do lodo!

Mas aí exageraram

Soda cáustica botaram

No leite que o bebê toma!

Aí não dá mais pra rir.

Não é divertido assistir

Um bebê que entre em coma!

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 05/11/2007
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