AUTO CORDEL BIOGRÁFICO
Bento Carvalho de Lima
Se completando com Filho
É meu nome de batismo
Pisando forte no trilho
Nasci de Bento e Maria
Que me apontaram o brilho.
Nada me faz empecilho
Eu sou alegre nordestino
Que foi escrever poesia
E brincou quando menino
Carrego nas entre linhas
O atestado do destino.
Sou com honra bom latino
Neste solo brasileiro
América, o Continente
Teatrólogo e festeiro
Pseudônimo Bento Júnior
Professor e companheiro.
Luto pra ser verdadeiro
Em primar pela verdade
Herdei destes meus Carvalhos
Viver em sociedade
Adepto de nostalgia
Pisciano de saudade.
Visto sonho e liberdade
Reflexos de sentimento
Naquele dia 28
Me transformei num rebento
O mês era fevereiro
Foram me chamando Bento.
A década estive atento
A tão falada 60
Este ano foi 61
Antecedendo a tormenta
Cidade João Pessoa
Se abriu toda placenta.
Este Ser que se apresenta
Nasceu no frevo Capiba
Nesta Cândida da Vargas
Na querida Paraíba
Lugar pra ter tanto Zé
Zé de baixo, Zé de Riba.
Admiro um pé macaíba
Linda planta do Nordeste
Sou gente que não se cansa
Em tudo fazer seu teste
Tenho o Mestre Seu Ariano
Amado cabra da peste.
Lá, pras bandas do Sudeste
Nós somos envolvimento
O sangue de nossas veias
Tem logo o consentimento
Sambar e tocar baião
Que tem desenvolvimento.
Vida é experimento
Com minha avó eu me criei
Sá Lica com seu baú
Tanta cultura avistei
Nas cartas para Ascendino
E nos cordéis deliciei.
Com avós tempos passei
Cavalo de pau da infância
Pés de café pelo sítio
Tinha bastante importância
Tantas histórias vivi
Sem ódio, sem arrogância.
Na labuta da ignorância
Fui bem tarde estudar
No Grupo João Vinagre
No Bairro do Miramar
A Zuleide, a professora
Uma dama no ensinar.
Depois fui inaugurar
Castelo Branco de Fé
Naquele espaço escolar
Meu lindo Tamandaré
Passei a jogar tanta bola
Com o vizinho Pelé.
O botafoguense olé
Me ensinando futebol
Polivalente nas folgas
No recreio haja suor
Que pingava no meu rosto
Naquelas tardes de sol.
Nas costas levei cipó
Minha mãe me procurando
Eu solto bem nas peladas
Devia está estudando
Meu pai chegando à noite
Ela mesma contornando.
Depois fui me encontrando
Jogador pé de chinelo
Fui atleta e fui técnico
Famoso Monte Castelo
Campeão daquele bairro
Com padrão azul e amarelo.
Futebol sempre foi belo
Muito jovem se encanta
O teatro vem comigo
Lembrando aquela arte santa
Fiz volta ao meu passado
Ao ouvir avó que canta.
Nada mais, porém, me espanta
Nesses brios da existência
Construir a sua imagem
Com desdém e paciência
Produção cotidiana
Se propondo a inteligência.
É preciso ter ciência
Caminhar e ter coragem
Nilson Condé trabalhou
E fez circo na paisagem
Tantos guris foram ter
Mesmo sendo de passagem.
Circo Sem Pano deu margem
Boca de Forno, na ação
Pelas ruas do Castelo
Na mais pura animação
Entrava em cena este ator
Ensaios da provação.
Há na arte contradição
Precisei compreender
Nascendo conhecimento
Trocando tanto saber
Experiências de vida
Elos se estabelecer.
O tempo faz de você
Um exímio construtor
Dos viés dos contratempos
O verbo vem com valor
Humildade é palavra
No trocadilho do amor.
Vestibular me aprovou
Eis, um universitário
Naquela Educação Artística
Nesse degrau hereditário
Exercer este universo
O Bermuda foi primário:
- Nunca queira ser sectário
Aprenda, seja aprendiz
Movimente seu Campus
Certamente és feliz
Participe dos eventos
Neste Universo me fiz.
Não se enxerga com nariz
O que a vida te oferece
Agradecer quem ajuda
Um somente que merece
Nas trilhas à nossa frente
Esta visão te aborrece.
Gênese sempre acontece
São cinco irmãos e uma irmã
É vício que se aglomera
Em toda virtude sã
Uns constroem suas vidas
Nessa correnteza vã.
Pedaços fruto romã
Então depressa se espalha
Caroços tão diferentes
Nunca é tarde a migalha
A semente que se planta
Nosso fruto jamais falha.
A chuva que cai na calha
São águas indo pro rio
Nessa enchente que chegou
Apaga qualquer pavio
Nós somos os desiguais
A começar no assobio.
Nos dramas deste Brasil
Não é tarde pra partir
O que estou a sofrer, enfim
Como posso evoluir?
Sei que danço até balé
Eu não posso me iludir.
A sextilha vem surgir
Numa roda de capoeira
Melancolia do dia
Naquela grande ribeira
Bem rodeado de artistas
Raça e ginga brasileira.
Ariano, dianteira
Grande Mestre dessa Vida
O criador de bons clássicos
Auto da Compadecida
Fui João Grilo e Severino
Na comédia conhecida.
Dessa forma merecida
Eu jogo então a poesia
Sou cordelista, bem sei
Desta nobre Academia
Este Cordel Brasileiro
Faz enfim minha alegria.