UM AMOR "CAFÉ COM LEITE"
UM AMOR "CAFÉ COM LEITE"
I
Vou lhes contar a história
que não teve bom aceite,
que não me sai da memória
mas findou "água e azeite".
Januário e Mariana,
duas crianças bacanas...
um amor "café com leite" !
I I
Era filho da mucama
o garoto bem ladino
e o seu pai fizera fama
de "capoeira" mofino.
Foi o terror do lugar,
mas o mandaram matar,
mereceu triste destino.
I I I
Nos meandros da fazenda
fôr crescendo o Januário
e seu nome virou lenda
como o melhor operário.
Corta cana em tonelada,
se sai melhor "na invernada"...
do patrão faz milionário !
V
Na lida fica bem forte,
elegante, tale fino,
tinha de um nobre o porte,
como mudou o menino !
Aos olhos de Mariana
cresceu a cada semana,
seu coração "bate o sino" !
V I
Brincavam de "amarelinha"
quando os 2 eram criança...
a menina formosinha
não lhe saiu da lembrança.
Seu corpo fica "em fogo"
e êle aceita "aquele jogo",
tempos de mar de bonança.
V I I
Chega a "fofoca" ao patrão,
que fica demais irado
com a audácia do poltrão,
daquele negro abusado.
A senzala vai chamar,
Mariana a presenciar
a lição ao desgraçado !
V I I I
Sua costa fica em chaga
sob o canto do chicote.
É lição que "não se apaga",
de chacotas virou mote:
"o negro que não se enxerga
se dobra ao sabor da verga,
pra não dar outro pinote" !
I X
Mariana foi reclusa,
nem pra ver o sol saía...
toda visita recusa
definhando a cada dia.
Vai depois para um convento,
vendo o negro -- só lamento --
desgraça que não queria.
X
A menina perdeu brilho
alimentando o desgosto
e o patrão perdeu a filha
no dia 13 de agosto.
Foi Januário ao enterro,
seu coração "em desterro"
e, na boca, amargo gosto.
X I
Nessa noite -- em desespero --
subiu no alto da escada,
a corda com muito esmêro
num galho forte amarrada
e, envolvendo no pescoço,
se jogou sem muito esforço...
e foi o FIM da jornada !
X I I
No Brasil até o Amor
vai seguir a CONVENÇÃO:
pobre e rica, onde fôr,
sofre desaprovação !
Homem simples, mulher nobre,
jovem branca, negro pobre...
me desculpem, não dá, não !
"NATO" AZEVEDO
(8/mar. 2021, 5hs)