A origem natural dos pecados capitais
A gula tira a comida
Que daria para três
O beija-flor é suspeito
Tava virando freguês
Entupia o mictório
Por isso Papa Gregório
Condenou a criatura
Sem um pingo de ciência
Apelidou com demência:
O terror da agricultura
A Luxúria do macaco
Envergonha a quem não quer
Amedronta o menino
E afronta a mulher
Sem calça com suspensório
Por isso Papa Gregório
Pôs ela na ordem dois
Ele só seguiu a bula
Pôs ela depois da Gula
De tanto comer arroz.
A inveja do cancão
Na lavoura de alguém
Leva o milho pra enterrar
Do roçado muito além
Quer falir o escritório
Por isso Papa Gregório
Pôs a culpa no inocente
Chamou o pobre Cancão
De enteado do Cão
Aliciador de gente
A preguiça tinha nome
O seu nome era 'Aí'
Nessa forma se dizia
O falante de tupi
Esse vício foi notório
Por isso Papa Gregorio
Esbravejou com rudeza
Disse assim ao índio nato
Seu Aí dá carrapato
Dá piolho e dá lerdeza
A ira saiu do mato
Nos dentes de um javali
Que invadiu uma igreja
Na vila de Jatai
Destroçado o oratório
Por isso Papa Gregório
Na fúria desceu o pau
Ordenou que eliminasse
Classificou o impasse
De pecado capital
A soberba teve origem
Na beleza do pavão
Que se acha a última aveia
Incrustada sobre um pão
Isso dá só falatório
Por isso Papa Gregório
Em favor de sua fêmea
Disse assim ao fariseu
Vou lhe condenar ao breu
Por vaidade e por blasfêmia
A origem da avareza
Logo teve o seu motivo
O culpado foi o rato
Que acumula compulsivo
Quer sozinho o refeitório
Por isso Papa Gregório
Amaldiçoou o bicho
De autor da escassez
Por causa da mesquinhez
Acumula até o lixo.