UM CEGO EM CANTORIA /
UM CEGO EM CANTORIA
(Carlos Celso Uchoa Cavalcante=20/fev./2021)
Era um poeta cego,
não via a natureza,
mas nele o que era beleza
habitava o seu ego.
Declamava com humildade,
sua eloquência era o amor,
mulher comparava à flor
em sua dignidade.
Com uma viola ao peito;
ao seu lado em parceria
outro poeta, que via
tudo que tinha direito.
Os dois ali recitavam
seus versos aleatórios,
improvisando auditórios
as violas repicavam.
Chamávamos cantoria
a esse embate de rima,
cada qual criava um clima
através da poesia.
Era um belo confronto;
um deles via, o outro não,
mas em cada coração
tinha o seu verso pronto.
As pessoas que assistiam
àqueles dois repentistas,
com nobreza aos artistas
todos de pé aplaudiam.
Poeta sem ter visão,
mas bem provido de amor,
seus versos têm o calor
dos quais emana a emoção.