O EVANGELHO DO DIABO
Por Gecilio Souza
Não há doutrina sem códigos
E nem códigos sem doutrina
Ambos acorrentam a vida
Impondo sua disciplina
Quem os segue cegamente
Pode crer não raciocina
É como automóvel velho
Dependente da oficina
O tal serviçal ordinário
Típico escravo voluntário
Nada sabe e diz que ensina
Em nome da lei divina
Pratica tudo ao contrário
Ao invés de servir a Deus
Segue o seu adversário
Decora textos e versículos
E os grava no imaginário
Sublinha partes do código
Poder de interpretar precário
Este diabinho enrustido
Não se mantém escondido
Um dia sai do armário
Ignora o dicionário
Fala coisas sem sentido
Inventa neologismos
Algo jamais existido
E grita como se Deus
Fosse surdo ou esquecido
Repete mil aleluias
Tudo ali é repetido
No vértice da fantasia
Reza o terço todo dia
Mas julga o irmão "perdido"
O diabo agradecido
Lá do inferno envia
Seus bordões aos diabinhos
Que aceitam com alegria
E saem reproduzindo-os
Com fanática histeria
O evangelho diabólico
É uma prática doentia
A mais falsa religião
Porque vai na contramão
Do que Jesus Cristo dizia
Religiosa ideologia
Credo da aberração
Seus fiéis se embaraçam
Na própria contradição
Se declaram mensageiros
Da divina salvação
Vivem com o Senhor na boca
E com a bíblia na mão
Contra o sexo e o aborto
Quer ver o bandido morto
É assim que trata o irmão
O evangelho do cão
Defende mesmo o conforto
Quem não crê deve ser preso
Crente deve ficar solto
Mesmo que seja corrupto
Com alma exalando esgoto
Quando vê um bom partido
Observa com o olho torto
Não resiste ao dinheiro
O suposto milagreiro
Come mais que gafanhoto
O evangelho do capiroto
Faz enriquecer ligeiro
Não quer pegar no pesado
Pregar é bem mais maneiro
Sem querer saber as causas
Discrimina o cachaceiro
Vive longe dos mendigos
Louva a Deus o tempo inteiro
Camufla a própria conduta
Esquece que a prostituta
Entra no reino primeiro
O evangelho do embusteiro
Do tal diabo cicruta
Mente em nome da Verdade
E muita gente lhe escuta
Prega a moral castradora
E desta infâmia desfruta
Viola a ética cristã
De maneira absoluta
Qualquer bobagem é pecado
Porém vive aprisionado
Em pecaminosa disputa
Ao próprio Senhor insulta
Com o mesmo palavreado
O evangelho do diabo
É um troço bagunçado
Prega a mensagem cristã
Enquanto por outro lado
Defende a pena de morte
Que o irmão ande armado
Com seu credo incoerente
Se Jesus vier novamente
Ele será crucificado
Sanguessuga do Estado
Não há nação que aguente
O evangelho do diabo
É rígido e intransigente
Tem pobreza de espírito
E rico materialmente
Não dá almoço a ninguém
Toma o dízimo do carente
Possui uma outra faceta
Seus milagres são mutreta
Combinada previamente
Assassino e delinquente
O evangelho do capeta
Diz uma coisa e faz outra
Só engana gente besta
Fala mal da medicina
Mas defende a escopeta
Seus fiéis fanatizados
Alegres propagam a treta
O próprio diabo atento
Assustado e ciumento
No inferno faz careta
É cutelo e marreta
O diabólico mandamento
Ignora o miserável
Que habita no relento
Se ajuda é com interesse
Em algum mísero rendimento
Vive berrando e gritando
Mas que ritmo barulhento
Bravatas religiosas
Inclinações tendenciosas
Sem lógica e sem fundamento
Barulho e aborrecimento
Pregações até jocosas
As teorias do diabo
São bastante perigosas
Benéficas na aparência
Na essência perniciosas
Revela pessoas loucas
Sem equilíbrio e nervosas
O evangelho do diabo
Oculta o próprio rabo
Nas artimanhas maldosas
G. S.
28/02/2021