O AMOR E O OBJETO
Por Gecilio Souza
Faço uma interrogação
Em forma de brincadeira
Responda com exatidão
Mas o faça à sua maneira
O que lhe chama atenção
Nesta vida passageira
É o meu pobre coração
Ou a minha rica carteira
Não deixe para depois
Nem diga que ama os dois
Essa resposta é besteira
Amizade interesseira
Própria de aproveitador
Vai deixando na rabeira
Malefícios e muita dor
Cedo ou tarde dá rasteira
Em seu incentivador
Testemunha derradeira
Desta falta de pudor
Quando o bolso fala alto
A vergonha cai no mato
No ninho do roedor
E o que tem mais valor
Diga com sinceridade
O que não custa suor
Ou o suor da amizade
Você quer o meu amor
Ou a minha propriedade
Não faça cara de horror
Porque isto é falsidade
Sem dinheiro a vida é dura
E amar é uma aventura
Que exige dignidade
Duvido que eu lhe agrade
Nessa dupla dimensão
Não vale nada a metade
Da cédula e da emoção
Quer minha honestidade
Ou a senha e meu cartão
Quer algo de qualidade
Ou o que causa impressão
Porque o amor é gratuito
Mas o interesse fortuito
Se nutre da exploração
Qual a sua disposição
De responder com franqueza
Ama a minha formação
Ou ama a minha riqueza
Mas há uma confusão
Por ausência de destreza
Pareço ter boa posição
Porém pobre com certeza
A alma está saciada
Na carteira não tem nada
Somente a dona pobreza
Não se entregue à tristeza
Ela é a pior tranqueira
Revoga a delicadeza
Causa angústia e canseira
Melhor viver com leveza
Uma vida mais maneira
Ser escravo da esperteza
É uma grande bobeira
O bolso seca ou fura
Sobram vazio e amargura
Talvez para a vida inteira
O volume da algibeira
Não é banco nem gaveta
Aquela olhada traiçoeira
Não é admirando a caneta
Quem sabe veja uma beira
Do cheque ou da caderneta
Essa prática é corriqueira
Que esconde atrás da treta
Se a ganância atrofiasse
E a inveja aleijasse
Muitos usariam muleta
G. S